“Porque pela graça
sois salvos, mediante a fé...” (Efésios 2.8)
Parte 1 – A Natureza
da Salvação
Um inegável um
grande otimismo caracterizou a segunda metade do século XX, especialmente à
medida em que nos distanciávamos dos anos marcados pela Segunda Guerra Mundial.
Além, disso, depois de um período de embate, a utopia socialista parecia
caminhar para uma cooperação com o pragmatismo capitalista, para finalmente criar
o sonhado mundo justo e próspero.
O otimismo durou somente
até o começo do século XXI; e, agora, estamos testemunhando uma rápida e
crescente onda de pessimismo mundial. Talvez, o principal e definitivo marco desta mudança
seja o acontecimento amplamente conhecido como o “September 11”. Além disso, a
repetição freqüente de outros atos terroristas, as “guerras e rumores de
guerras” apoiadas e patrocinadas por potências miliatres em lados opostos, a
desilusão da União Européia, o empobrecimento dos países já pobres e a
necessidade dos ricos protegerem suas economias que agravam problemas relativos
ao comércio, migração e até de raça, agravam o temor de dias piores.
Pode ser que agora, neste
mais sombrio “clima” mundial, mais pessoas estejam dispostas a considerar que o
ser humano precisa de salvação, tanto social quanto individualmente; uma vez que
os mais recentes “caminhos” propostos pela inteligência humana para alcançar a justiça,
paz e prosperidade falharam.
Não obstante as
esperanças que o contínuo, embora contraditório, progresso científico mantém, da
verbosidade filosófica, e do empenho das artes por reavivar o sonho; a exposta decepção
da religião e o inegável fracasso da política, de qualquer esfera e viés
ideológico, reforçam as incertezas de um futuro melhor para a humanidade.
Neste contexto,
devemos manter a confiança e, aproveitando o oportuno momento, comunicar a mais
característica revelação das Escrituras Sagradas: a salvação vem de Deus
(Salmos 62; Jonas 2.9), somente em Deus há esperança para os povos,e para cada pessoa individualmente.
A Carta de Paulo ao
Romanos nos dá um conhecimento preciso e completo a respeito desta salvação que
vem de Deus. Entretanto, como preparação para tratar da “salvação que vem de
Deus”, ainda bem no começo da carta, Paulo afirma que pela simples observação
da criação em geral o homem adquire um conhecimento de Deus, suficiente para
levá-lo a honrar a Deus, e lhe ser agradecido (Romanos 1.18-22). Por mais
desconhecido ou misterioso que seja Deus, estando o homem tão completamente
envolvido pela glória de Deus, manifesta na criação (Salmos 19.1), não há
necessidade de que o homem veja e nem ouça a Deus, para honrá-lo e lhe ser
agradecido.
Entretanto, a reação
normal do homem é ignorar e suprimir todo conhecimento de Deus, possível
através da observação da natureza. A indiferença ou recusa quanto ao
conhecimento do Deus invisível acentua ou agrava o distanciamento entre o
Criador e a criatura, que interpreta o seu abandono como se significasse a
inexistência de Deus.
Excluindo Deus de
seu universo, o homem desenvolve raciocínios inconsistentes e afeições
desordenadas, incompatíveis com o propósito elevado para o qual foi criado; o
que é incompatível até com a própria natureza e inteligência humana. Tal alienação
de Deus, faz do homem um idólatra, um cultuador ou apreciador de coisas inúteis
e até vis, e, cultuá-las como deveria apreciar e adorar somente a Deus. Não
reconhecendo um Deus que antecede e é maior que toda a criação, qualquer objeto
do maior respeito e devoção, ocupará na mente e coração do homem a posição que
somente pertence a Deus; tal obeto será o seu deus. Um ídolo é um indevido
substituto de Deus, e, por mais apreciável e desejável que seja, é indigno de
ser o principal objeto da devoção do homem. Todo ídolo, se já não é em si mesmo,
torna-se inútil ou vil.
A Carta de Tiago (4.1-10)
indica que afeições indevidas e desejos descontrolados, efeitos da inimizade (ausência
de amor) para com Deus, são as principais causas de contendas e guerras.
Ignorando o Criador
Invisível, tanto o indivíduo quanto a sociedade idólatras revelam sua
irracionalidade e falta de sentido ou propósito, pelo estabelecimento de padrões
e “práticas inconvenientes” (Romanos 1.24-31). Provavelmente, mais do que nos dias
do Apóstolo Paulo, hoje é extremamente apropriada a sua afirmação: “Inculcando-se
por sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1.22).
O Apóstolo Paulo,
sua Carta ao Romanos, ainda argumenta que a humanidade tem conhecimento de um
decreto divino contra os que vivem de acordo com os mencionados padrões e “práticas
inconvenientes”, desenvolvidos à revelia de Deus – eles são passíveis de morte (Romanos 1.32).
Entretanto, antes, e
como fundamento da sentença de morte, acima citada, está outro conhecimento,
que também todo homem tem: o conhecimento de uma Lei que é contrária aos
mencionados padrões e “práticas incovenientes”, adotados ou estabelecidos pelo
homem, em parte, resultantes da sua recusa em reconhecer a existência de Deus,
e sua responsabilidade perante o Criador.
Esta Lei pode estar
em forma escrita como foi dada, uma vez à nação de Israel, por meio do profeta
Moisés, ou simplesmente inscrita na consciência de cada indivíduo (Romanos 2.12-24),
independentemente da cultura ou religião; embora a cultura e a religião possam
influenciar no apreço ou descaso para com a Lei. Com muita propriedade, esta
Lei é freqüentemente chamada de Lei de Deus.
Esta Lei é atemporal
e universal (nunca se torna inadequada, não muda e não é relativa), começa com
a afirmação da propriedade e dignidade do culto exclusivo a Deus, e é
complementada pela declaração dos deveres do ser humano para com seus
semelhantes (Exodo 20.1-17); o seu resumo é o dever do homem de amar a Deus na
totalidade do seu ser, e ao seu próximo como a si mesmo (Mateus 22.34-40).
Assim como o
conhecimento da Lei de Deus, o conhecimento da sentença de Deus ou sentença de
morte contra os que transgridem a Lei, para alguns, é um conhecimento objetivo,
que vem de fora, para outros é mais subjetivo, interno, intuitivo. E seja este
conhecimento objetivo, como nos Dez Mandamentos (Exodo 20.1-17), ou subjetivo
como na consciência que aprova ou desaprova determinados pensamentos, palavras
e atitudes (Romanos 2.15), por mais que tentemos suprimí-lo, ele persiste, e o
receio de um tribunal divino pode surgir intermitentemente na alma mais
incrédula.
É de acordo com a
Lei que Deus julga as obras dos homens (Romanos 2.6-11), qualificando-as como
boas ou más, justas ou injustas, sujeitas a recompensa ou penalidade.
Entretanto, toda a humanidade, contituída dos que Paulo exemplifica com os judeus
(os que conhecem a Lei de Deus na forma escrita, nos “oráculos de Deus” (Romanos
3.2), como os que são chamados gentios, ou gregos, (os que conhecem a Lei
simplesmente inscrita em suas consciências), todos são pecadores, transgressores
(1 João 3.4) da Lei (Romanos 3.9-20, 23). Não há homem ou mulher capaz de
cumprir a Lei, sem transgredí-la, em qualquer sentido, nível, ou momento.
É pelo conhecimento
da Lei, esteja ela escrita em um livro, ou simplesmente na consciência humana,
que vem também “o conhecimento do pecado” (Romanos 3.20). E, sendo todos,
homens e mulheres, naturalmente transgressores da Lei (pecadores); a maior
utilidade da Lei, não é, ao contrário do que muitos pensam, nos motivar ou
ajudar a sermos justos, mas, nos trazer a uma atitude de arrependimento perante
Deus, por nossa natural inconformidade e transgressão da Lei (Romanos 2.4-5).
Já vimos que a penalidade
contra as chamadas práticas irracionais e inconvenientes (pecado ou
transgressão da Lei), é a morte; e esta significa principalmente separação de
Deus (Isaías 59.2; Romanos 3.23). Não é a invisibilidade de Deus que nos impede
de conhecer e nos relacionar com Deus, mas os nossos padrões irracionais e
práticas inconvenientes, o pecado ou injustiça, a transgressão da Lei eterna e
universal, a Lei de Deus.
O pecado causa a
morte; e esta morte é o tipo de separação de Deus que, ainda não estando
consumada, se agrava na medida em que, separado de Deus, o homem persiste em
viver como se Deus não existisse, não reconhecendo que tem responsabilidades
perante Deus, e ignorando a sua Lei. Embora esta morte ou separação de Deus, em
um processo contínuo de causa e efeito (morte causa pecado, pecado causa morte)
tenda ao agravamento, ao ponto de se tornar até irreversível, ainda há
salvação para o ser humano.
Entretanto, a
esperança e salvação do homem, como indivíduo ou sociedade, dependem, não somente
do reconhecimento da necessidade e vontade de mudar, reformar ou transformar,
nem principalmente de um projeto de educação (como também muita gente pensa). Fundamentalmente,
a redenção da humanidade começa com o arrependimento (Romanos 2.3-5), arrependimento
de um conceito e estilo de vida que ignoram Deus.
Sim, “a salvação do
homem vem de Deus”; é pela graça de Deus; e é mediante a fé que o homem é
salvo, seja judeu ou grego, isto é, não importa a religião ou cultura (Romanos
3.21-26). A salvação vem de Deus porque é Ele quem misericordiosamente chama a
humanidade ao arrependimento de suas más obras e injustiça; e, atender este
chamado é uma atitude de fé; pois é ouvir a mensagem do Deus Invisível.
Esta mensagem de Deus,
o cerne das Escrituras Sagradas, intermediadas da parte de Deus pelos Profetas
e Apóstolos, é também denominada o “Evangelho” (boa-nova); é através dele que
Deus chama todos os pecadores ao arrependimento. A boa notícia do Evangelho
é que há salvação para a humanidade, do profundo e crescente abismo do distanciamento
ou separação de Deus.
Há salvação do
estado de morte ou separação de Deus a que o homem está sentenciado por causa de
seus padões e práticas injustas; e não é através de obras (empenho em fazer o
bem, por viver de modo justo) que o ser humano é justificado perante Deus, mas
pela fé em Deus (Romanos 3.27-31).
Esta é a boa notícia
em que consiste o Evangelho: há salvação para a humanidade; e, por mais difícil
(impossível) que ela pareça; ela é de graça, mediante a fé, somente. Não
depende de fazer o que não podemos fazer separados de Deus, ser justos; não
depende de pagar o que não podemos pagar, nossas ofensas contra Deus e contra o
próximo.
A boa notícia do
Evangelho é que, embora transgressor da Lei, pecador, injusto, o homem pode ser
justificado. Isto é, o homem pode ser perdoado de todas as suas injustiças, e
ser reconciliado com Deus, por meio da fé em Jesus Cristo, o nosso Salvador
(Romans 3.21-22).
Para quem não se
convence pelas obras de Deus na criação; mas, quer ver (a Deus) para crer; o
impasse permanece; não podemos ver a Deus. Entretanto, no Evangelho, Deus fala
com o homem, chamando-o ao relacionamento consigo, o Eterno e Invisível Criador
e Salvador. Ouça o que Deus fala no Evangelho.