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Friday 5 April 2019

O Culto a Deus II


Em artigo intitulado “Criados e Redimidos para o Culto a Deus” vimos que o culto (consagração e adoração) a Deus é o mais característico aspecto da relação do homem com Deus. Deus é digno deste culto; e o homem, além de poder encontrar nele o maior prazer e satisfação de sua vida, precisa dele; isto é, o homem precisa cultuar a Deus para recuperar, manter e desenvolver-se como ser criado à imagem e semelhança de Deus.

Também indicamos, naquele artigo, que a Igreja pode ser vista como “uma comunhão de pessoas caracterizada por um centralizador relacionamento com Deus; relacionamento este que se manifesta especialmente através da comunhão, dedicação, serviço e adoração a Deus, enfim, no culto a Deus”. Seja em seu aspecto universal ou seja em seu aspecto limitado a uma congregação (igreja) local, a Igreja é uma comunidade adoradora do único e verdadeiro Deus.

Ainda, no artigo mencionado acima, enfatizamos que é em Jesus Cristo que o propósito do relacionamento entre Deus e o homem se realiza; pois, é em Jesus Cristo que o relacionamento quebrado (por causa do pecado do homem) é restaurado; e, homens e mulheres de todas as nações tornam-se uma grandiosa e universal família de Deus (Efésios 2.11-22) - família de cultuadores a Deus.

Portanto, a Igreja, como resultado desta obra redentiva de Jesus, é principalmente uma comunhão ou comunidade de relacionamento ou culto a Deus.

Entretanto, a vida e morte de Jesus Cristo, além de reconciliarem com Deus os pecadores que se arrependem e creem, constituem-se no mais perfeito exemplo de como a Igreja cultua a Deus - oferecendo-se completamente a Deus, na vida, até a morte, como fez Jesus de modo absolutamente perfeito.

A Carta de Paulo aos Romanos, na seção que compreende os capítulos 12-15, trata da vida diária e prática dos crentes, da vida comum, do dia-a-dia da igreja. Esta seção começa com a seguinte exortação: Rogo-vos, pois irmãos... que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Romanos 12.1).

Neste versículo, Paulo usa a ideia do antigo e simbólico (e ultrapassado) culto a Deus na forma do oferecimento, dedicação ou sacrifício de um animal. O primeiro destes sacrifícios oferecidos pelo homem foi feito por Abel (filho de Adão) e caracterizado como uma oferta “das primícias do seu rebanho” (Gênesis 4.4). Esta forma de culto também foi realizada pelo patriarca da humanidade, Noé (Gênesis 8.20-21); e por Abraão, patriarca de Israel (Gênesis 15).

A nação de Israel, ainda no Egito, mas prestes a deixá-lo, também cultuou a Deus por meio do sacrifício de cordeiros (Êxodo 12). A observância deste dia tornou-se uma prática anual, chamada Páscoa.

Israel ainda peregrinava no deserto, quando Deus ordenou que fosse feito um tabernáculo, como símbolo de sua habitação entre o povo de Israel (Êxodo 25.8). O Tabernáculo ficava em lugar central, entre as tribos de Israel; ali era o lugar onde as famílias de Israel deveriam oferecer seus sacrifícios a Deus. Isto também significava a centralidade da relação com Deus e do culto na vida da nação de Israel.

Esses sacrifícios, implicavam principalmente na morte do animal e sua consumação completa. Na oferta que era chamada “holocausto”, a oferta era totalmente queimada no altar. Em outras ofertas, além da parte queimada em um altar, tanto os sacerdotes como os ofertantes comiam parte da oferta.

Esses sacrifícios, acima de tudo, significavam o culto ou oferta perfeita de Jesus, em todo o seu estado de servo humilde, tanto na vida (após seu nascimento ou encarnação) quanto na morte. Esta oferta de Jesus, a única que honrou e agradou plenamente a Deus, é também creditada por Deus em favor dos pecadores arrependidos que creem nele; e assim, Deus os justifica, reconciliando-os consigo mesmo (Hebreus 7.22-28).

Por consequência e razão óbvia (a unidade entre Jesus e os que nele creem), os mesmos sacrifícios também significavam a oferta (culto) que esses pecadores (então justificados pela fé) faziam (no passado) e fazem (hoje) de si mesmos a Deus, seguindo a oferta perfeita de Jesus (1 Pedro 2.1-8).

A nação de Israel, no passado, tipificava a Igreja de todas as nações, hoje. Assim como, conforme o significado dos sacrifícios, Israel deveria ser uma “nação santa” (Êxodo 19.5-6); a Igreja, composta de diversas nacionalidades, é “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus...” (1 Pedro 2.9).

Considerando que, mais do que meramente apresentar ou simbolizar um culto, devemos ser um culto, um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Romanos 12.1); precisamos corrigir certas falsas ideias relacionados ao culto:

1. A falsa ideia de que cultuamos a Deus direta e isoladamente - Somente cultuamos a Deus por meio de Jesus Cristo, e, consequentemente unidos a todos os também por meio dele cultuam a Deus. Se não cultuamos a Deus separados de Jesus Cristo, também não cultuamos a Deus separados da Igreja de Cristo. O sangue de Cristo, que faz andar na luz, de modo que nossa vida seja um culto agradável a Deus, também nos faz viver em comunhão com outros, irmãos (1 João 1.7).

2. A falsa ideia de que cultuamos a Deus somente em determinados momentos - Nossa vida inteira deve passar-se no “altar” da consagração a Deus. Em todo tempo, tudo o que pensamos, falamos ou fazemos, devemos fazer “tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10.31; Colossenses 3.17). Isto é possível; porque, se pecarmos, “o sangue de Jesus... nos purifica de todo pecado” (1 João 1.7-9).

3. A falsa ideia de que cultuamos a Deus com coisas que lhe ofertamos - As coisas que ofertamos somente têm valor se elas realmente significam e expressam que nossas próprias vidas são completamente consagradas a Deus. Assim foi a oferta de uma pobre viúva para a qual Jesus dirigiu a atenção de seus discípulos, uma pequena oferta que realmente significava sua completa confiança e total consagração a Deus (Lucas 21.1-4).