Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria

Tuesday 7 July 2015

POR QUE CADA CRENTE EM JESUS CRISTO DEVE SER MEMBRO DE UMA FIEL IGREJA DE CRISTÃ? (II)

No artigo anterior, procuramos demonstrar que a Igreja é uma eterno propósito de Deus, inseparável   sua obra Redentiva. Somos salvos por Deus para imediatamente entrar ou pertencer à Igreja de Deus na Terra.

A Igreja é a comunhão dos filhos de Deus no mundo. Ela tanto recebe quanto busca e alcança os “filhos de Deus” entre os os “filhos dos homens”, isto é, dentre as nações. Ela os alcança através da pregação do Evangelho, e os nutre e educa mediante o regular ensino da Palavra, levando-os ao conhecimento, confiança e obediência ao completo desígnio de Deus (Atos 20.27), revelado nas Escrituras. Portanto, até que cada crente seja intoruzido na 
Igreja no Céu, ele(a) deve permanecer membro da Igreja de Deus na Terra.

Porém, é importante que se reconheça que ninguém permanece membro da Igreja, somente pelo fato de um dia haver sido batizado. O ingresso na Igreja pelo Batismo é confirmado pela participação na mesa da comunhão, a Santa Ceia.  Há, entretanto, membros da Igreja que iniciam um processo de auto-exclusão, e, por não atenderem as admoestações da Igreja, são por fim são excluídos.

Entretanto, também devemos reconhecer que não somente membros individualmente ou famílias se extraviam da Igreja, mas igrejas também se extraviam da Igreja, isto é da Fiel Igreja de Jesus Cristo.

Por que “fiel” Igreja?            

É por isso que precisamos enfatizar “que cada crente em Jesus Cristo deve ser membro de uma fiel igreja de cristã”; pois a Igreja na Terra é constituída de igrejas, e igrejas podem, infelizmente, tornarem-se infiéis.

Isto é facilmente demonstrado na História da Redenção reportada na Bíblia. O início da Obra da Redenção coincide exatamente com o estabelecimento da Igreja. Assim, como imediatamente após a Queda, Deus se manifestou redentivamente ao homem e a mulher, também imediatamente Deus estabeleceu a Igreja como congregação dos salvos ou redimidos do pecado e da morte, por meio de Jesus Cristo. O sacrifício de Jesus Cristo, em lugar dos pecadores, ficou imediatamente tipificado no animal que foi morto para prover veste para o homem e a mulher (Gênesis 3.21); Abel também, como um fiel sacerdote, ofereceu a Deus um culto agradavel com as primícias do seu rebanho, igualmente tipo do sacrifício de Jesus Cristo (Gênesis 4.1-4). Além do sacrifício simbólico, a Igreja em seu mais primitivo estado tinha também a mensagem central, o Evangelho a ser pregado (aos filhos), a promessa do vitorioso Redentor (Gênesis 3.15). Embora expulsa do Paraíso, vivendo em uma Terra amaldiçoada, a primeira família da humanidade foi também a primeira família da Igreja.

Foi também nesse primitivo contexto que houve o primeiro desvio da Igreja, com Caim que, como em suas próprias palavras, tornou-se um “fugitivo, um errante pela terra” (Gênesis 4.12); assim também são todos os homens e mulheres que se separam da Igreja.

A humanidade se multiplicou, cresceu a descendência física e espiritual de Caim, e a descendência física e espiritual de Adão, Sete e Enos (Gênesis 4.17-32). Entretanto, próximo aos dias de Noé, a Igreja dos “filhos de Deus” era aparentemente menor que o restante da humanidade, e os “filhos de Deus” começaram a se casar com as “filhas dos homens”. A Igreja se corrompeu dramaticamente; de modo que, aos dias de Nóe, a fiel Igreja estava reduzida a uma única família, a de Noé (Gênesis 5.32-6.10).

Noé pregou (2 Pedro 2.5), certamente chamando os homens ao arrependimento, mas não viu sequer uma conversão, somente ele e sua família foram preservados da total destruição causada pelo Dilúvio. Com o que restou da Igreja pré-diluviana, Deus recomeçou a obra da Redenção e a Igreja na Terra, abençoando e ordenando a geração de Noé: “multiplicai-vos e enchei a terra” (Gênesis 9.1).

Aparentemente, Babel é a orígem e símbolo de toda religião humana, em oposição à obra da Redenção que Deus realiza e a Igreja que é o seu resultado na Terra. Babel não é a primeira cidade mencionada na Bíblia (Gênesis 4.17), é uma entre algumas das primeiras cidades pós-diluvianas (Gênesis 10.1-12), mas parece ser a primeira cidade que almejou ser um centro político-religioso do mundo (Gênesis 11.1-4). Babel é a mais primitiva forma do nome Babilônia, o grande símbolo bíblico dos poderes unidos da política e religião corrompidos (Apocalipse 17.1-5).

Toda falsa religião é uma oposição à obra da Redenção e à fiel Igreja de Deus; esta, embora presente nas cidades, enquanto fiel, nunca está associada ou vinculada aos poderes e propósito das cidades dos homens. Porém, a  Igreja sofre sedução da parte da cidade, e a cidade busca o apoio da religião para levar adiante o seu projeto antropocêntrico. A “torre cujo tope chegue até aos céus” (Gênesis 11.4) simboliza bem esta associação entre as cidades dos homens e a igreja apóstata ou falsa religião. Na cidade, a fiel Igreja exerce sua função profética, cujo foco é o testemunho de Jesus Cristo (Apocalipse 19.10), enquanto a igreja apóstata ou falsa religião encobre os desígnios de Deus e ilude os homens.

A Historia da Redenção é uma história de resgate não só de indivíduos e famílias através da pregação do Evangelho, mas também de resgate, vivivificação e reforma da Igreja, através do fiel ensino de toda a Escritura.  O que temos considerado sobre a História da Redenção no período que antecede o estabelecimento da Igreja (Congregação) de Israel, vai se verificar também na História da Igreja-Nação de Israel, uma história marcada pela contínua luta contra a apostasia. A História da Igreja da Nova Aliança também não é diferente; como se pode ver, desde as Cartas Paulinas e Gerais, antes da virada do primeiro século, a Igreja já lutava contra a infidelidade, apostasia e falsa religião, como até hoje.

Assim como o homem, pela ordem natural, determinada por seu estado de rebeldia e separação de Deus, corrompe toda boa intenção, idéia e instituição; ele também corrompe parcialmente a Igreja na Terra; por isso, igrejas se tornam infiéis. Na verdade, chega a ser surpreendente quando uma igreja (ou crentes individualmente) se mantém fiel por um longo tempo, um especial motivo de gratidão a Deus.

Apostasia é um perigo real e constante, tanto para crentes individualmente quanto para congregações inteiras. Infelizmente, nós crentes nos tornamos muito presunçosos, parece que não existe qualquer perigo, vivemos como se não houvesse qualquer risco de apostasia. De fato, em todo momento da História da Redenção há tanto motivo para alegria quanto para lamento, alegria pela porção da Igreja que permanece fiel, por reformas e avivamentos na Igreja, e lamento pela apostasia que também devasta parte da Igreja na Terra.

Quando a igreja ou crentes individualmente ignoram o perigo da apostasia (infidelidade), perigo para o qual as Escrituras Sagradas intensivamente nos advertem; ou quando permanecemos impassíveis ou indiferentes aos indícios de apostasia, contribuímos com ela, com o progresso da apostasia, o avanço da falsa religião, e a devastação da Igreja.

O que caracteriza uma igreja infiel?

O livro de Apocalipse, o último livro da Bíblia (provavelmente também quanto a data de sua composição, não posterior ao ano 96 dC), contém sete pequenas cartas, a sete diferentes igrejas; estas cartas constituem uma solene exortação contra a infidelidade e encorajamento à perseverança na fé (Apocalipse 2-3), exortação de permanente significado e importância para a Igreja, até à volta do Senhor Jesus Cristo.

Uma igreja pode já estar andando no caminho da infidelidade e apostasia enquanto ainda preserva excelentes qualidades,  como por exemplo as seguintes igrejas, original e nominalmente endereçadas pelo livro de Apocalipse:
§   A igreja em Éfeso que era ativa no labor, disciplina, doutrina e tribulação (2.2-3), porém havia perdido o primeiro amor (2.4). Uma boa e real ilustração para a situação da Igreja de Éfeso é a diferença entre Marta e Maria quando receberam Jesus Cristo em sua casa (Lucas 10.38-42). Marta, ao hospedar Jesus, ficou “ocupada em muitos serviços”; Maria ficou “ficou assentada aos pés de Jesus a ouvir-lhe os ensinamentos”. Com a chegada de Jesus em sua casa, para Maria “o mundo parou”, nada mais importava; ela estava encantada com a presença de Jesus, se deliciava na comunhão com Ele, e queria somente ouvir os seus ensinamentos; daquele que, mais que a maior revelação, é a própria manifestação de Deus. Era provavelmente isto o que a igreja em Éfeso havia perdido, o ardente desejo conhecer a Deus, mais e mais, ouvindo Deus (Oséias 6.3).
§   A igreja em Pérgamo mantinha o testemunho público de Jesus Cristo em um lugar extemamente hostil, e fielmente enfretou mortal perseguição (2.13), mas passou a tolerar falsos ensinos e imoralidade (2.14-15). Enquanto era ainda ativa na Evangelização, a igreja em Pérgamo também já começava a se extraviar no caminho da infidelidade.
§   Em Tiatira, a igreja era muito ativa e operosa, manifestava amor e fé (2.19), porém tolerava uma falsa profetiza, e, consequentemente, imoralidade e idolatria (2.20-23). Como é impossível separar o amor do ouvir a Palavra de Deus (Salmos 119.167; João 5.38-42; 14.23-26; 15.7-13); a igreja em Tiatira ainda tinha ouvidos para a Palavra de Deus (pois nela ainda havia amor e fé); entretanto, também já dava ouvidos a falsos profetas e mestres, e estava dividida entre os escutavam a Palavra de Deus e os que queriam ouvir “as coisas profundas de Satanás” (2.23-25); isto é infidelidade e apostasia.

Entretanto, tristemente, o que era ruim poderia ser ainda pior; havia a real possibilidade da infidelidade e apostasia crescerem, de forma devastadora, como é possível constatar em outras duas cartas:
§   A igreja em Sardes, estava morta, a começar com aquele que ocupava o lugar de ministro da Palavra, o anjo da igreja (3.1), que já não pregava mais a Palavra de Cristo Jesus, “as palavras de vida eterna (João 6.68). Como conseqüência, naquela igreja, somente “umas poucas pessoas” estavam lavadas no sangue do Cordeiro (3.4; 7.14). Precisamos considerar isto seriamente, antes do fim do primeiro século, a igreja em Sardes já contava com uma maioria morta espiritualmente, que não conhecia a Salvação.
§   Antes do final do primeiro século, a igreja em Laodicéia era insuportavelmente arrogante e completamente enganada (3.15-17). Estas características parecem descrever, com muita propriedade, também grande parte do cristianismo contemporâneo.

Não podemos ignorar, permanecer impassíveis e omissos diante do real perigo de infidelidade ou apostasia na Igreja; pois, andar junto com uma igreja infiel é tomar o mais fácil enganoso caminho para o inferno.

Como evitar que uma igreja se torne infiel?

Embora a infidelidade seja um perigo real e comum, é importante enfatizar que a Igreja é exortada a permanecer fiel, e efetivamente pode permancer fiel. Jesus reina reina no Céu, e do Céu, sobre toda a Criação. Entretanto, logo que ascendeu aos Céus, Ele também enviou o Espírito Santo para conduzir a Igreja a toda Verdade (João 15.26-27; 16.13), e também deu-nos as Escrituras Sagradas completas. É assim, que embora entronizado no Céu, Jesus também se faz presente em sua Igreja na Terra (Apocalipse 1.10-20).

É através do fiel ministério da Palavra, seguido da fiel admininstração dos sacramentos (selos e sinais) da Palavra (batismo e santa ceia), e fiel disciplina (funcionamento) da Igreja que Jesus Cristo governa a sua Igreja na Terra e a mantém fiel. E é o ministério da Palavra que regula a administração dos sacramentos e funcionamento ou vida da Igreja.

Todas as sete cartas têm uma forma comum de introdução: “ao anjo da igreja... escreve”, e, igualmente, uma conclusão comum: “quem tem ouvidos, ouça o que o Espirito diz às igrejas”. É precisamente o que “foi escrito”, exatamente o mesmo que “o Espirito diz às igrejas” (pois a Palavra e o Espírito não se contradizem), que impede uma igreja tornar-se infiel. É a Palavra de Deus escrita, fielmente pregada e ouvida, que preservam a fidelidade da Igreja. Os ministros da Palavra devem conhecer a Escritura Sagrada, devem se alimentar dela regularmente, devem amá-la e honrá-la. A igreja deve desejar a Palavra de Deus mais do que o ouro, ou o mel (Salmos 19.10), e repudiar qualquer adulteração da Palavra (2 Coríntios 2.14-17; 4.1-2). Ambos, ministros da Palavra e igrejas, precisam reconhecer a centralidade de Jesus Cristo na Palavra de Deus; pois nÊle, a glória de Deus se revela de forma incomparável (2 Coríntios 4.3-6).

Igrejas podem permanecer fiés, como as que estavam em Esmirna  e Filadelfia, estas:
§   Não receberam do Senhor qualquer reprovação,
§   Tão somente foram exortadas a permacer fiéis, em face dos sofrimentos que estavam por vir (2.20; 3.10);
§   Ambas foram elogiadas – Esmirna, por ser rica, certamente em contraste com a sua pobreza material e a pobreza espiritual de Laodicéia (3.9; 3.17), e Filadéfia por haver guardado a Palavra (3.10).
§   Igualmente receberam a promessa da “coroa da vida” (2.10-11; 3.11-13).

Final e curiosamente, é nas cartas às igreja em Esmirna  e Filadelfia somente que são mencionadas as “sinagogas de Satanás” (2.9; 3.9); certamente porque aquelas, dentre as sete igrejas, eram o mais evidente contraste com as congregações judaicas que haviam rejeitado a Jesus, o Cristo.

Por quanto tempo pode uma igreja permanecer fiel? Pelo tempo em os ministros da Palavra se atenham à Palavra Escrita e somente preguem esta Palavra, e a igreja somente tenha ouvidos para ouvir a Palavra de Deus, o que o Espirito tem a dizer para a igreja. A Igreja permanece fiel enquanto reconhece a autoridade única e centralidade da Palavra de Deus, enquanto deseja ardentemente ouvir a Palavra de Deus.

Como restaurar uma igreja que se tornou infiel?

Não há dúvida de que é possível restaurar uma igreja que se tornou infiel. Se assim não fosse as igrejas em Sardes  e Laodicéia não teriam recebido as cartas que receberam. Porém é necessário que haja verdadeiro arrependimento (3.3, 19), não basta uma aparência ou rito de arrependimento; e a grande evidência do arrependimento que vivifica a igreja é o restabelecimento do fiel ministério da Palavra que prega somente o que “está escrito”, para uma igreja que somente se interessa em ouvir o que o “Espírito diz às igrejas”.

Cada crente tem o dever de ser membro de uma fiel igreja de Jesus Cristo, não pode, como Caim, se separar dela. Cada crente deve amar a Igreja de Cristo, e expressar isto vivendo na plena comunhão de uma fiel igreja de Cristo. Cada crente tem o dever de seguir o exemplo dos membros da “sinagoga dos judeus” na cidade de Beréia, os quais, em sua maioria, ouvindo a Paulo e Silas, “receberam a palavra com toda avidez, examinando as Escrituras todos os dias”, para conferir com o que ouviam (Atos 17.10-11).