O que é a igreja? Com toda a certeza, não é
simplesmente uma associação de pessoas unidas pela fé comum em Cristo Jesus, é
também uma associação de famílias unidas pela fé comum em Jesus. A igreja é uma
comunidade que ainda tem relações com a presente ordem que passará, mas já
antecipa a vida na ordem que virá. A fundamental diferença da presente ordem em
relação à futura é a ausência do pecado, na que virá. Portanto, entre outras
coisas a igreja se esforça por antecipar esta vida santa, desde já. É portanto,
mais desafiante proceder de forma santa em associações com os que estão fora da
igreja, pela ausência (entre as pessoas envolvidas) de um acordo sobre o dever e
a vontade de agir conforme a santa lei de Deus. Por exemplo, uma festa entre membros
da igreja do Senhor é provavel e desejavelmente mais santa que uma festa entre
membros de qualquer comunidade que não reconheça a autoridade da Palavra de
Deus.
Quando lemos o livro de Atos ou as cartas do Novo
Testamento, percebemos que o foco dos seus autores é a organização da igreja em
seus aspectos esenciais como culto, doutrina, diaconia, disciplina,
evangelização e os oficiais que supevisionam tudo isso. Precisamos considerar a
singular e permanente natureza da igreja, enquanto comunhão ou comunidade, e
também reconhecer que a igreja está vivendo um estado provisório. Algumas
coisas são absolutamente essenciais à igreja por sua natureza, e outras são
urgentes por seu atual estado provisório. Algumas coisas somente a igreja faz,
como o culto, a doutrinação e a evangelização. Em outras atividades, a igreja
não está sozinha, mas outras organizações também realizam; como disciplina, que
a família e o Estado também fazem; o atendimento a necessidades de alimento
roupa e abrigo que várias organizações governamentais não governamentais também
fazem. Socorrer um enfermo é mais ugente do que organizar uma atividade
esportiva, a igreja não pode ignorar isto.
Por estas razões, entendemos que não é característica
esencial e urgente da igreja promover
entretenimento para os seus membros. A igreja (comunidade cristã) deve
estabelecer sabiamente as suas prioridades. Por outro lado, nós somos naturalmente
ativos em promover entretenimento. Mesmo que a igreja nunca se envolva diretamente
na promoção de entretenimento, ele sempre haverá. Ele é parte natural da vida,
é parte da cultura de um povo. Famílias promovem festas de casamento e
aniversário, batismo, formatura, Natal, Ano Novo etc. O entretenimento
geralmente só é ameaçado em face de doença, catástrofes e guerras. Além disso,
o entretenimento se tornou um grande negócio. Por tudo isto, o que não falta é
entretenimento, inclusive bom entretenimento, embora este seja mais raro.
Creio, entretanto, que é função da igreja exortar seus
membros a que guardem a santidade devida ao povo entre o qual Deus habita. Com
certeza, este povo pode se conservar santo comendo e bebendo, cantando e
dançando (Jr 31.1-14). Porém, devemos tomar muito cuidado, pois facilmente
cruzamos o limite da santidade, especialmente fazendo estas coisas.
Parece que a única atividade recreativa que fazia
parte da “agenda oficial” da igreja era uma refeição comunitária, associada ao
culto (At 2.42-47). Creio que uma boa razão para não incluir na “agenda
oficial” outros tipos de recreação como esportes e danças é a facilidade com
que tais atividades entram em choque com o padrão de vida da igreja.
Um dos maiores problemas que enfrentamos hoje é o tipo
de segregação por faixas etárias, que parece ter se estabelecido definitivamente
na sociedade. A família definitivamente perdeu seu valor na sociedade secular;
e, a julgar pelo que vemos, poderá vir a ser até algo completamente odiado. A
igreja está vagarosamente absorvendo esta tendência. Ela já está bem segregada
por faixas etárias. Antes somente os jovens formavam um grupo à parte, depois
vieram as turmas de adolescentes, e agora já se vê também uma turma de pré-adolescentes
que, até durante os cultos, ocupam setores distintos no templo.
Um dos mais importantes efeitos desta segregação é o
distancianmento entre pais e filhos; e quando os filhos se divertem separados
de seus pais, seus riscos de danos físicos, piscológicos, morais e espirituais
aumentam; o que é verdade não somente para as crianças, mas para os
adolescentes e jovens também.
Infelizmente, por diversos fatores, o papel e o devido
respeito aos pais como os primeiros educadores estão cada vez mais
desvalorizados, inclusive na igreja. Os jovens são excessivamente autônomos e
não valorizam nem a experiência de seus pais. Mas, o professor liberal é
idolatrado.
O atual perverso e predominante modelo social que está
dominando as nações não tem qualquer interesse na preservação e fortalecimento
da família tradicional, pai e mãe csados e seus filhos. Este novo modelo quer
eliminar a figura do pai e da mãe, porque ele quer o domínio direto das
crianças e jovens. A igreja não pode permitir este enfraquecimento da família.
A igreja não pode perder esta parceira instituída por Deus na criação.
Este modelo segregador por idade é fatal, porque ele
enfraquece as famílias, enquanto fortalece os mais variados bandos. Quem não
sabe que as atividades familiares, que agregam adultos jovens e crianças, são mais
seguras em todos os sentidos, especialmente em se tratando de entretenimentos
de forma geral?
A igreja não pode perder o seu foco, não pode se
desviar de seu alvo; ela precisa priorizar o culto a Deus, a doutrinação de
seus membros, a assistência das necessidades básicas e imediatas dos seus membros
e a evangelização do mundo. Em sua pregação e prática a igreja precisa fortalecer
a família para que esta cumpra sua vital função na educação e disciplina que
promova a santidade dos seus membros, especialmente das crianças e jovens.
A igreja não precisa promover entretenimento para os
seus membros, mas deve instruir, encorajar e apoiar a familia na escolha,
planejamento e execução de entretenimentos que concorram para a santificação do
povo de Deus, para que a sociedade veja as boas obras da igreja e glorifique a
Deus (Mateus 5.16).