Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria

Saturday 26 November 2016

Salvação é pela Graça, através da Fé

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé...” (Efésios 2.8)

Parte 1 – A Natureza da Salvação

Um inegável um grande otimismo caracterizou a segunda metade do século XX, especialmente à medida em que nos distanciávamos dos anos marcados pela Segunda Guerra Mundial. Além, disso, depois de um período de embate, a utopia socialista parecia caminhar para uma cooperação com o pragmatismo capitalista, para finalmente criar o sonhado mundo justo e próspero.

O otimismo durou somente até o começo do século XXI; e, agora, estamos testemunhando uma rápida e crescente onda de pessimismo mundial. Talvez,  o principal e definitivo marco desta mudança seja o acontecimento amplamente conhecido como o “September 11”. Além disso, a repetição freqüente de outros atos terroristas, as “guerras e rumores de guerras” apoiadas e patrocinadas por potências miliatres em lados opostos, a desilusão da União Européia, o empobrecimento dos países já pobres e a necessidade dos ricos protegerem suas economias que agravam problemas relativos ao comércio, migração e até de raça, agravam o temor de dias piores.

Pode ser que agora, neste mais sombrio “clima” mundial, mais pessoas estejam dispostas a considerar que o ser humano precisa de salvação, tanto social quanto individualmente; uma vez que os mais recentes “caminhos” propostos pela inteligência humana para alcançar a justiça, paz e prosperidade falharam.

Não obstante as esperanças que o contínuo, embora contraditório, progresso científico mantém, da verbosidade filosófica, e do empenho das artes por reavivar o sonho; a exposta decepção da religião e o inegável fracasso da política, de qualquer esfera e viés ideológico, reforçam as incertezas de um futuro melhor para a humanidade.

Neste contexto, devemos manter a confiança e, aproveitando o oportuno momento, comunicar a mais característica revelação das Escrituras Sagradas: a salvação vem de Deus (Salmos 62; Jonas 2.9), somente em Deus há esperança para os povos,e  para cada pessoa individualmente.

A Carta de Paulo ao Romanos nos dá um conhecimento preciso e completo a respeito desta salvação que vem de Deus. Entretanto, como preparação para tratar da “salvação que vem de Deus”, ainda bem no começo da carta, Paulo afirma que pela simples observação da criação em geral o homem adquire um conhecimento de Deus, suficiente para levá-lo a honrar a Deus, e lhe ser agradecido (Romanos 1.18-22). Por mais desconhecido ou misterioso que seja Deus, estando o homem tão completamente envolvido pela glória de Deus, manifesta na criação (Salmos 19.1), não há necessidade de que o homem veja e nem ouça a Deus, para honrá-lo e lhe ser agradecido.

Entretanto, a reação normal do homem é ignorar e suprimir todo conhecimento de Deus, possível através da observação da natureza. A indiferença ou recusa quanto ao conhecimento do Deus invisível acentua ou agrava o distanciamento entre o Criador e a criatura, que interpreta o seu abandono como se significasse a inexistência de Deus.

Excluindo Deus de seu universo, o homem desenvolve raciocínios inconsistentes e afeições desordenadas, incompatíveis com o propósito elevado para o qual foi criado; o que é incompatível até com a própria natureza e inteligência humana. Tal alienação de Deus, faz do homem um idólatra, um cultuador ou apreciador de coisas inúteis e até vis, e, cultuá-las como deveria apreciar e adorar somente a Deus. Não reconhecendo um Deus que antecede e é maior que toda a criação, qualquer objeto do maior respeito e devoção, ocupará na mente e coração do homem a posição que somente pertence a Deus; tal obeto será o seu deus. Um ídolo é um indevido substituto de Deus, e, por mais apreciável e desejável que seja, é indigno de ser o principal objeto da devoção do homem. Todo ídolo, se já não é em si mesmo, torna-se inútil ou vil.

A Carta de Tiago (4.1-10) indica que afeições indevidas e desejos descontrolados, efeitos da inimizade (ausência de amor) para com Deus, são as principais causas de contendas e guerras.

Ignorando o Criador Invisível, tanto o indivíduo quanto a sociedade idólatras revelam sua irracionalidade e falta de sentido ou propósito, pelo estabelecimento de padrões e “práticas inconvenientes” (Romanos 1.24-31). Provavelmente, mais do que nos dias do Apóstolo Paulo, hoje é extremamente apropriada a sua afirmação: “Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1.22).

O Apóstolo Paulo, sua Carta ao Romanos, ainda argumenta que a humanidade tem conhecimento de um decreto divino contra os que vivem de acordo com os mencionados padrões e “práticas inconvenientes”, desenvolvidos à revelia de Deus – eles são  passíveis de morte (Romanos 1.32).

Entretanto, antes, e como fundamento da sentença de morte, acima citada, está outro conhecimento, que também todo homem tem: o conhecimento de uma Lei que é contrária aos mencionados padrões e “práticas incovenientes”, adotados ou estabelecidos pelo homem, em parte, resultantes da sua recusa em reconhecer a existência de Deus, e sua responsabilidade perante o Criador.

Esta Lei pode estar em forma escrita como foi dada, uma vez à nação de Israel, por meio do profeta Moisés, ou simplesmente inscrita na consciência de cada indivíduo (Romanos 2.12-24), independentemente da cultura ou religião; embora a cultura e a religião possam influenciar no apreço ou descaso para com a Lei. Com muita propriedade, esta Lei é freqüentemente chamada de Lei de Deus.

Esta Lei é atemporal e universal (nunca se torna inadequada, não muda e não é relativa), começa com a afirmação da propriedade e dignidade do culto exclusivo a Deus, e é complementada pela declaração dos deveres do ser humano para com seus semelhantes (Exodo 20.1-17); o seu resumo é o dever do homem de amar a Deus na totalidade do seu ser, e ao seu próximo como a si mesmo (Mateus 22.34-40).

Assim como o conhecimento da Lei de Deus, o conhecimento da sentença de Deus ou sentença de morte contra os que transgridem a Lei, para alguns, é um conhecimento objetivo, que vem de fora, para outros é mais subjetivo, interno, intuitivo. E seja este conhecimento objetivo, como nos Dez Mandamentos (Exodo 20.1-17), ou subjetivo como na consciência que aprova ou desaprova determinados pensamentos, palavras e atitudes (Romanos 2.15), por mais que tentemos suprimí-lo, ele persiste, e o receio de um tribunal divino pode surgir intermitentemente na alma mais incrédula.

É de acordo com a Lei que Deus julga as obras dos homens (Romanos 2.6-11), qualificando-as como boas ou más, justas ou injustas, sujeitas a recompensa ou penalidade. Entretanto, toda a humanidade, contituída dos que Paulo exemplifica com os judeus (os que conhecem a Lei de Deus na forma escrita, nos “oráculos de Deus” (Romanos 3.2), como os que são chamados gentios, ou gregos, (os que conhecem a Lei simplesmente inscrita em suas consciências), todos são pecadores, transgressores (1 João 3.4) da Lei (Romanos 3.9-20, 23). Não há homem ou mulher capaz de cumprir a Lei, sem transgredí-la, em qualquer sentido, nível, ou momento.

É pelo conhecimento da Lei, esteja ela escrita em um livro, ou simplesmente na consciência humana, que vem também “o conhecimento do pecado” (Romanos 3.20). E, sendo todos, homens e mulheres, naturalmente transgressores da Lei (pecadores); a maior utilidade da Lei, não é, ao contrário do que muitos pensam, nos motivar ou ajudar a sermos justos, mas, nos trazer a uma atitude de arrependimento perante Deus, por nossa natural inconformidade e transgressão da Lei (Romanos 2.4-5).

Já vimos que a penalidade contra as chamadas práticas irracionais e inconvenientes (pecado ou transgressão da Lei), é a morte; e esta significa principalmente separação de Deus (Isaías 59.2; Romanos 3.23). Não é a invisibilidade de Deus que nos impede de conhecer e nos relacionar com Deus, mas os nossos padrões irracionais e práticas inconvenientes, o pecado ou injustiça, a transgressão da Lei eterna e universal, a Lei de Deus.

O pecado causa a morte; e esta morte é o tipo de separação de Deus que, ainda não estando consumada, se agrava na medida em que, separado de Deus, o homem persiste em viver como se Deus não existisse, não reconhecendo que tem responsabilidades perante Deus, e ignorando a sua Lei. Embora esta morte ou separação de Deus, em um processo contínuo de causa e efeito (morte causa pecado, pecado causa morte) tenda ao agravamento, ao ponto de se tornar até irreversível, ainda há salvação para o ser humano.

Entretanto, a esperança e salvação do homem, como indivíduo ou sociedade, dependem, não somente do reconhecimento da necessidade e vontade de mudar, reformar ou transformar, nem principalmente de um projeto de educação (como também muita gente pensa). Fundamentalmente, a redenção da humanidade começa com o arrependimento (Romanos 2.3-5), arrependimento de um conceito e estilo de vida que ignoram Deus.

Sim, “a salvação do homem vem de Deus”; é pela graça de Deus; e é mediante a fé que o homem é salvo, seja judeu ou grego, isto é, não importa a religião ou cultura (Romanos 3.21-26). A salvação vem de Deus porque é Ele quem misericordiosamente chama a humanidade ao arrependimento de suas más obras e injustiça; e, atender este chamado é uma atitude de fé; pois é ouvir a mensagem do Deus Invisível.

Esta mensagem de Deus, o cerne das Escrituras Sagradas, intermediadas da parte de Deus pelos Profetas e Apóstolos, é também denominada o “Evangelho” (boa-nova); é através dele que Deus chama todos os pecadores ao arrependimento. A boa notícia do Evangelho é que há salvação para a humanidade, do profundo e crescente abismo do distanciamento ou separação de Deus.

Há salvação do estado de morte ou separação de Deus a que o homem está sentenciado por causa de seus padões e práticas injustas; e não é através de obras (empenho em fazer o bem, por viver de modo justo) que o ser humano é justificado perante Deus, mas pela fé em Deus (Romanos 3.27-31).

Esta é a boa notícia em que consiste o Evangelho: há salvação para a humanidade; e, por mais difícil (impossível) que ela pareça; ela é de graça, mediante a fé, somente. Não depende de fazer o que não podemos fazer separados de Deus, ser justos; não depende de pagar o que não podemos pagar, nossas ofensas contra Deus e contra o próximo.

A boa notícia do Evangelho é que, embora transgressor da Lei, pecador, injusto, o homem pode ser justificado. Isto é, o homem pode ser perdoado de todas as suas injustiças, e ser reconciliado com Deus, por meio da fé em Jesus Cristo, o nosso Salvador (Romans 3.21-22).


Para quem não se convence pelas obras de Deus na criação; mas, quer ver (a Deus) para crer; o impasse permanece; não podemos ver a Deus. Entretanto, no Evangelho, Deus fala com o homem, chamando-o ao relacionamento consigo, o Eterno e Invisível Criador e Salvador. Ouça o que Deus fala no Evangelho.

Sunday 17 July 2016

O que É mais Difícil: Fazer um Jumento Falar, ou um Religioso Ouvir a Deus?

Lendo a Bíblia, no livro chamado Números (capítulos 22-24), o quarto livro da primeira parte da Bíblia, parte conhecida como o Antigo Testamento, deparamo-nos com a intrigante história do profeta Balaão; e com o estranho milagre de uma jumenta que falou.

Sim, este é um milagre estranho; porque, na Bíblia, os milagres têm um certo padrão. Em geral, eles consistem em criar, intensificar ou fazer cessar fenômenos naturais; há alguns poucos casos em que milagres causaram enfermidades, a grande maioria é de cura, e também alguns raros casos de ressurreição de mortos. Em geral, os milagres da Bíblia geram efeitos expectados, seja com temor, ou com esperança; por mais impossíveis que pareçam, ele têm uma certa racionalidade.

Papagaios, e algumas outras espécies de aves próximas daqueles, possuem uma impressionante habilidade de imitar a voz humana, repetindo palavras e expressões idiomáticas. Alguns cães parecem tentar acompanhar o canto de uma música. Porém, um jumento falar, e argumentar de forma perspicaz, isso é demais!

O meio mais comum de Deus se comunicar foi através de profetas, antes de comunicar por Jesus Cristo (Hebreus 1.1-2). Outras vezes se comunicou através de anjos (Lucas 1.26-27); ou, simplesmente, por uma "voz vinda do céu" (Mateus 13.17).

No livro de Gênesis, capítulo 3, lemos sobre o diálogo que a serpente teve com a mulher; porém, em Apocalipse 12.9, lemos que o “grande dragão (é) a antiga Serpente, que se chama diabo e Satanás”. Ainda assim, uma jumenta falando, é um relato bastante curioso, chega parecer lendário.

Por mais espetacular e estranho que seja, longe mim duvidar que aquela jumenta tenha falado, claro, somente naquele momento. Afinal, como disse Jesus: "para Deus tudo é possível", até fazer “entrar um rico no reino de Deus” (Mateus 19.24-26). Certa vez, para demonstrar sua autoridade divina para perdoar pecados, Jesus curou um paralítico, que passou a andar imediatamente (Mateus 9.1-8).

Deus é o Criador de um universo de "ilimitada" variedade, um mundo de impressionantes surpresas. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Salmos 19.1); porém, o homem se recusa a glorificar a Deus, e lhe dar graças (Romanos 1.21); e mais, “não há quem entenda, não há quem busque a Deus” (Romanos 3.11). Então, um milagre pode, ao menos por algum instante, fazer com que o homem pare e pense em Deus. Além disso, fazer um jumento falar diante de um líder religioso é algo especialmente sugestivo, instrutivo, apropriado e marcante.

Quem é Balaão? Muitos cristãos, hoje, tendem a "santificar" os judeus (israelitas), e "demonizar" os demais povos. Assim, Balaão é tido, por muitos, somente como um odioso inimigo dos interesses de Israel, e até indigno de qualquer tipo de comparação com o povo de Israel, ou com personagens história de Israel.

Entretanto, não deveríamos ignorar que Balaão é um descendente de Noé, com quem Deus fizera um Pacto de Salvação, após o Dilúvio. Nos dias de Abraão, não somente os povos cananitas, descendentes de Cam, filho de Noé, mas igualmente os povos jafetitas e semitas, também descendentes de Noé, estavam todos corrompidos. E, destes últimos, os semitas, também descende Abraão, pai da nação de Israel, e provavelmente o próprio Balaão. Havia muito tempo, as nações, de modo geral, haviam se afastado da fé, e desprezado a Aliança que Deus fizera com Noé, e suas gerações.

Portanto, devemos pensar em Balaão como um líder religioso, um profeta, entre um povo que tinha uma remota conexão com a fé do patriarca Noé, e com Aliança Salvadora que Deus fizera com Noé, e sua descendência.

Como foram vários corrompidos reis, profetas e sacerdotes na história de Israel, como pastores corrompidos, em igrejas deformadas no âmbito da cristandade, assim era Balaão no seu tempo; ele era um líder religioso projetado, e até temido, muito além de sua base, ao norte da Mesopotâmia, no mundo de então. Balaão era respeitado inclusive na distante terra de Canaã, lugar de uma multifacetada religião apóstata, nascida onde e quando morrera a fé legada por Noé aos seus descendentes.

No período entre Abraão e Moisés, outros dois líderes se destacaram, e de forma mais positiva que Balaão: o misterioso Melquisedeque que Abraão conheceu, também chamado "sacerdote do Deus Altíssimo, e que é um dos mais expressivos tipo de Jesus Cristo; e Jetro, um sacerdote de Midiã, sogro de Moises, mostrou-se um prudente conselheiro.

Balaão, entretanto, era possivelmente também um sacerdote, inegavelmente era um profeta, um influente líder religioso, típico de uma geração em decadência espiritual, moral e cultural.

Quando a nação de Israel, não por seus méritos, mas conforme o eterno propósito de Deus e sua infinita misericórdia, após sua libertação do cativeiro no Egito, e ao final de quarenta nos de peregrinação no deserto, começa a conquista da terra de Canaã, aparece Balaão.

Esse homem não era completamente ignorante sobre Deus. Ele mesmo considerava-se um homem com "olhos abertos", “que ouve os ditos de Deus” e que tinha “a visão do Todo-Poderoso” (Números 24.3-4). Ele sabia que como profeta deveria comunicar fielmente a Palavra de Deus (Números 22.18). Entretanto, Balaão era ao mesmo tempo um homem moldado para (e pela) busca da fama e poder. Ele conhecia e desejava a fama e o poder, mais do que servir a Deus. Como sua fama e poder foram obtidos por meio da religião, ele enganava, não somente aos outros, mas também a si mesmo com um falso zelo de profeta – uma falsa declaração da responsalidade de comunicar a verdade, a palavra (pensamento, propósito e vontade revelados) de Deus.

Deus conhecia o coração de Balaão, sabia que era um "marqueteiro" da fé, que trocaria (ou adaptaria) a verdade, a palavra de Deus, por um discurso que lhe trouxesse mais reconhecimento, ganho ou lucro.

Aparentemente, de acordo com a narrativa, Deus intervém, e, de alguma maneira, muda a rotina do religioso "poderoso" (Números 22.6), para falar diretamente ao tal profeta, e através dele. Deus ordena a Balaão que vá, e comunique fielmente o que ouvir, da parte de Deus. Balaão vai, mas, pensando que fará o que costumava fazer, um discurso agradável ao interessado, e receber um pagamento compensador.

Por longo tempo, Deus deixou Balaão enganar multidões que não se importavam em serem enganadas (que por várias gerações haviam abandonado a Aliança de Salvação feita por Deus com Noé e suas gerações), ao ponto de que esse profeta se tornasse conhecido internacionalmente. Porém, agora haveria de ser diferente; por isso, Deus enviou o seu Anjo, não um anjo qualquer, mas, o Anjo do Senhor, o seu Filho Eterno, o Redentor dos homens, Jesus Cristo, antes de sua encarnação.

Balaão, não no princípio, mas depois, viu Jesus Cristo, "com uma espada na mão". Teria sido somente deste modo que o profeta Balaão, pessoal e intimamente, experimentou a palavra de Deus, como uma "espada opositora", e jamais como o "pão” espiritual, pelo qual o homem vive (Mateus 4.4)? Teria Balaão visto Jesus somente com uma espada na mão, e não o teria conhecido como o “pão vivo que desceu do céu”, para dar vida ao pecador, reconciliando-o com Deus (João 46.35, 41, 47-51)? Irônico e contraditório, especialmente tratando-se de um profeta? Triste? Sim, mas infelizmente possível.

Por fim, impedido por Deus de enganar, naquela ocasião, Balaão falou a verdade, comunicou fielmente a palavra de Deus, e, o mais importante, comunicou o próprio Evangelho, referindo-se de modo simbólico à vitoria final de Jesus Cristo sobre os inimigos de Deus e da humanidade, da verdade, justiça e paz (Números 24.17); pois Jesus em sua obra redentiva é o propósito e cerne da Profecia (Apocalipse 19.10).

Entretanto, antes do profeta, foi a sua jumenta que viu o Anjo do Senhor, desviou-se, empacou, e foi espancada pelo profeta. Porém, “O Senhor fêz a jumenta falar” (Números 22.28), e falou a verdade, com justiça e sabedoria. O Apóstolo Pedro referiu-se a este fato, como se segue: “... Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça, porém, recebeu castigo da sua transgressão, a saber, um mudo animal de carga, falando com voz humana, refreou a insensatez do profeta” (2 Pedro 2.15-16).

Deus fez uma jumenta falar; contudo, e ainda mais extraordinário, Deus fez um religioso, um profeta corrupto, primeiro ouvir a Deus, e depois falar a verdade diante dos homens; e, isto sim, é mais difícil do que um jumento falar.

Este relato incomum, miraculoso e estranho deveria nos impressionar profundamente, pois este é, ainda que limitadamente, uma capacidade, função e objetivo de um milagre. É razoável que Deus, não para responder um arrogante desafio humano, mas, mediante sua soberana vontade e sabedoria, e condescendência, por causa da dúvida de um humilde pecador, às vezes faça sua palavra acompanhada de algum milagre. É por isso que na sua palavra escrita (as Sagradas Escrituras) encontramos registros de alguns milagres.

Entretanto, a jumenta falar não deveria nos causar mais admiração do que a nossa capacidade de ignorar a justiça de Deus, e de desprezar a palavra de Deus, mesmo sendo ativamente religiosos. Sendo do tipo religioso, ou não, precisamos algum dia pedir Deus, com humildade, sinceridade e intensidade: "Desvenda os meus olhos, para que eu comtemple as maravilhas da tua lei (palavra)"; e, "... Ajuda-me em minha falta de fé" (Marcos 9.24).

Precisamos também, sair da sombra dos religiosos poderosos (já mortos ou ainda vivos), saber que não precisamos de intermediários entre nós e Deus, exceto de Jesus Cristo que é Deus:
1.    Em carne, ou encarnado – para ser acessível a nós, ou identificar-se conosco, redentivamente;
2.    Na História – para ser distinto de qualquer mito religioso;
3.    Crucificado – para quitar nossa dívida perante a perfeita justiça divina;
4.    Ressurreto – para ser reconhecido e distinguido como o único Salvador;
5.    Entronizado nos céus – para subordinar todos os poderes, e levar à plena realização a sua obra redentiva;
6.    Havendo enviado o seu Espírito – para não nos deixar agora sozinhos;

7.    E que voltará – para por fim na Terra a injustiça, sofrimento e morte.

Thursday 11 February 2016

Tem Certeza de que Você É Livre?

Nós que vivemos em modernas democracias, nos julgamos pessoas livres. Cristãos, especialmente Evangélicos, também se gloriam de sua fé libertadora. Porém, será que somos livres, de fato?

Geralmente pensamos que escravos são pessoas pobres e tristes, de passado ou lugares remotos. Até podemos concordar em que há pessoas mais felizes do que outras, que, em geral, pessoas que vivem no chamado primeiro mundo são mais felizes que as que vivem no terceiro, que pessoas ricas e saudáveis são mais felizes que as pobres e doentes, e aquelas que vivem em lugares quentes e claros são mais felizes que as que vivem em lugares frios e escuros.

Apesar do Brasil não ser um país do primeiro mundo, os brasileiros são considerados e se consideram felizes, suas praias, suas festas, especialmente o Carnaval, são amostras desta felicidade. Por isso, os brasileiros também se sentem livres. Porém, nem todo escravo é infeliz.

Na verdade, preferimos a escravidão, desde que sejamos felizes; nos acomodados à escravidão e abrimos mão da liberdade, se o custo desta for alguma tristeza. A pior forma de escravidão é a enganada e passiva, quando trocamos a liberdade por alguma forma de felicidade, satisfação; como é por exemplo a escravidão ao álcool e às drogas.

Entretanto, existem formas mais sutís de escravidão, que aparentemente não trazem consequências tão devastadoras quanto a dependência do ácool e das drogas.

Pensemos na dependência dos modernos ídolos e shows da era mais rica e próspera da humanidade, apesar da miséria que assola várias regiões. Miséria que os habitantes do primeiro mundo ou os moradores das áreas nobres das cidades somente vêem como parte de algum show de TV, ou, poderiam ver, se passassem por ruas de alguma área abandonada na cidade, ou entrassem em algumas verdadeiras favelas, nunca nos ricos shopping centers.

Pare e pense em quanto você gasta para viver feliz: quanto custa o seu “smart phone” e o plano que você paga para desfrutá-lo? Quanto custa o pacote de TV por assinatura, e quanto a mais, você se quiser ver o jogo entre o Barcelona e Real Madri? Quanto custa o sapato, a bolsa, calça ou camisa de suas marcas preferidas?

Estamos pagando um altíssimo preço pela nossa felicidade, estamos gastando toda a nossa renda comprando as coisas que nos trazem felicidade. Além de comprometer toda a nossa renda, estamos pagando juros altíssimos para garantir nossa felicidade. Passamos a vida inteira pagando juros da casa ou apatamento, do carro, da TV, computador, tablet e similares. Pagamos juros de cartão de crédito para comprar alguma roupa de marca, ou aquela camisa com o número e o nome do nosso ídolo (deus) do futebol.

A idolatria desta moderna Babilônia (cidade ou sociedade) em que vivemos nos custa muito caro, nos faz vender nossa liberdade, a nós mesmos, para “comprar felicidades”. Idolatramos artistas, desportistas e nomes ou grifes; por isso, ao final de cada mês voluntariamente teremos trazido ao “altar” dos nossos ídolos grande parte do nosso salário, além do sacrifício ou consagração de nosso futuro (e de nossos filhos) na forma de juros e débitos.

Consideremos a presente situação do Brasil; o país está em meio a maior crise política, econômica, moral, social e de saúde pública, em toda a sua história. Isto acontece pouco depois de uma Copa do Mundo de futebol que deixou várias suntuosas arenas esportivas que que contrastam com grande calamidade vista nas reuas, especialmente em hospitais e escolas. Apesar disso, o recente Carnaval foi um sucesso, e os Jogos Olípicos estão se aproximando, debaixo de todos os holofotes.

Como povo e como indivíduos devemos tomar uma atitude, se percebemos que que nosso barco ou navio está indo de encontro a um iceberg, temos que fazê-lo parar, e mudar de direção. Não podemos continuar descansando no barco ou festejando no transatlântico.

Ainda que não estivéssemos vendo algum sério obstáculo à frente, deveríamos considerar que ele pode estar escondido, e que, se batermos nele, certamente afundaremos.
Pense, se não está na hora de “parar a festa”, o “culto dos nossos ídolos”, encarar, assumir a tristeza que isto vai causar, mas lutar (primeiro contra nossa própria natureza) para alcançar a nossa liberdade.

Não está na hora de parar de comprar os “produtos de nome”, os alimentos processados (mais gostosos e práticos, e mais caros e danosos à nossa saúde)? Que tal dizer não às roupas cujas marcas custam dezenas de vezes mais que o produto em si, e cancelar a TV por assinatura?

Como povo, não passou da hora de mostrar aos nossos líderes que não nos distraímos com “pão e circo”, e que fazemos questão de que eles prestem contas dos serviços para os quais foram eleitos ou designados?

É melhor, se necessário for, ser um triste liberto que um escravo alegre. É melhor ser um pobre livre que um rico escravo; um pobre livre faz melhor uso e investimento de seus parcos recursos que um rico escravo. Um triste pobre livre se enriquece; enquanto o alegre rico escravo se empobrece.




Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.  Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.  Ora, o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre.  Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres.  (João 8.31-36)

 E, como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e consumiu a todos. Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavame edificavam. Mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, consumindo a todos. (Lucas 17.26-29)

“Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza.  Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará. (Tiago 4.9-10)

 “Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos. (Salmos 126.5-6) 

Monday 11 January 2016

Precisamos de Povo e Governo que Amam e Respeitam a Vida

Na semana passada, ví pela televisão o presidente dos Estados Unidos chorar ao mencionar especialmente crianças mortas por aqueles típicos atiradores imprevisíveis que, de vez em quando, se tornam manchete. Imediatamente pensei, “lágrimas de crocodilo”, isto é, de político, com a finalidade atrair o povo e o congresso americano ao seu ideal e proposta de controle de armamentos.

Não tenho dúvida de que a transformação de “espadas em relhas de arado e lanças, em podadeiras” é um ideal e, mais que isto, uma promessa de Deus que um dia se cumprirá, em toda a Terra (Isaías 2.1-5). Acredito também que dão um grande exemplo de pacifismo, aquelas pessoas que, confiando na autoridade pública, andam desarmadas.

Porém, também entendo que o Estado não deve impedir o direito individual de defesa da vida e do patrimônio; principalmente, na proporção em que o Estado enfrenta dificuldades para assegurar esta proteção aos seus cidadãos.

Entretanto, é dever primordial do Estado punir severamente qualquer indivíduo que desrespeite ou atente contra a vida ou patrimônio alheio. Esta é seguramente a mais eficaz ação possível ao Estado, contra contra qualquer forma de violência, a mais eficiente forma de promover o desarmamento.

Mas, voltando ao choro do presidente dos Estados unidos, imediatamente sentí-me acusado pela consciência de estar passando dos meus limites; afinal, como posso estar certo de que ele não estivesse profundamente sentido pelas crianças mortas, ao ponto de chorar. Então, envergonhado e arrependido, abandonei a desconfiança, e respeitei sua lágrima.

Porém, poucos dias depois, ainda na mesma semana em que o presidente americano chorou pelas crianças assinadas a tiros, ele também vetou uma proposta de Lei que impediria o financiamento público de uma organização que promove a prática do aborto, chamada Planned Parenthood. Uma estimativa afirma que anualmente cerca de 320.000 vidas intra-uterinas são interrompidas nos Estados Unidos. Tal notícia trouxe de volta o pensamento, antes reprimido, a respeito do choro do presidente.

Infelizmente, a história e principalmente fatos atuais confirmam que não podemos depositar excessiva confiança em políticos. Assim como em qualquer outra área de serviço, a necessidade de remuneração, a ambição por uma melhor remuneração ou a simples conveniência da manutenção de um cargo podem ser as maiores motivações para atitudes e ações; os políticos em geral não são excessão. O simples desejo de ser aprovado ou aplaudido pela maioria é outro grande fator de motivação de nossas ações, uma característica tentação dos que estão em posição de liderança.

Políticos devem ser servos da justiça; é isto o que eles são: empregados do Estado, que existe para promover a justiça. Eles não deveriam agir para beneficiar um empresário, em detrimento de outros, seja por amizade, interesses partidários ou propina.

Políticos jamais deveriam agir motivados pelo desejo garantir que serão reeleitos, seja permitindo que o povo permaneça enganado, seja tentando enganar o povo quanto ao benefício e justiça de uma determinada lei ou ação. Ao contrário, como líderes que são, eles deveriam se inspirar nos verdadeiros profetas que alertavam e arrazoavam com povo, sacerdotes e reis, sobre a importância da justiça.

Votemos em favor de candidatos a cargos públicos que sejam comprometidos com leis e ações que protegem a vida, o trabalho e os bens que são fruto do trabalho. Precisamos ter todo o cuidado com os discursos eloqüêntes e acalorados, hoje potenciados pelos eficientes recursos de mídia, contudo, sutilmente enganosos.

Se os políticos não cumprem sua função, devem ser destituídos. Se eles usam seu cargo para promover a injustiça, devem ser também punidos. A multiplicação da violência nas ruas das cidades é alimentada e encorajada especialmente pela impunidade dos que exercem autoridade e poder.

Voltando novamente ao choro do presidente diante das câmeras, ainda devo admitir, posso não estar certo em meu juízo; seu choro pode ter sido sincero. Porém, por que ele não sente tanto pelos milhares de abortos anuais, em seus país? Sim, posso estar errado; pode ser que ele considere que o embrião humano não mereça o mesmo respeito de um ser humano, ou de uma criança.

E você, o que pensa? Considere isto, um embrião não é uma mera semente. O sêmen é um amontado de sementes; um espermatozóide é só uma semente, e o óvolo também é somente um ovo. Um espermatozóide, até morrer, jamais passará de uma semente; e um óvulo jamais deixará de ser um mero ovo, enquanto um espermatozóide não encontrá-lo, penetrá-lo e fecundá-lo; caso contrário, também morrerá como um ovo simplemente.  Porém, a partir da fecundação, ambos, o espermatozóide e o óvulo, deixaram de ser o que eram para se tornar algo novo, que chamamos de embrião. E, o que é o embrião? Ele é um ser humano já (imediatamente) concebido. Ninguém pode negar que o embrião é o ser humano em sua forma concebida, gerada. Um embrião, se não for interrompido, morto, será uma criança pronta para sair do ventre materno, e continuar o seu desenvolvimento, até se tornar alguém adulto.

É inútil a discussão sobre até quando um embrião humano pode ser intencionalmente destruído. Um embrião humano não é um ser humano imaginado (seja ele amado ou odiado); ele é um ser humano já concebido, gerado.

É poderoso o argumento, usado contra a degradação do meio ambiente e extinção de espécies vegetais e animais, baseado no interesse de nossas futuras gerações, que agora ainda existem. Este é um argumento baseado no respeito à vida, não somente à vida humana, mas também à vida em suas outras incontáveis formas de manifestação. Além disso, este é um agumento baseado na tese do respeito à vida humana, até em seu caráter potencial, gerações que ainda não vieram à existência.

De fato, precisamos mais do que simplesmente depender dos meios e instintos naturais para preservar o homem e as demais formas de vida que fazem da Terra um lugar único no Universo. Precisamos desenvolver um consciente respeito e amor à vida; amor e respeito que não somente se limite à sua manifestação presente, da qual fazemos parte, mas também à sua futura manifestação, mesmo que estejamos ausentes dela. Precisamos amar e respeitar as futuras gerações.

Se, portanto, devemos respeitar e amar os nossos (e também dos outros) filhos, netos, bisnetos e tataranetos que não nasceram, alguns dos quais nem conheceremos aquí, como não respeitar e amar os embriões, seres humanos em sua forma concebida, que já vivem?

Abortar é matar uma nova geração, seja ela minha ou de outrem, aborto intencional é falta de amor e respeito à pessoa humana. O aborto intencional é violência, um ato desumano.

Um Estado justo promoverá leis que protegem a vida de todos os seus cidadãos, ricos ou pobres, legítimos ou bastardos, desejados ou rejeitados, do presente e do futuro. Se alguma mãe ou pai, por qualquer razão que seja, não ama seu filho, este deve ser protegido deles, seja pela vizinhança, seja pelo Estado. Uma família adotiva é uma das melhores formas de impedir a intencional interrupção de uma vida humana, em seu estado intra-uterino.

Se a vida de uma gestante está em risco, ainda assim deve-se envidar todo esforço para proteger a vida de ambos; antes que, enfim, a angustiante decisão tenha que ser feita; como em algumas outras críticas situações, com profunda tristeza e frustração reconhecemos nossa limitação, se salvamos alguém ou alguns, mas não a todos.

Sejamos razoáveis, quem pode definir com quantas semanas ou meses de vida um ser humano pode ser abortado, e isto não se constituir crime (ato condenável). Se podemos considerar crime o corte de uma árvore ou a caça de um animal pelo que que isto trará às futuras gerações da humanidade, como não considerar crime interromper a vida de um ser humano já concebido?

Enquanto indivíduos, povo ou liderança, todos temos responsabilidade pelas decisões e posições que tomamos. Temos o dever de procurar identificar o que é honroso, justo e amável para, se necessário for, fazer disto uma lei (regra) escrita. Não podemos tentar transformar em lei algo que simplesmente nos seja conveniente, seja enquanto indivíduo, povo ou liderança. E a liderança tem a responsabilidade principal, não de agradar a indivíduos ou ao povo, mas de conclamá-los e ajudá-los a refletir sobre o que honroso, justo e amável.

Uma seqüência de maus líderes ou homens públicos (nos podêres executivo, legislativo e judiciário) pode causar a ruína de qualquer nação, inclusive de uma tão poderosa, como os Estados Unidos. Porém, o Brasil não tem tanto lastro; o Brasil não tem tanta “gordura”; no Brasil, o “fundo do posso” é mais próximo, não dá para esperar. Por isto, usando uma expressão bem característica do momento, o Brasil precisa ser “lavado a jato”.

Se o Estado cumprir o seu papel de guardar e promover a Justiça, e nós cidadãos observarmos os valores e princípios do Reino dos Céus, tão claramente expressos por Jesus em sua vida e ensinamentos registrados principalmente nos Evangelhos, o nosso país superará a presente crise, e ainda será uma forte e estável nação.