Uma vez que o homem se tornou conhecedor do mal, isto
é um pecador, a Família se mostrou incapaz de impedir ou controlar o progresso
do mal na sociedade humana; e a Igreja (em sua forma mais remota), embora seja
idealmente a comunhão dos pecadores arrependidos e reconciliados com Deus,
também se revelou incapaz de conter o crescimento do mal na sociedade humana.
Então, após o Dilúvio (o maior juízo de Deus já ocorrido na história da
humanidade), Deus mesmo lançou a semente do Estado. Deus havia antes proibido
que qualquer pessoa matasse o primeiro homicida, Caim (Gênesis 4.8-16). Porém,
após o Dilúvio, ocorrido por causa da multiplicação da maldade e violência
humana (Gênesis 6.5,11), Deus ordena ao homem exercer controle sobre a
violência, permitindo a pena de morte (Gênesis 9.6).
O Estado existe principalmente para proteger o ser
humano da própria violência humana, desde que o homem escolheu conhecer também
o mal, tornando-se um pecador ou transgressor da Lei de Deus (1 João 3.4), a
Lei eterna e universal (Êxodo 20.1-17), a Lei do Amor (Mateus 22.34-40).
O papel da Família é fazer “crescer e multiplicar” (Gênesis
1.27-28; 9.1) a humanidade, cuidar dos filhos (alimentar proteger), educar ou
treinar os filhos para o culto a Deus, para o trabalho, e a construção de uma
pacífica, justa e próspera sociedade humana. A missão da Igreja é promover o
Evangelho de Jesus Cristo que anuncia o perdão, justificação de pecadores
(transgressores da Lei) e a reconciliação com Deus, gratuitamente, somente pela
fé em Jesus Cristo (Romanos 5.1); enquanto ela mesma (a Igreja) vive no mundo
em conformidade com a Lei de Deus (Mateus 5.14-16). O papel principal do Estado
é zelar pelo cumprimento da Lei, no que tange a relação entre os homens, e até trazer
a vara ou a espada sobre os transgressores da Lei, que atentam contra a vida
humana, contra a integridade e o bem da sociedade humana (1 Pedro 2.11-17).
O Estado deve exercer autoridade sobre todos os seus
cidadãos nos limites do seu território. A Igreja exerce governo somente sobre
os crentes e seus filhos, em uma determinada congregação, e não possui, nem
governa qualquer território. As famílias (as verdadeiras proprietárias de cada
porção de terra que forma o território governado por um Estado), idealmente, a
partir do casal que vive em amor e mútua cooperação, em harmonia com a fiel
Igreja, e no contexto um Estado justo, criam, educam e disciplinam os seus
filhos com amor, liberdade e responsabilidade. É assim que famílias e nações
properam através de gerações.
Um Estado justo protegerá as famílias e suas
propriedades, e até a Igreja na fiel pregação do Evangelho, contra toda forma
violência humana. A Igreja não pode usar a estrutura (“maquina”) estatal para
tentar alcançar os seus objetivos. Porém, a Igreja e a Família, a primeira como
instituição social da Redenção e a segundo como instituição social da Criação
não podem deixar de se associar para atingir os seu objetivos soberanamente
propostos por Deus. Entretanto, as três instituições podem, cada uma no âmbito
de sua autoridade, contribuir decisivamente para atingir o principal objetivo
do Estado que é reprimir qualquer tipo de violência, ou promover a justiça no
ambito da sociedade, o que nem a Família nem Igreja podem fazer, sem o suporte
do Estado.
Tanto a Igreja quanto o Estado são constituídos de
famílias; porém, a Igreja e o Estado não podem ignorar o fundamental papel da
Família e ignorá-la; nem tão pouco podem eles (Igreja e Estado) tentar suprimir
ou dominar, um ao outro, e nem mesmo aceitar o domínio de um sobre o outro.
Quando a Igreja ou Estado tentam dominar um ao outro, eles estão usurpando o
lugar de Deus.
Estas três instituições devem ser humildes, e, assim,
entender que embora sejam instituídas (aprovadas) por Deus, são constituídas de
homens e mulheres que conheceram (conhecem) o mal, e estão sujeitas a errar
(pecar). O Estado deve ouvir a voz das famílias que o constituem, e da Igreja;
a Igreja também deve ouvir a voz do Estado e da Família; afinal, a Igreja
também é constituída de pessoas que conheceram ou conhecem o mal; ela não é
infalível. As famílias também devem ouvir a voz da Igreja e do Estado; porque,
enfim, muitas violências acontecem dentro da própria família.
O Estado não deve ser Cristão (nem tão pouco
anti-Cristão); e isto, simplemente porque o Estado não é, como a Igreja é, nem
resultado, nem instrumento da obra da Redenção. O Estado existe para promover a
justiça na sociedade, e conter toda forma de injustiça. Por isso, o Estado tem
que ser justo; e para ser justo o Estado tem que conhecer a Lei de Deus, a Lei
eterna e universal; mas, nem por isso, o Estado se torna religioso ou cristão.
Como já mencionado, as Escrituras Sagradas (a base da fé Cristã) nos dão uma
enorme ajuda na busca do conhecimento da Lei Eterna (Êxodo 20.1-17);
entretanto, esta Lei também está gravada na mente de cada ser humano (Romanos
2.14-15) que, em sua maturidade e no devido uso da razão, deveria ser capaz de
identificá-la. É devido a esta capacidade que cada indivíduo adulto e o próprio
Estado são responsáveis perante Deus, e a Ele, no devido tempo, prestarão
contas.
Se o Estado se torna Cristão, ele se torna parte da
Igreja; ou ele a dominará, ou será dominado por ela; e, assim, em qualquer
hipótese, um corromperia e destruiria o outro. O reconhecimento e a distinção
institucional entre Estado, Igreja e família precisam ser observados;
entretanto, a distinção não significa separação ou inimizade. A sociedade
humana precisa destas três instituições.
Quando a Igreja se estabelece e cresce, fiel à Palavra
de Deus, ela se torna uma grande ajudadora das famílias na educação e
disciplina dos filhos, e, consequentemente, também ajudadora do Estado, em seu
dever de defender (preventivamente) a vida humana de toda forma de violência.
É função da Igreja também instruir e encorajar os
crentes a honrar e orar pelas autoridades estatais, no cumprimento do seu dever
fundamental de proteger a vida (1 Timóteo 2.1-2).
A maior ajuda ou benefício que a Igreja pode trazer à
sociedade é a pregação do puro Evangelho, que não engana pecadores, trazendo-os
à igreja sem conversão; mas, pelo poder do Espirito Santo, que transforma o mais
cruel pecador no mais dócil e humilde servo de Deus.
Há quem queira uma sociedade sem Estado; estes podeml
ser identificados como “anarquistas”. Entretanto, hoje parece predominar a
preferência por um Estado forte, se não absoluto, mediante a supressão da
Igreja, e agora, mais recentemente, pela supressão da família também.
Neste perigoso contexto, alguns cristãos podem pensar
que a solução seria um Estado Cristão, e até usam a antiga teocracia de Israel
como o seu principal fundamento. Entretanto, o completo fracasso da teocracia
de Israel deveria ser suficiente para convencer todo cristão de que a fusão
Igreja e Estado é uma ilusão com gravíssimas consequências.
Através da forma de Igreja-Estado uma vez estabelecida
no antigo Israel, devemos aprender a lição de que governo de Deus não depende
de um “trono visível”, como pensaram os israelitas ao fim do período dos Juízes
(1 Samuel 8.1-7); porém, é a partir dos corações dos homens que o reino de Deus
se estabelece (Lucas 17.20-21); isto é, no coração daqueles que reconhecem a
soberania de Deus como o Criador e Redentor.
Além desta perspectiva das Escrituras Sagradas
apresentada, a História tem demonstrado que a anarquia não funciona, e o “casamento”
Igreja e Estado é autodestrutivo; porém, um Estado “todo-poderoso” é um grande
desastre para uma sociedade ou nação. Entretanto, a coexistência das três
instituições (Família, Igreja e Estado) igualmente respeitadas, preservadas e
operando cada uma a sua própria esfera, podem contribuir para uma sociedade
equilibrada, pacífica e próspera, uma nação forte.
O Estado tem algumas ferramentas que a Família e a
Igreja têem para controlar a injustiça; entretanto, nem com suas próprias
ferramentas, o Estado jamais conseguirá erradicar a violência. Contudo, um
Estado justo pode, de fato, conter o crescimento da violência. A erradicação da
violência somente acontecerá, como já foi mencionado, quando a obra da Redenção
estiver concluída, após a segunda vinda de Jesus Cristo, quando o seu reino
eterno será universalmente reconhecido (Filipenses 2.5-11).
A paz e prosperidade de uma cidade, provícia ou nação
dependem, não de que tenham hoje qualquer tipo de “partido cristão” no poder,
ou um prefeito, governador ou presidente cristão, mas de que Jesus Cristo reine
nos corações de seus cidadãos. Por isso, enquanto aguardamos a gloriosa volta
de Jesus Cristo, preguemos fielmente o seu Evangelho, amemos preservemos a
família conforme instituída por Deus desde a Criação, e honremos o Estado na
escolha homens que têm demonstrado respeito à Lei, para o exercício da
autoridade civil.