Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria

Tuesday 9 July 2013

Pela Fé, e Não pelo que se Vê, mas com Razão e Amor.


A vida cristã é vivida pela fé, e não pelo que se vê; e a fé vem, não pelo que se vê, mas pelo ouvir a palavra de Deus (Romanos 10.17). Estamos nos referindo à fé que salva o pecador da ignorância e separação de Deus, assim como de todas as misérias decorrentes de tal ignorância e separação.

Não podemos ver a Deus, somente podemos ver a glória do seu poder na sua obra da Criação, e conhecer a glória do seu amor na sua obra da Redenção. Porém, sem ouvir a palavra de Deus, absolutamente nada podemos conhecer de sua obra redentiva; e até negamos a glória de Deus como o Criador, atribuindo ao puro acaso a indescritível magnitude da natureza e do universo.

Não podemos ver a Deus; mas podemos ouvir a sua voz. Como cantamos em um hino: “nem Adão chegou a vê-lo, antes mesmo de pecar”; porém, a voz de Deus, Adão ouviu; e até o mais odioso pecador também a pode ouvir. A palavra de Deus não tem como objetivo nos desvendar os mistérios da Criação, mas de fato nos livra da cegueira e irracionalidade que ignora Deus como o Criador. O objetivo da palavra de Deus é desvendar ou revelar os mistérios da redenção, ou seja, os mistérios da reconciliação do homem pecador com o Deus santo, os mistérios da nossa passagem da morte para a vida, das trevas para a luz.

O apóstolo Pedro chama a palavra de Deus de a “palavra profética”; pois ela foi comunicada por “homens separados (que) falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”. Esta palavra de Deus, Pedro também chama, no mesmo contexto: a “Escritura” (2 Pedro 1.19-21). Como já afirmamos, o objetivo da palavra de Deus é revelar os mistérios da redenção; portanto, o centro ou objetivo principal da Escritura (a Palavra de Deus) é nos dar o conhecimento do nosso glorioso Redentor, Jesus Cristo (2 Pedro 1.16-18).

Portanto, a nossa vida cristã, isto é, a nossa frutuosa vida de comunhão e relacionamento com Deus, em Cristo Jesus, começa e é mantida pelo ouvir a Palavra de Deus (João 15.1-8).

Falando através de Moisés, Deus proibiu israel de fazer qualquer imagem sua para o culto, lembrando ao povo que este não viu nenhuma aparência de Deus no Monte Sinai, embora tenha ouvido alí a palavra de Deus (Deuteronômio 4.15-19).

Deus “caminhava” com Israel no deserto, mas não era visto (Êxodo 33.12-16). Deus habitou com Israel e era o invisível Onipotente Rei de Israel, antes que houvesse monarquia em Israel (1 Samuel 12.12). Jesus Cristo é o Rei Eterno, embora não tenha vindo com aparência de rei (Mateus 21.4-5); e Ele reina, embora o seu reinado ainda não tenha a aparência ou visibilidade que terá em “Novos Ceus e Nova Terra” (Lucas 17.20).

O Espírito Santo foi derramado em grande plenitude sobre a Igreja da Nova Aliança no dia de Pentecostes; não podemos ver o Espirito Santo, sentir o seu cheiro, nem tocá-lo. Contudo, Ele habita na Igreja e fala a ela, quando as Suas Escrituras (escritas e inspiradas pelo próprio Espírito Santo) são lidas e fielmente explicadas.

Exceto pelo Batismo e Santa Ceia, quando administrados, o verdadeiro culto a Deus dispensa todo e qualquer aparato visual (templos, vestes especiais, imagens, encenações, gravuras e símbolos), porém jamais prescinde ou renuncia a Palavra de Deus, cujo centro é Jesus Cristo.

Servimos e perseveramos em servir a Deus pela fé, isto é, ouvindo e obedecendo a palavra de Deus, e não de acordo com os resultados imediatos que possamos obter ou ver.

O homem quer ver para crer; porém, em se tratando do relacionamento do homem com Deus isto é ofensivo; porque Deus, a única realidade eterna e absoluta, não pode ser visto. O simples fato de existirmos,  e havermos sido criados à imagem e semelhança de Deus, deveria ser suficiente para reconhecermos existência e soberania de Deus.

Entretanto, mesmo os crentes demandam ver para crer, ver quantidade, institucionalidade e celebridade. Muitos dos que se dizem crentes são convencidos pela “quantidade” de seguidores, mesmo quando esta é resultado ou está associada ao desprezo da Palavra de Deus; para estes, a quantidade significa bênção e aprovação de Deus. Outros crentes subordinam sua fé à aprovação social ou à institucionalização estatal; para estes, a aceitação, aclamação e aprovação social ou legal equivalem à expressão da vontade de Deus. Para outros que também se identificam como crentes a “voz de Deus” é a voz das celebridades (seculares ou religiosas), e não as Escrituras Sagradas.

Deus quer atingir o nosso pensamento, lógica e razão. A Palavra de Deus (lida, pregada, e na forma dos dois sacramentos) passa por nossos sentidos, mas o seu alvo é o nosso pensamento, lógica e razão. É em nosso pensamento, lógica e razão que a Palavra de Deus se aloja, habita e frutifica na fé salvadora. O conhecimento supremo do homem é o conhecimento de Deus; o mais nobre exercício do pensamento, da lógica e da razão é o conhecimento dos propósitos de Deus.

A superstição ou crendice convence imediatamente os que valorizam e se contentam com a percepção dos sentidos, especialmente o “ver, para crer”. A fé salvadora prefere a audição, isto é, “o ouvir a Palavra de Deus” como meio, para alcançar e frutificar em nosso pensamento, lógica e razão (Hebreus 4.12).

Portanto, a Palavra de Deus exercita e fortalece nosso nosso pensamento, lógica e razão, recuperando e aperfeiçoando, em nós, a imagem e semelhança de Deus, libertando-nos de uma compreensão limitada pelos sentidos. É especialmente no uso do pensamento, lógica e razão que mais radicalmente nos distanciamos dos animais e somos semelhantes a Deus.

A fé, uma vez gerada pela Palavra de Deus, nos intruduz no relacionamento com Deus. Esta mesma fé, alimentada pela Palavra de Deus, nos mantém neste relacionamento, e impede que dele nos afastemos. Deus não é matéria, mas Espírito; a encarnação do Eterno Filho de Deus (João 1.1-14), não muda a essência do ser divino que é espiritual. Portanto, não podemos perceber a presença do Deus Invisível (1 Timóteo 1.17) pelos sentidos, mas pelo pensamento, lógica e razão; e, para isto, ainda precisamos da Palavra de Deus que tem o poder de gerar e nutrir a fé salvadora.

A fé é oposta à incredulidade, mas também nada tem a haver com a superstição ou credulidade; a fé está relacionada ao pensamento, lógica e razão. Porém, por si mesmos, o pensamento, a lógica e a razão não têm o poder de gerar a fé; a Palavra de Deus tem este poder (1 Pedro 1.23). Portanto, a fé em Cristo, à qual a pregação do Evangelho (Palavra de Deus) nos chama não é oposta à razão, mas se dirige à razão (1 Pedro 3.15)

Os verdadeiros crentes (os que nunca se apostatarão) são gerados pela semente da Palavra de Deus, sob o poder vivificante do Espírito Santo. Estes são habilitados a, no pleno exercício do pensamento, lógica e razão, “ver o (Deus) invisível” (Hebreus 11.27).

Não temos menor vantagem ou privilégio em relação aos contemporâneos de Jesus Cristo que o viram. Ninguém pode ser salvo por simplesmente ver a Jesus Cristo. Ao contrário, ver a Jesus Cristo encarnado, antes de sua glorificação era decepicionante: O profeta Isaías o descreve com a aparência de “uma raiz de uma terra seca; (que) não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nehnuma beleza havia que nos agradace” (Isaías 53.1). Desde o seu nascimento (Lucas 2.7) até a sua, já mencionada, entrada em Jerusalém (Mateus 21.4-5), Jesus Cristo não tinha aparência de um rei. Depois, Jesus foi publicamente crucificado; e naquele exato momento alguém queria ver Jesus descer da cruz, e, escarnecendo, disse: “É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele.” (Mateus 27.42).

Jesus não desceu da cruz, mas alí morreu; porque “precisamente com este propósito” ele viera (João 12.27). “Cristo morreu pelos nossos pecados” (1 Coríntios 15.3). Entretanto, ao terceiro dia Ele ressuscitou, e foi visto por muitos (Coríntios 15.4-8), como a final evidência de que Ele é o Salvador, anunciado pela Palavra de Deus.

Entretanto, até o ver a Jesus Cristo ressurreto, é insuficiente para salvar o pecador. Jesus, em seu diálogo com Tomé, referiu-se à inutilidade da fé que é mera e imediata resposta ao que se vê, dizendo: “Porque me viste creste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20.29). Isto está em pleno acordo com o que Jesus já houvera dito antes: “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5.24).

Somos salvos por ouvir a Palavra de Deus (a qual é sobre sobre Jesus Cristo) quando ela está operando no campo de nosso pensamento, lógica e razão, sob a ação do Espírito Santo (João 16.7-14), e assim, gera em nós a fé salvadora.

A fé salvadora é gerada e alimentada somente pela Palavra de Deus e não por qualquer visão das obras de Deus. Todas as obras de Deus (Criação, providência ordinária e milagres) têm seus próprios méritos e são dignas de todo nosso louvor; porém elas não podem, nem são destinadas a gerar e nutrir a fé. A fé que nos salva é um gracioso dom de Deus, gerado e nutrido pela Palavra de Deus, cujo mensagem central é Jesus Cristo, como o nosso Redentor.

Crer que Deus é o Criador, que Ele nos dá o pão de cada dia e que Ele faz milagres, não é a fé salvadora. A fé salvadora conhece e confessa a Jesus Cristo como o único e completo Salvador, o Eterno Filho de Deus, o único doador da vida eterna aos homens, que se encarnou para oferecer o seu sangue como a propiciação pelos nossos pecados (João 3.16).

Nossa fé em Jesus Cristo não se fundamenta no que vemos, nem se abala em consequência do que não podemos ver. Nossa fé em Jesus Cristo independe de vermos ou não vermos milagres hoje, de sermos pessoalmente ricos e saudáveis, ou pobres e enfermos. A fé salvadora não oscila conforme o número dos que frequentam as igrejas, nem conforme a aprovação social ou legal da igreja, e nem conforme a presença ou ausência de celebridades entre os crentes. Nossa fé vem da poderosa e convincente Palavra de Deus.

Entretanto, esta fé que não é uma resposta imediata dos sentidos (especialmente da visão), e que passando do limite da visão (que é mero meio), no campo do pensamento, lógica e razão produz a fé salvadora, pois sua semente é a própria Palavra de Deus, esta fé finalmente se manifesta em amor, amor a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento (Mateus 22.36-38). A idolatria é uma afeição dos sentidos, o amor a Deus é fruto da fé salvadora, que vem pelo ouvir a Palavra de Deus, que convence o pensamento, lógica e razão, para ocupar todos os espaços e e dilatar o nosso coração através do amor a Deus.

Os “shows de milagres”, os espetáculos musicais e teatrais e a imponência das antigas e modernas catedrais, podem atrair multidões. Contudo, é somente a pura e simples Palavra de Deus, anunciada pelo mais humilde pecador, que tem o poder de gerar e nutrir a salvadora fé em Cristo Jesus.

“Não só de pão o homem viverá, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” (Mateus 4.4)

“... não atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se não vêem são eternas.” (2 Coríntios 4.18)

 “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.” (Mateus 24.35)

 

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