Em artigo intitulado
“Criados e Redimidos para o Culto a Deus” vimos que o culto (consagração e
adoração) a Deus é o mais característico aspecto da relação do homem com Deus.
Deus é digno deste culto; e o homem, além de poder encontrar nele o maior
prazer e satisfação de sua vida, precisa dele; isto é, o homem precisa cultuar
a Deus para recuperar, manter e desenvolver-se como ser criado à imagem e
semelhança de Deus.
Também indicamos,
naquele artigo, que a Igreja pode ser vista como “uma comunhão de pessoas
caracterizada por um centralizador relacionamento com Deus; relacionamento este
que se manifesta especialmente através da comunhão, dedicação, serviço e
adoração a Deus, enfim, no culto a Deus”. Seja em seu aspecto universal ou seja
em seu aspecto limitado a uma congregação (igreja) local, a Igreja é uma
comunidade adoradora do único e verdadeiro Deus.
Ainda, no artigo
mencionado acima, enfatizamos que é em Jesus Cristo que o propósito do
relacionamento entre Deus e o homem se realiza; pois, é em Jesus Cristo que o
relacionamento quebrado (por causa do pecado do homem) é restaurado; e, homens
e mulheres de todas as nações tornam-se uma grandiosa e universal família de
Deus (Efésios 2.11-22) - família de cultuadores a Deus.
Portanto, a Igreja,
como resultado desta obra redentiva de Jesus, é principalmente uma comunhão ou
comunidade de relacionamento ou culto a Deus.
Entretanto, a vida e
morte de Jesus Cristo, além de reconciliarem com Deus os pecadores que se
arrependem e creem, constituem-se no mais perfeito exemplo de como a Igreja
cultua a Deus - oferecendo-se completamente a Deus, na vida, até a
morte, como fez Jesus de modo absolutamente perfeito.
A Carta de Paulo aos
Romanos, na seção que compreende os capítulos 12-15, trata da vida diária e
prática dos crentes, da vida comum, do dia-a-dia da igreja. Esta seção começa
com a seguinte exortação: Rogo-vos, pois irmãos... que apresenteis o vosso
corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional.” (Romanos 12.1).
Neste versículo,
Paulo usa a ideia do antigo e simbólico (e ultrapassado) culto a Deus na forma
do oferecimento, dedicação ou sacrifício de um animal. O primeiro destes
sacrifícios oferecidos pelo homem foi feito por Abel (filho de Adão) e
caracterizado como uma oferta “das primícias do seu rebanho” (Gênesis 4.4).
Esta forma de culto também foi realizada pelo patriarca da humanidade, Noé
(Gênesis 8.20-21); e por Abraão, patriarca de Israel (Gênesis 15).
A nação de Israel,
ainda no Egito, mas prestes a deixá-lo, também cultuou a Deus por meio do
sacrifício de cordeiros (Êxodo 12). A observância deste dia tornou-se uma
prática anual, chamada Páscoa.
Israel ainda
peregrinava no deserto, quando Deus ordenou que fosse feito um tabernáculo,
como símbolo de sua habitação entre o povo de Israel (Êxodo 25.8). O
Tabernáculo ficava em lugar central, entre as tribos de Israel; ali era o lugar
onde as famílias de Israel deveriam oferecer seus sacrifícios a Deus. Isto
também significava a centralidade da relação com Deus e do culto na vida da
nação de Israel.
Esses sacrifícios,
implicavam principalmente na morte do animal e sua consumação completa. Na
oferta que era chamada “holocausto”, a oferta era totalmente queimada no altar.
Em outras ofertas, além da parte queimada em um altar, tanto os sacerdotes como
os ofertantes comiam parte da oferta.
Esses sacrifícios,
acima de tudo, significavam o culto ou oferta perfeita de Jesus, em todo o seu
estado de servo humilde, tanto na vida (após seu nascimento ou encarnação)
quanto na morte. Esta oferta de Jesus, a única que honrou e agradou plenamente
a Deus, é também creditada por Deus em favor dos pecadores arrependidos que
creem nele; e assim, Deus os justifica, reconciliando-os consigo mesmo (Hebreus
7.22-28).
Por consequência e
razão óbvia (a unidade entre Jesus e os que nele creem), os mesmos
sacrifícios também significavam a oferta (culto) que esses pecadores (então
justificados pela fé) faziam (no passado) e fazem (hoje) de si mesmos a Deus,
seguindo a oferta perfeita de Jesus (1 Pedro 2.1-8).
A nação de Israel,
no passado, tipificava a Igreja de todas as nações, hoje. Assim como, conforme
o significado dos sacrifícios, Israel deveria ser uma “nação santa” (Êxodo
19.5-6); a Igreja, composta de diversas nacionalidades, é “raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus...” (1
Pedro 2.9).
Considerando que,
mais do que meramente apresentar ou simbolizar um culto, devemos ser um culto,
um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Romanos 12.1); precisamos
corrigir certas falsas ideias relacionados ao culto:
1. A falsa ideia de
que cultuamos a Deus direta e isoladamente - Somente cultuamos a Deus por meio
de Jesus Cristo, e, consequentemente unidos a todos os também por meio dele
cultuam a Deus. Se não cultuamos a Deus separados de Jesus Cristo, também não
cultuamos a Deus separados da Igreja de Cristo. O sangue de Cristo, que faz
andar na luz, de modo que nossa vida seja um culto agradável a Deus, também nos
faz viver em comunhão com outros, irmãos (1 João 1.7).
2. A falsa ideia de
que cultuamos a Deus somente em determinados momentos - Nossa vida inteira deve
passar-se no “altar” da consagração a Deus. Em todo tempo, tudo o que pensamos,
falamos ou fazemos, devemos fazer “tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios
10.31; Colossenses 3.17). Isto é possível; porque, se pecarmos, “o sangue de
Jesus... nos purifica de todo pecado” (1 João 1.7-9).
3. A falsa ideia de
que cultuamos a Deus com coisas que lhe ofertamos - As coisas que ofertamos
somente têm valor se elas realmente significam e expressam que nossas próprias
vidas são completamente consagradas a Deus. Assim foi a oferta de uma pobre
viúva para a qual Jesus dirigiu a atenção de seus discípulos, uma pequena
oferta que realmente significava sua completa confiança e total consagração a
Deus (Lucas 21.1-4).