Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria

Thursday 25 July 2013

Cristo, o Anticristo e o Papado


O “anticristo” é um concorrente de Jesus Cristo; portanto, o anticristo não é necessariamente contra o conceito do Cristo; ao contrário e mais frequentemente, o anticristo tira proveito do conceito Cristo. Aqueles que têm alguma familiaridade com a Bíblia, as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos sabem que o Cristo é o Salvador ou Redentor prometido por Deus, através dos Profetas do Antigo Testamento, cujo cumprimento e vinda foram testemunhados pelos Apóstolos no Novo Testamento. Portanto, o anticristo é também, em princípio, um conceito que pode ser identificado como um “falso Cristo”.

O Cristo é alguém que foi anunciado como vindo para exercer, de fato, o que três ofícios tão preeminentes no Antigo Testamento simbolizavam ou limitadamente realizavam:

§  O Profeta que comunicava ao homem a mensagem ou palavra de Deus;

§  O Sacerdote que apresentava a Deus animais sacrificados como simbólica expiação pelos pecados dos homens;

§  O Rei que, com justiça e bondade, devia governar a comunidade do povo ou filhos de Deus.

Estes ofícios foram exercidos por muitos diferentes servos de Deus. Em Israel, Moisés e Samuel  aparentemente exerceram os três ofícios; eles foram profetas e sacerdotes; embora jamais tenham sido reis, eles inegavelmente exerceram governo em Israel, antes que houvesse rei. Além de Moisés, temos no Antigo Testamento uma longa lista de profetas, como Elias, Elizeu, Isaías, Jeremias e muitos outros; Arão e Samuel são os mais conhecidos sacerdotes; assim como Daví e Salomãosão os mais notáveis reis. Todos os profetas, sacerdotes e reis, além do limitado serviço que prestaram, são meros tipos de uma figura infinitamente superior, o Cristo; porque é este unicamente quem, real e perfeitamente, cumpre os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei, na relação entre Deus e a humanidade.

O Antigo Testamento criou e difundiu, não só em Israel, mas, entre muitas outras nações, a expectativa da manifestação ou vinda do Cristo, a “expectativa Messiânica”. “Messias” é o correspondente hebraico à palavra grega “Cristo” que literalmente significa “ungido”, alguém escolhido, apontado e habilitado por Deus para o exercício de um ofício. Os profetas, sacerdotes e reis foram vários e provisórios; O Cristo é único e eterno.

O Novo Testamento é o testemunho escrito do cumprimento da promessa (também escriturada) do Antigo Testamento. O Novo Testamento é o testemunho de que o Cristo é Jesus, o (eterno) Filho de Deus, mas também descendente de Daví, “segundo a carne” (Romanos 1.1-6), e por isso, filho de uma virgem chamada Maria (Mateus 1.18-23; Lucas 1.26-35), nascido em Belém da Judéia (Mateus 2.1), também conhecido como Jesus de Nazaré (Mateus 2.19-23).

Jesus Cristo é o Profeta; porque Ele, não somente trouxe aos homens a Palavra de Deus (como os outros profetas); mas, sendo o Eterno e Unigênito Filho de Deus Ele é, em pessoa, a final e completa revelação de Deus aos homens (João 1.1-8). Jesus é o Sacerdote; porque, pelos pecados dos homens, Ele ofereceu, não repetitivos sacrifícios simbólicos de animais, mas ofereceu, uma só vez e definitivamente a si próprio como o único sacrifício real eficaz pelos pecados dos homens. Isto foi realizado porque Jesus Cristo é o Eterno Filho de Deus encarnado (em natureza humana); portanto, legítimo representante do homem, mas absoloutamente Santo, por isso o seu sacerdócio (intercessão) é irrecusável perante a justiça divina (Hebreus 7.20-28). Jesus Cristo é o Rei; porque Ele, como já indicava o Antigo Testamento (Isaías 9.6-7; Malaquias 3.1), é mais que qualquer mero homem, é Deus encarnado (João 1.1-3,14); e, após morrer “pelos nossos pecados”, Ele “ressuscitou ao terceiro dia” (1 Coríntios 15.3-4), tornando-se o vitorioso Redentor dos filhos de Deus, com e sobre os quais reina eternamente (Filipenses 2.5-11).

O anticristo não é, como muitos pensam, algo ou alguém que vai aparecer somente no derradeiro final de uma era. O anticristo tem estado presente em toda esta última era que já dura aproximadamente 2000 anos, que podemos chamar a “Era da Igreja da Nova Aliança” (1 João 2.18).

O anticristo é a personificação de uma força ou movimento que habilita muitos “anticristos”. Ambos, o anticristo e os anticristos, são principalmente desertores da fiel Igreja de Cristo Jesus, por haverem abandonado a “verdade”, ou seja, o fiel testemunho de Jesus Cristo, como o encobtramos nas Escrituras Sagradas do Antigo e Novo Testamentos (1 João 2.18-26). O anticristo e os anticristos têm por propósito e meta afastar ou impedir que homens conheçam plenamente e confiem absolutamente em Jesus, o Cristo, para sua salvação, a vida eterna, ou reconciliação e eterna comunhão com Deus (1 João 2.22-26).

Como já indicamos, o anticristo (e igualmente os anticristos) não se opõe diretamente ao conceito de Cristo. O anticristo pode negar que Jesus é o Cristo, que Jesus Cristo é verdadeiro homem (nascido da virgem Maria) e verdadeiro Deus (o Eterno Filho de Deus). O anticristo pode não se opor direta ou claramente a Jesus Cristo, mas, nega o fiel ou completo Cristo das Escrituras Sagradas, nega a  sua importância e suficiência absolutas; esta é a mais sutil e eficaz abordagem e estratégia do anticristo.

As Escrituras também mencionam “falsos profetas” (Mateus 7.15-23; 24.11; Atos 13.6-12), “falsos mestres” (2 Pedro 2.1-3) e “falsos apóstolos” ( 1 Coríntios 11.13); todos estes nomes são diferentes designações para os anticristos, que distraem ou desviam a atenção dos homens do único Cristo, Jesus, o Cristo das Escrituras (João 5.39), para o anticristo, um falso cristo (Mateus 24.23-26; 1 João 4.1-4).

Entretanto, o anticristo propriamente também é identificado nas Escrituras Sagradas com o “falso profeta” (Apocalipse 16.13; 19.20; 20.10). Este é certamente algo ou alguém que se destaca dentre ou acima de todos os falsos profetas. Este falso profeta é mencionado no contexto de uma poderosa tríade: o “dragão”, a “besta” e finalmente o “falso profeta”. O dragão é Satanás (Apocalipse 20.2); a besta, com certeza significa um poder imperial, um rei que tem domínio sobre nações (Apocalipse 13.1-10; 17.11); o falso profeta inegavelmete personifica um poder religioso, como o próprio nome indica. Com a decisiva ajuda do falso profeta, a besta age, conquista e prospera, ao ponto de se tornar alvo de adoração entre os povos, mas odeia e persegue ferozmente a fiel Igreja de Jesus Cristo (Apocalipse 13.1-18). O falso profeta, também é identificado como a “besta que emerge da terra” (Apocalipse 13.11), em distinção da que “emerge do mar” (Apocalipse 13.1); para muitos, esta segunda besta parece um manso cordeiro, em contraste com o verdadeiro Cordeiro, Jesus Cristo (Apocalipse 13.8), que “tira o pecado do mundo” (João 1.29); mas, de fato, a besta que emerge da terra fala em nome do dragão.

Como as Escrituras identificam o anticristo com as duas bestas, já mencionadas; e, conforme já visto, a besta e o falso profeta (segunda besta) operam conjuntamente, sob o poder do dragão (Apoc alipse 13); assim, a besta e o falso profeta podem ser entendidos como a duas faces do anticristo, uma face civil e uma face religiosa, que constituem uma única força ou poder que se opõe a Jesus Cristo.

No livro de Apocalipse também tomamos conhecimento de uma cidade, simbolicamente chamada de “Babilônia”, tipificada por uma mulher adúltera (Apocalipse 17.1-5), “embriagada com o sangue dos santos..., das testemunhas de Jesus Cristo” (Apocalipse 17.6). Esta cidade é um lugar ou centro onde o anticristo (a besta e o falso profeta) exerce o seu poder no mundo (Apocalipse 17.1-18).

As Escrituras também mencionam o anticristo como o “homem da iniquidade”  ou o “iníquo (2 Tessalonicenses 2.1-10). Este homem da iniquidade nos remete ao “abominável da desolação” (Mateus. 24.15), que tem relação com um inimigo, feroz contra o povo de Deus, e atrevido diante de Deus (Daniel 9.27; 11.31; 12.11). Embora a História da Redenção já tenha testemunhado outros cruéis e arrogantes inimigos de Deus e seu povo, como Faraó e Nabucodonosor, a profecia de Daniel parece ter um cumprimento parcial e antecipativo no rei Sírio, Antioco IV, que invadiu invadiu Jerusalém e profanou o Templo, em 168 aC. Faraó, Nabucodonosor e Antíoco VI, são protótipos do anticristo. Quanto às menções da presença do “abominável da desolação” no “lugar santo” (Mateus. 24.15), e do “homem da iniquidade”  assentado no “santuário de Deus” (2 Tessalonicenses 2.4), isto significa o atrevimento  do anticristo contra Deus, a sedução, engano e poder que exerce sobre uma significativa parcela da Igreja que, assim, perde o seu foco em Jesus Cristo. A influência e poder do anticristo, que têm perdurado durante toda esta era da Igreja da Nova Aliança, somente serão eliminados completamente na gloriosa volta de Jesus Cristo (Mateus 24.29-31; 2 Tessalonicenses 2.7-8; Apocalipse 19).

Portanto, o anticristo é um concorrente de Jesus Cristo e, como tal, ele pode se manifestar de diversas formas: como um Cristo que não é o Jesus, como um substituto de Jesus Cristo, ou simplesmente como um complemento de Jesus Cristo. Contudo, será sempre um falso Cristo, um adversário do único, verdadeiro e onipotente Salvador, Jesus Cristo, fora do qual não há salvação para os homens.

E o chamado Papa, que relação pode haver entre ele o anticristo? Com a ajuda da História, veremos que o Papado é a mais notável continuação do Império Romano, é a forma religiosa em que o Imperador Romano sobrevive até o presente. O próprio título papal de “Sumo Pontífice” é herança do título do Imperador Romano como supremo chefe político e religioso do Antigo Império Romano, e que, como tal, recebia honras divinas.

A partir do início do Século II, aparece na Igreja a idéia (estranha ao Novo Testamento) do “bispo monárquico”, nas principais cidades do Império, conquistadas pela fé cristã; e, já no final deste século, surge a idéia da preeminência do bispo de Roma sobre os demais bispos das demais cidades.

Em 313, o Imperador Romano Constantino se declarou Cristão e depois disso os cristãos ganharam libertdade de culto, e outros privilégios. Quando, em 330, Constantino transferiu a sede do Império para Constantinopla, o bispo de Roma ganhou maior e progressiva preeminência. Em 380, o Imperador Teodósio I tornou o Cristianismo a religião oficial do Estado. Quando finalmente a parte ocidental do Império Romano caiu sob o poder dos invasores “barbaros” (476), sobreviveu a forma ou face religiosa e “cristianizada” do Império no Bispo de Roma, que gradualmente cresceu em influência e poder.

A partir de 590, Gregório I (o Grande), bispo de Roma, que fêz prosperar a riqueza da Igreja, exerceu decisiva liderança na contenção do avanço dos invasores lolardos sobre a cidade. Enviando missionários, ele também expandiu e consolidou o poder do episcopado de Roma no ocidente.

Depois disso, no ano 800, o Papa Leão III coroou o rei franco, Carlos Magno, Imperador do proto “Sacro Império Romano”; e, em 962, o Papa João XII coroou o rei germânico, Otto I, como o Imperador do idealizado “Sacro Império Romano”. Em 1302, o Papa Bonifácio VIII promulgou a “bula papal” conhecida como “Unam Sanctum” que declara o Papa como supremo poder, acima dos reinos; e que, afim de que seja salvo, cada ser humano, precisa necessariamente submeter-se ao Pontífice Romano.

Sucessivos Papas continuaram reivindicando, além do poder espiritual, o poder temporal (civil); enquanto alguns reis afirmavam a sua autonomia; até que, em 1798 tropas francesas invadiram territórios papais e fizeram preso o Papa Pio VI, que logo morreu. Em 1801, o Papa Pio VII entra em acordo com a França, e, em 1804, coroa Napoleão como Imperador. Entretanto, em 1870, o rei da Itália, Victor Emanuel II, tomou Roma e os territórios papais. Em 1929, o Papa Pio XI, aceitou a perda imposta, mediante um acordo com o primeiro ministro da Itália, Benito Mussolini; quando também foi reconhecida a cidade-estado do Vaticano, como território Papal, também chamada a “Santa Sé”.

Embora a influência e poder do Bispo de Roma, atual chefe de estado do Vaticano, tenha variado no decurso da História, o Papa é de fato um rei, cuja cidade-estado é o Vaticano; de onde ele exerce sua influência e poder no mundo; e onde a face religiosa do antigo Império Romano sobrevive até hoje.

No passado, os Papas, além de enviar missionários e encampar igrejas regionais que nunca estiveram sob o seu poder, já comadaram exércitos conquistadores (as Cruzadas), coroaram e humilharam reis, e até ordenaram a perseguição e extermínio de adversários. Curiosamente, em nossa presente era secular, a influência do Papa está ganhando força; e a sua influência sobre as nações depende, em parte, da presença, organização e força do Catolicismo Romano em cada nação, e, também em parte, das aspirações e empreeendimentos com vistas à expansão dos poderes espiritual e temporal (civil ou político) de cada Papa. Certamente, criação do Estado do Vaticano, tornou-se decisiva para a permanência e futuros posíveis desenvolvimentos do Papado.

Existem influentes e poderosas religiões e organizações religiosas; porém, o Papado é a única instituição religiosa que, de fato se qualifica como um Império Religioso. É, no mínimo, intrigante a detalhada semelhança entre o anticristo mencionado nas Escrituras Sagradas e a milenar instituição do Papado. Até o presente momento parece impossível identificar outra manifestação do poder do anticristo mais persistente e bem sucedida que o Papado:

§   Ele assume a posição de Deus quando adota o título de Papa (Pai), título somente atribuído no Novo Testamento a uma das pessoas da Trindade: Deus, o Pai (Mateus 23.8-12).

§   Ele se intitula e é reconhecido como o representante de Cristo na terra, posição que conforme o próprio Senhor Jesus Cristo é ocupada somente pelo Espírito Santo (João 14.16-20).

§   Com as doutrinas estabelecidas pelo poder e alegada “infalibilidade papal” (especialmente o culto a Maria e a outros santos, salvação pelas obras), ele nega a absoluta suficiência de Cristo (Gálatas 1.6-9).

§   Ele mantém enganados, cativos e subordinados muitos que se consideram seguidores de Cristo (2 Pedro 2.1-3).

§   Ele pretensamente reina na Igreja e quer reinar sobre as nações, como somente Jesus Cristo reina (Efésios 1.15-23).

A Reforma do século XVI foi o maior golpe e perda do Papado, em toda a sua história; pois libertou e tem contribuído para o nascimento de igrejas e milhares de crentes livres do domínio papal. Porém, a Reforma não conseguiu neutralizar a multiplicação de anticristos, nem o fortalecimento do anticristo; somente a volta de Jesus Cristo o fará. Entretanto, quando herdeiros da Reforma, protestantes ou evangélicos, negligenciam ou rejeitam a fiel e sitemática Pregação da Palavra de Deus, e, consequentemente, se deixam levar por crenças ou doutrinas de homens, que tiram o do foco de Jesus Cristo, de Sua exclusiva e absoluta glória como o único e suficiente Salvador, ainda que nunca declarem lealdade ao papado, estão se subordinando e fortalecendo o poder do anticristo.


“Amados, enquanto eu empregava toda a diligência para escrever-vos acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos. Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.” (Judas 3-4)

Tuesday 9 July 2013

Pela Fé, e Não pelo que se Vê, mas com Razão e Amor.


A vida cristã é vivida pela fé, e não pelo que se vê; e a fé vem, não pelo que se vê, mas pelo ouvir a palavra de Deus (Romanos 10.17). Estamos nos referindo à fé que salva o pecador da ignorância e separação de Deus, assim como de todas as misérias decorrentes de tal ignorância e separação.

Não podemos ver a Deus, somente podemos ver a glória do seu poder na sua obra da Criação, e conhecer a glória do seu amor na sua obra da Redenção. Porém, sem ouvir a palavra de Deus, absolutamente nada podemos conhecer de sua obra redentiva; e até negamos a glória de Deus como o Criador, atribuindo ao puro acaso a indescritível magnitude da natureza e do universo.

Não podemos ver a Deus; mas podemos ouvir a sua voz. Como cantamos em um hino: “nem Adão chegou a vê-lo, antes mesmo de pecar”; porém, a voz de Deus, Adão ouviu; e até o mais odioso pecador também a pode ouvir. A palavra de Deus não tem como objetivo nos desvendar os mistérios da Criação, mas de fato nos livra da cegueira e irracionalidade que ignora Deus como o Criador. O objetivo da palavra de Deus é desvendar ou revelar os mistérios da redenção, ou seja, os mistérios da reconciliação do homem pecador com o Deus santo, os mistérios da nossa passagem da morte para a vida, das trevas para a luz.

O apóstolo Pedro chama a palavra de Deus de a “palavra profética”; pois ela foi comunicada por “homens separados (que) falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”. Esta palavra de Deus, Pedro também chama, no mesmo contexto: a “Escritura” (2 Pedro 1.19-21). Como já afirmamos, o objetivo da palavra de Deus é revelar os mistérios da redenção; portanto, o centro ou objetivo principal da Escritura (a Palavra de Deus) é nos dar o conhecimento do nosso glorioso Redentor, Jesus Cristo (2 Pedro 1.16-18).

Portanto, a nossa vida cristã, isto é, a nossa frutuosa vida de comunhão e relacionamento com Deus, em Cristo Jesus, começa e é mantida pelo ouvir a Palavra de Deus (João 15.1-8).

Falando através de Moisés, Deus proibiu israel de fazer qualquer imagem sua para o culto, lembrando ao povo que este não viu nenhuma aparência de Deus no Monte Sinai, embora tenha ouvido alí a palavra de Deus (Deuteronômio 4.15-19).

Deus “caminhava” com Israel no deserto, mas não era visto (Êxodo 33.12-16). Deus habitou com Israel e era o invisível Onipotente Rei de Israel, antes que houvesse monarquia em Israel (1 Samuel 12.12). Jesus Cristo é o Rei Eterno, embora não tenha vindo com aparência de rei (Mateus 21.4-5); e Ele reina, embora o seu reinado ainda não tenha a aparência ou visibilidade que terá em “Novos Ceus e Nova Terra” (Lucas 17.20).

O Espírito Santo foi derramado em grande plenitude sobre a Igreja da Nova Aliança no dia de Pentecostes; não podemos ver o Espirito Santo, sentir o seu cheiro, nem tocá-lo. Contudo, Ele habita na Igreja e fala a ela, quando as Suas Escrituras (escritas e inspiradas pelo próprio Espírito Santo) são lidas e fielmente explicadas.

Exceto pelo Batismo e Santa Ceia, quando administrados, o verdadeiro culto a Deus dispensa todo e qualquer aparato visual (templos, vestes especiais, imagens, encenações, gravuras e símbolos), porém jamais prescinde ou renuncia a Palavra de Deus, cujo centro é Jesus Cristo.

Servimos e perseveramos em servir a Deus pela fé, isto é, ouvindo e obedecendo a palavra de Deus, e não de acordo com os resultados imediatos que possamos obter ou ver.

O homem quer ver para crer; porém, em se tratando do relacionamento do homem com Deus isto é ofensivo; porque Deus, a única realidade eterna e absoluta, não pode ser visto. O simples fato de existirmos,  e havermos sido criados à imagem e semelhança de Deus, deveria ser suficiente para reconhecermos existência e soberania de Deus.

Entretanto, mesmo os crentes demandam ver para crer, ver quantidade, institucionalidade e celebridade. Muitos dos que se dizem crentes são convencidos pela “quantidade” de seguidores, mesmo quando esta é resultado ou está associada ao desprezo da Palavra de Deus; para estes, a quantidade significa bênção e aprovação de Deus. Outros crentes subordinam sua fé à aprovação social ou à institucionalização estatal; para estes, a aceitação, aclamação e aprovação social ou legal equivalem à expressão da vontade de Deus. Para outros que também se identificam como crentes a “voz de Deus” é a voz das celebridades (seculares ou religiosas), e não as Escrituras Sagradas.

Deus quer atingir o nosso pensamento, lógica e razão. A Palavra de Deus (lida, pregada, e na forma dos dois sacramentos) passa por nossos sentidos, mas o seu alvo é o nosso pensamento, lógica e razão. É em nosso pensamento, lógica e razão que a Palavra de Deus se aloja, habita e frutifica na fé salvadora. O conhecimento supremo do homem é o conhecimento de Deus; o mais nobre exercício do pensamento, da lógica e da razão é o conhecimento dos propósitos de Deus.

A superstição ou crendice convence imediatamente os que valorizam e se contentam com a percepção dos sentidos, especialmente o “ver, para crer”. A fé salvadora prefere a audição, isto é, “o ouvir a Palavra de Deus” como meio, para alcançar e frutificar em nosso pensamento, lógica e razão (Hebreus 4.12).

Portanto, a Palavra de Deus exercita e fortalece nosso nosso pensamento, lógica e razão, recuperando e aperfeiçoando, em nós, a imagem e semelhança de Deus, libertando-nos de uma compreensão limitada pelos sentidos. É especialmente no uso do pensamento, lógica e razão que mais radicalmente nos distanciamos dos animais e somos semelhantes a Deus.

A fé, uma vez gerada pela Palavra de Deus, nos intruduz no relacionamento com Deus. Esta mesma fé, alimentada pela Palavra de Deus, nos mantém neste relacionamento, e impede que dele nos afastemos. Deus não é matéria, mas Espírito; a encarnação do Eterno Filho de Deus (João 1.1-14), não muda a essência do ser divino que é espiritual. Portanto, não podemos perceber a presença do Deus Invisível (1 Timóteo 1.17) pelos sentidos, mas pelo pensamento, lógica e razão; e, para isto, ainda precisamos da Palavra de Deus que tem o poder de gerar e nutrir a fé salvadora.

A fé é oposta à incredulidade, mas também nada tem a haver com a superstição ou credulidade; a fé está relacionada ao pensamento, lógica e razão. Porém, por si mesmos, o pensamento, a lógica e a razão não têm o poder de gerar a fé; a Palavra de Deus tem este poder (1 Pedro 1.23). Portanto, a fé em Cristo, à qual a pregação do Evangelho (Palavra de Deus) nos chama não é oposta à razão, mas se dirige à razão (1 Pedro 3.15)

Os verdadeiros crentes (os que nunca se apostatarão) são gerados pela semente da Palavra de Deus, sob o poder vivificante do Espírito Santo. Estes são habilitados a, no pleno exercício do pensamento, lógica e razão, “ver o (Deus) invisível” (Hebreus 11.27).

Não temos menor vantagem ou privilégio em relação aos contemporâneos de Jesus Cristo que o viram. Ninguém pode ser salvo por simplesmente ver a Jesus Cristo. Ao contrário, ver a Jesus Cristo encarnado, antes de sua glorificação era decepicionante: O profeta Isaías o descreve com a aparência de “uma raiz de uma terra seca; (que) não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nehnuma beleza havia que nos agradace” (Isaías 53.1). Desde o seu nascimento (Lucas 2.7) até a sua, já mencionada, entrada em Jerusalém (Mateus 21.4-5), Jesus Cristo não tinha aparência de um rei. Depois, Jesus foi publicamente crucificado; e naquele exato momento alguém queria ver Jesus descer da cruz, e, escarnecendo, disse: “É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele.” (Mateus 27.42).

Jesus não desceu da cruz, mas alí morreu; porque “precisamente com este propósito” ele viera (João 12.27). “Cristo morreu pelos nossos pecados” (1 Coríntios 15.3). Entretanto, ao terceiro dia Ele ressuscitou, e foi visto por muitos (Coríntios 15.4-8), como a final evidência de que Ele é o Salvador, anunciado pela Palavra de Deus.

Entretanto, até o ver a Jesus Cristo ressurreto, é insuficiente para salvar o pecador. Jesus, em seu diálogo com Tomé, referiu-se à inutilidade da fé que é mera e imediata resposta ao que se vê, dizendo: “Porque me viste creste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20.29). Isto está em pleno acordo com o que Jesus já houvera dito antes: “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5.24).

Somos salvos por ouvir a Palavra de Deus (a qual é sobre sobre Jesus Cristo) quando ela está operando no campo de nosso pensamento, lógica e razão, sob a ação do Espírito Santo (João 16.7-14), e assim, gera em nós a fé salvadora.

A fé salvadora é gerada e alimentada somente pela Palavra de Deus e não por qualquer visão das obras de Deus. Todas as obras de Deus (Criação, providência ordinária e milagres) têm seus próprios méritos e são dignas de todo nosso louvor; porém elas não podem, nem são destinadas a gerar e nutrir a fé. A fé que nos salva é um gracioso dom de Deus, gerado e nutrido pela Palavra de Deus, cujo mensagem central é Jesus Cristo, como o nosso Redentor.

Crer que Deus é o Criador, que Ele nos dá o pão de cada dia e que Ele faz milagres, não é a fé salvadora. A fé salvadora conhece e confessa a Jesus Cristo como o único e completo Salvador, o Eterno Filho de Deus, o único doador da vida eterna aos homens, que se encarnou para oferecer o seu sangue como a propiciação pelos nossos pecados (João 3.16).

Nossa fé em Jesus Cristo não se fundamenta no que vemos, nem se abala em consequência do que não podemos ver. Nossa fé em Jesus Cristo independe de vermos ou não vermos milagres hoje, de sermos pessoalmente ricos e saudáveis, ou pobres e enfermos. A fé salvadora não oscila conforme o número dos que frequentam as igrejas, nem conforme a aprovação social ou legal da igreja, e nem conforme a presença ou ausência de celebridades entre os crentes. Nossa fé vem da poderosa e convincente Palavra de Deus.

Entretanto, esta fé que não é uma resposta imediata dos sentidos (especialmente da visão), e que passando do limite da visão (que é mero meio), no campo do pensamento, lógica e razão produz a fé salvadora, pois sua semente é a própria Palavra de Deus, esta fé finalmente se manifesta em amor, amor a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento (Mateus 22.36-38). A idolatria é uma afeição dos sentidos, o amor a Deus é fruto da fé salvadora, que vem pelo ouvir a Palavra de Deus, que convence o pensamento, lógica e razão, para ocupar todos os espaços e e dilatar o nosso coração através do amor a Deus.

Os “shows de milagres”, os espetáculos musicais e teatrais e a imponência das antigas e modernas catedrais, podem atrair multidões. Contudo, é somente a pura e simples Palavra de Deus, anunciada pelo mais humilde pecador, que tem o poder de gerar e nutrir a salvadora fé em Cristo Jesus.

“Não só de pão o homem viverá, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” (Mateus 4.4)

“... não atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se não vêem são eternas.” (2 Coríntios 4.18)

 “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.” (Mateus 24.35)