Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria

Friday 18 October 2013

Igreja e Culto: Realmente Precisamos dessas Coisas?


Igreja e culto são dois conceitos inseparáveis. Se traçarmos as orígens da palavra “igreja”, veremos que a Igreja é a comunidade de pessoas que adoram a Deus, em contraste com as que não adoram a Deus ou adoram falsos deuses. A Igreja é a comunidade de pessoas que adoram a Deus em espírito e verdade ou adoram a Deus conforme Palavra de Deus, em contraste com as que dizem que adoram a Deus, mas o fazem de acordo com sua própria vontade e imaginação.

De acordo com o livro de Gênesis, a igreja vetero-testamentária era uma comunidade familiar (a princípio) e tribal (depois), onde os ofícios de governante, profeta e sacerdot eram desempenhados pelo patriarca, e o culto era centrado no sacrifício de um animal (frequentemente um novilho ou um cordeiro). A partir do estabelecimento da nação de Israel, especialmente por propósitos revelacionais e didáticos, a Igreja em Israel, passou a ter um culto complexo, rico de simbolismo e rígidamente regulamentado. O culto tornou-se centrado no Tabernáculo (posteriormente no Templo edificado em Jerusalém), nos sacerdotes e suas funções.

A Igreja neo-testamentária, cujo crescimento e fortalecimento dependem de seu dever de evangelizar o mundo, praticar o amor fraternal e promover a instrução de cada membro, também cultua a Deus (Atos 2.42-47). É na Igreja da Nova Aliança (Igreja neo-testamentária) que o culto atingiu a sua plenitude e maturidade, em toda a história da Redenção, embora ainda não seja o culto perfeito, prestado agora no céu, e futuramente em “Novos Céus e Nova Terra”. O culto neo-testamentário tem algo da simplicidade do culto nas eras patriarcais e da riqueza da era de Israel, entretanto, não é simbólico, é “em espírito e em verdade” (João 4.23-24). O culto neo-testamentário pode ser definido em somente dois elementos: Palavra de Deus e oração. O culto neo-testamentário é o diálogo entre Deus e o homem, na forma plena e madura da Igreja que agora tem a revelação de Deus completa, na vinda de Jesus Cristo. No culto da Igreja da Nova Aliança, Deus fala na leitura e pregação das Escrituras Sagradas, e o homem responde em suas orações. Todos os demais elementos do culto neo-testamentário, que praticamos sem o risco introduzir “tradições de homens”, são ou estão intimamente relacionados com a Palavra de Deus e a oração: o batismo e santa ceia, que são os únicos elementos simbólicos (mas não meramente simbólicos), significam e lembram respectivamente os poderes purificador e nutriente da Palavra de Deus, e são a nossa resposta à Palavra de Deus, como a oração; os cânticos espirituais são proclamações da Palavra de Deus, ou são orações dos crentes; as ofertas, como as orações, são nossas respostas de gratidão diante da Palavra de Deus.

O culto neo-testamentário é o mais real, íntimo e profundo exercício da comunhão com Deus, que podemos desfrutar, antes de nossa ida para o céu, ou antes da volta do Senhor Jesus Cristo. Como Deus habita com a sua Igreja como um todo (como em um santo e grande templo na Terra) e em cada crente individualmente (também como em um santo templo), estamos ou vivemos o tempo todo em comunhão ou relacionamento com Deus, seja alegrando ou entristecento os Espírito de Deus (Efésios 4.30). Que aprendamos a viver em todo tempo com tal consciência, a fim de que não entristeçamos o Espírito Santo (Efésios 4.25-5.2). E o culto, como o mais íntimo e profundo exercício da comunhão com Deus, é o mais efetivo meio de nos dar, manter, restaurar e fortalecer esta conciência de que estamos em permanente relação com Deus.

As Escrituras Sagradas nos prescrevem três modalidades deste culto em que exercitamos esta mais íntima e profunda comunhão com Deus, através da Palavra de Deus e oração: o culto individual, familiar e congregacional. Estas não são três modalidades opcionais, como se pudessemos escolher uma ou duas opções somente, sem prejuízo para o nosso relacionamento com Deus, como indvíduos, família e igreja. Devido ao espírito altamente individualista de nossa era, entre muitos crentes hoje há uma tendência de se considerar como mais importante o culto individual. Assim como muitos, em suas próprias casas, também se isolam de seus familiares com os seus computadores e telefones multifuncionais, há também quem sinta-se satifeito isolado da Igreja, cultuando a Deus em isolamento, com os seus recursos de multimídia.

Como é possível considerar a Igreja uma instituição desnecessária, considerando seu significado e as suas funções já mencionadas? Como poderíamos evangelizar o mundo sem a Igreja? Como praticar o amor fraternal fora da Igreja? Como ser edificado e contribuir na edificação da Igreja, fora da Igreja? Como é possível oferecer continuamente as nossas vidas como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Romanos 12.1), isolando-nos da Igreja, em que fomos batizados por um só Espirito, isolados do corpo em que somos membros, cuja Cabeça é o próprio Senhor e Salvador Jesus Cristo (Romanos 12; 1 Coríntios 12)?

E cultuar a Deus (a principal característica da Igreja, e uma das funções vitais da Neo-testamentária que mencionamos), é possível cultuar a Deus fora da igreja? Antes, apresentar uma resposta a esta pergunta, consideremos um pouco mais extensamente sobre o culto.

Além do que já foi afirmado, que  culto  é o mais íntimo e profundo exercício da comunhão com Deus; devemos reconhecer que o culto é a manutenção, aprofundamento e o desenvolvimento de nossa comunhão e relacionamento com Deus. O culto é a contemplação e admiração do ser de Deus, da beleza, da glória de Deus; o culto é a reverente consideração a respeito do nome de Deus e nos atributos de Deus; culto é relembrar com gratidão as obras de Deus. Culto, portanto, é também prazer, o prazer do conhecimento de Deus, o prazer da comunhão com Deus. Culto é tributo ou honra que a criatura deve ao seu Criador. Culto é oferecimento, oferta, dedicação a Deus de parte do muito que Deus nos tem dado, como símbolo que nós mesmos inteiramente pertencemos a Deus.

Enfim, culto é atenção, foco em Deus, o único Criador do céu e da terra, e de tudo o que neles há, o Soberano Senhor de toda a criação, Aquele que chama cada ser à existência e se torna o seu grande mantenedor, o Juíz de todos os seres morais, e o único Redentor dos pecadores.

Deus é digno do culto de todas as suas criaturas, mas Ele mesmo não precisa do culto. Nós, criaturas, sim, precisamos cultuar a Deus. Cultuar a Deus éa  maior alegria, satisfação e realização que o ser humano pode experimentar. Cultuar a Deus recupera e desenvolve em nós a imagem e semelhança de Deus. Contudo, a nossa recusa em adorar a Deus faz com que, apesar de nossa inteligência muito supeiror à dos animais, sejamos irracionais, desafeiçoados e perigosos, mais que qualquer dos mais temíveis predadores da terra (Romanos 1.18-32).

Foi de Deus a primeira menção ao culto, no fim da semana da Criação, quando Deus abençoou e santificou o sétimo dia (Gênesis 2.1-3). Após a libertação do cativeiro Egípcio, ao dar ao seu povo Israel as duas tábuas da Lei, em Dez Mandamentos, Deus reitera a ordenança relativa ao culto, no quarto mandamento (Êxodo 20.8-11). Tanto na instituição original quanto na entrega dos Dez Mandamentos, a idéia de culto como admiração do ser de Deus e das obras de Deus (Criação e Redenção) é evidente. Consequentemente, também está presente nestas passagens da instituição do Dia de Descanso, a idéia de prazer. Prazer, não tanto pelo descanso do trabalho diário, mas pela contemplação do glorioso ser de Deus e suas maravilhosas obras. Entretanto, há muitos, incluindo cristãos, que preferem passar este Dia nos parques, shoppings, cinemas e estádios de futebol.

A idéia de culto como relacionamento está presente também nos primeiros capítulos de Gênesis, no próprio relato da Criação do homem, quando vemos Deus falando com o homem (Gênesis), a respeito de importantes assuntos: a responsabilidade do homem quanto a trabalhar na Criação e o seu privilégio de desfrutar da Criação (Gênesis  2.16), a absoluta necessidade de obedecer a Deus para evitar a morte (Gênesis 2.17), e a singularidade do relacionamente entre o homem e a sua esposa (Gênesis 2.21-25).

A idéia de culto como um tributo ou honra a Deus, o Senhor e Provedor, também aparece no começo do livro de Gênesis, quando Caim, o lavrador, e Abel, o pastor de ovelhas, trouxeram a Deus ofertas do trabalho (Gênesis 4.1-7).

Entretanto, desde a entrada do pecado na história do homem, o culto precisa ser o acompanhamento de uma oferta de sangue, como se pode ver na própria diferenciação feita entre a oferta de Caim e Abel. Conforme o livro de Gênesis, Abel foi o primeiro homem a oferecer a Deus um sacrifício de sangue dentre os animais do seu rebanho; partir de Abel, os patriarcas como Noé e Abraão também o fizeram; até que o profeta Moisés instituiu os sacrifícios realizados no Tabernáculo por meio dos sacerdotes, descendentes de Arão.

A oferta de sangue não é um tributo ao Deus soberano Criador, mas uma penalidade exigida por Deus como o Soberano Juiz. Assim como os tributos originados do trabalho ao Criador simbolizavam a própria vida do ofertante consagrada a Deus; a oferta de sangue simbolizava a expiação dos pecados dos ofertantes (Levítico (17.11), e principalmente a oferta da vida (sangue) do vindouro Redentor, em favor,  ou em lugar dos homens e mulheres, condenados à morte por causa dos seus pecados (João 1.29; Herbreus 9.11-14). Isto porque, a justiça de Deus ordena: “a alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18.4); “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23). O Redentor é Jesus Cristo; e ele já cumpriu na História, o que antes fora profetizado e tipificado. Por esta razão, o antigo sacrifício de cordeiros foi substituido pelo memorial da santa ceia, em que o pão simboliza o corpo de Jesus Cristo, o eterno Filho de Deus encarnado para ser o nosso Redentor; e o vinho representa o sangue ou a morte de Jesus Cristo em lugar dos seus redimidos (João 6.50-58).

Agora sim, voltemos à pergunta: é possível cultuar a Deus fora (separado) da igreja? Consideremos o significado do batismo; o batismo significa nossa regeneração (nascimento para Deus). Ja vimos que pelo Espírito Santo fomos batizados nos corpo de Cristo – a Igreja (1 Coríntios 12.13). Quando nascemos para Deus, nascemos em uma família – a Igreja (Efésios 2.17-22). Consideremos a  santa ceia; esta é uma refeição espiritual da qual somente participam os que foram  “lavados de seus pecados no sangue” de Jesus Cristo, e o alimento é o próprio Cristo. Esta é a refeição espiritual ou a comunhão dos discípulos de Jesus Cristo, a verdadeira família de Deus. Não pode cultuar a Deus quem ainda não nasceu para Deus, não foi introduzido na família de Deus, e não vive em comunhão com a família de Deus.

Como pode cultuar a Deus alguém que não compartilha da comunhão, das responsabilidades, serviços e das necessidades (materiais ou espirituais) do crentes, os filhos de Deus que constituem a Igreja ou as igrejas? O apóstolo Paulo, em sua carta à igreja em Filipos, compara a culto (sacrifício cultual) ao que ele chama de “serviço da vossa  fé”, o serviço realizado pela igreja (2.17); depois, o apóstolo compara o suporte que vinha recebendo da igreja, para realizar o seu ministério, com um “sacrifício aceitável e aprazível a Deus (4.18).

Como pode cultuar a Deus alguém que abandona a sua congregação (Hebreus 10.25), que não cultua “com os lábios” juntamente com a igreja (congregação), ou que não complementa o culto oral com o culto prático, ambas atitudes comparadas a sacrifícios cultuais (Hebreus 13.15-17)?

Como poderíamos ignorar a grave exortação do Senhor Jesus Cristo: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro e reconcilia-te com o teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.” (Mateus 5.23-24). Quem abadonou a Igreja feriu a muitos irmãos. Não pode cultuar a Deus quem desconhece o prazer da comunhão dos filhos de Deus, e ignora o prazer de Deus na unidade de seus filhos (Salmos 133).

Culto a Deus é algo que fazemos perante o céus, diante da nações, e no meio da congregação ou assembléia dos santos, os que foram separados para o louvor de Deus (Êxodo 19.5-6; 1 Pedro 2.9). Na leitura e pregação da Palavra de Deus desfrutamos do prazer de conhecer e anunciar a Deus, de contemplar e proclamar as obras de Deus como Criador, Soberano Senhor, Juíz e Redentor, diante da congregação, perante a terra e os céus. Definitivamente, não cultua e nem sabe o que é cultuar a Deus quem consegue reprimir no peito, fechar os ouvidos e calar a boca no meio da congregação dos filhos de Deus e perante os povos, a proclamação das grandezas de Deus, seu ser e suas obras.

O significado da oração, cuja palavra original grega significa “adoração”? A oração é definida no como no Breve Catecismo de Westminster, parcialmente, como “o oferecimento de nossos desejos a Deus”. Como se vê nesta parcial definição, oração é em essência uma atividade plural, uma ação congregacional. Esta é a razão porque devemos envolver outros crentes em orações. Não é, absolutamente, por causa do número de pessoas orando por um determinado assunto que Deus atenderá ou não, a oração. A razão por que devemos envolver outras pessoas em oração é o fato de que, como culto que é, a oração nunca é particular, mas sempre congregacional.

Consideremos o conteúdo do exemplo de oração dado por Jesus Cristo, em resposta aos discípulos que pediram que lhes ensinasse a orar. O exemplo de oração dado por Jesus não é nada particular, mas congregacional: “Pai nosso”... o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; perdoa-nos nossas dívidas, assim como temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal...” (Mateus 6.9-13).

É aceitável a Deus o culto (particular ou familiar)de quem se isola da Igreja, em deliberada desobediência a Deus? Não, pois obedecer a Palavra de Deus é melhor que sacrificar” (1 Samuel 15.22).

Igreja e culto, sim, precisamos destas duas coisas inseparáveis. Em estrito senso, como temos visto, não existe culto individual ou particular. O culto que fazemos no mais profundo abismo, na solidão de uma prisão, na mais alta montanha, ou no quarto fechado, não é na verdade um culto individual; não culto individual porque em separado de Jesus Cristo não há culto; não somos recebidos à presença de Deus sem a oferta do sangue de Jesus Cristo e de sua vida de perfeita justiça. Não há culto particular porque Jesus Cristo não pode ser propriedade particular de qualquer crente; mas todos e cada um dos verdadeiros crentes são inalienáveis propriedades de Jesus Cristo, membros do seu Corpo. Jesus Cristo não se separa de sua verdadeira Igreja; ela é a sua esposa de quem não pode se divorciar. Quanto aos pecados da Igreja, Jesus Cristo deu o seu próprio sangue para lavá-la de todo pecado.

O culto de quem não ama a Igreja de Cristo, se isola da Igreja, e a despreza, não é culto, é uma tola tentativa de comprar o favor de Deus com uma oferta cômoda e barata. Porém, Deus não se engana, Ele conhece o coração de quem odeia ou despreza a sua Igreja, a qual Ele ama com eterno amor, e pela qual, não poupou, mas deu o único possível Redentor, o seu próprio, unigênito, eterno e amado Filho, Jesus Cristo. Deus sabe que quem não ama a sua Igreja, também não o ama; se alguemnão ama a noiva, não pode amar o noivo que ama a noiva com eterno e ilimitado amor. Quem não ama a Igreja de Deus é meramente um velho homem, morto em seus pecados.

 

Wednesday 9 October 2013

A Face de Deus: Podemos Vê-la?


Não podemos contemplar toda a beleza e glória da face de Deus; nossos olhos, embora estejam entre as maravilhas da criação, não são capazes ver a face de Deus, infinitamente mais radiante que o sol. A nossa compreensão, embora suficientemente grande para elaborar os mais complexos cálculos e desenvolver incríveis idéias, é limitada na compreensão do ser de Deus. Podemos tomar conhecimento de atributos divinos, porém, não compreendê-los, nem mesmo um só deles, em sua infinitude, profundidade, largura e altura.

O profeta Isaías registrou que viu “o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono” (Isaías 6.1). Porém o profeta não dá qualquer descrição visual do Senhor, exceto que “as abas de suas vestes enchiam o templo” (Isaías 6.1), mas registrou que também viu Serafins (ordem de anjos) que  tinham seis asas: com duas voavam por cima do trono, mas com duas cobriam os pés, e com duas cobriam o rosto. Até os anjos que jamais pecaram, em reverência, cobrem os olhos diante da santidade de Deus.

Isaías viu um pouquinho da infinita glória de Deus; pois em sua visão o Senhor estava em um templo; entretanto não há templo que possa conter Deus; conforme Salomão orou a Deus na inauguração do Templo de Jerusalém, que era mero símbolo da invisível, mas real, presença de Deus; o rei Salomão disse: “nem os céus e até os céu dos céus te podem conter” (1 Reis 8.27).

O apóstolo João também teve uma visão da glória de Deus (Apocalipse 4-5). João registrou que viu “armado no céu um trono, e, no trono, alguém alguém sentado” (Apocalipse 4.2). Embora João mencione ter visto “a mão direita daquele que estava sentado no trono”, sua mão foi mencionada somente para se referir ao livro (Apocalipse 5.2) que estava para ser entregue por Aquele que estava sentado no trono ao Cordeiro, Jesus Cristo (Apocalipse 5.6-7). O livro entregue significa a revelação e a certeza do cumprimento do decreto redentivo de Deus.

Entretanto, quando João descreve quem está assentado no trono, ele assim o faz: (Ele) “é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de sardônio”. João não viu a Deus, nem a face de Deus, ele viu um pouco da glória de Deus.

Muito tempo antes de João e Isaías, o profeta Moisés pediu a Deus para ver a sua glória. Deus respondeu a Moisés dizendo que lhe mostraria a sua bondade e misericórdia; mas a sua face não seria vista; pois Deus disse : “homem nenhum verá a minha face e viverá” (Êxodo 33.17-23). Entretanto, quando Moisés descia do Monte Sinai, após Deus haver falado com ele, o povo viu que a pele do seus rosto trazia um brilho, um reflexo da glória de Deus (Êxodo 34.29-35).

Não temos olhos que possam ver a radiante glória da face de Deus; mas podemos ouvir a sua voz, que embora poderosa, mais que o estrondo dos trovões, quando os pecadores desafiam a sua justiça; ela também soa suave como uma leve brisa quando, anunciando a sua misericórdia e perdão, e chamando os pecadores ao arrependimento dos pecados e fé em Jesus Cristo.

Sim, além da limitação ou natural incapacidade de nossos olhos para contemplar a glória da face de Deus; nossos pecados nos impedem de contemplar a face de Deus; porque os nossos pecados nos distanciaram completamente de Deus, e da sua glória: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23).

Os nossos pecados nos fizeram morrer para Deus (nos tornamos espiritualmente mortos), ou seja, ficamos completamente desinteressados no único e verdadeiro Deus, desinteressados nos seus verdadeiros atributos, que são como espectros de Sua glória: Deus é (O) Espírito, em si e por si infinito em seu ser, glória, bem-aventurança e perfeição; todo - suficiente, eterno, imutável, insondável, onipresente, infinito em poder, sabedoria, santidade, justiça, misericórdia e clemência, longânimo e cheio de bondade e verdade (Catecismo Maior de Westminster). Mesmo tendo conhecimento de alguns atributos divinos, não temos nenhuma compulsão natural para adorá-lo.

Os nossos pecados nos fizeram espiritualmente cegos, não reconhecemos a glória de Deus nem na Criação. Somos capazes de contemplar os céus, a terra e as maravilhas que a enchem, e não tributar a Deus “a glória devida ao seu nome” (Salmos 96.8).

O pecado, de tal modo, corrompeu o nosso ser que não queremos conhecer e contemplar a glória de Deus; na melhor das hipóteses, se houver um mínimo de interesse, consciente ou inconscientemente, deixamos isto para os últimos momentos da vida, ou para depois da morte. Preferimos as glórias passageiras deste mundo.

Nossa condição de pecadores distorce qualquer noção de Deus; não podemos vê-lo, imaginá-lo e nem conhecê-lo, como Ele realmente é; e assim criamos os nossos ídolos. E, aos que querem e adoram a Deus, Ele proíbe que se faça qualquer tentativa de representá-lo através de imagens. Qualquer tentativa de imaginar Deus somente cria um ídolo.

Não podemos ver a Deus, ou ver a face de Deus. Isto porém não significa que não possamos conhecer e ter comunhão com Ele. Este conhecimento e comunhão acontece pelo ouvir a voz de Deus, e isto, como já mencionado, é possível porque Deus falou aos homens, pelos profetas, e finalmente através de Jesus Cristo (Hebreus 1.1-3); e o que Deus falou está registrado nas Escrituras Sagradas. Porém, assim como somos mortos e cegos para Deus, também somos surdos. Entretanto, Deus, e Ele somente, tem o poder de nos fazer ouvir a sua voz, abrir os olhos para contemplar a sua glória, e reviver para eterna comunhão com Ele.

Entretanto, aprouve a Deus que vissemos sua face na face do próximo, para testemunho da sua gloriosa existência. Toda a criação proclama a existência de Deus (Salmos 19.1), e o homem é a evidência final e conclusiva da grandiosidade do Criador (Salmos 8.1-6). O homem é a cópia de Deus na natureza, a coroa da Criação (Gênesis 1.27). Quis Deus que homem fosse sua imagem ou reflexo, para que ao ver o seu próximo, o homem visse a Deus, além, antes ou acima. Infelizmente, hoje, muitos olham para traz do homem e somente vêem a figura de um macaco, quando deveriam ver somente a poderosa mão de Deus.

Sendo o homem a imagem e semelhança de Deus, devemos entender que Deus é gente, ou seja, um ser pessoal. Como o homem é único no meio de toda a Criação, Deus é uma pessoa absolutamente única, não há quem seja igual a Ele. Os homens e também os anjos têem semelhanças com Deus, mas não são iguais a Ele. Deus é um ser absolutamente único, especialmente em eternidade, infinitude, e imutabilidade. Os homens e os anjos tiveram um começo, foram criados por Deus; Deus é Eterno. Aos homens e aos anjos, Deus deu poderes e habilidades admiráveis, incomparáveis com o restante da Criação, mas somente Deus é infinito em sabedoria e poder (Onisciente e Onipotente). Homens e anjos são mutáveis, para o bem ou para o mal; somente Deus é imutável em todos os seus santos atributos.

Devemos ver a face de Deus no próximo também para respeitá-lo e amá-lo como criatura de Deus, a criatura que é a imagem e semelhança do Criador. Devemos ver a face de Deus no próximo para que sejamos lembrados e estimulados a ser agentes de Deus no âmbito da Criação, mais parecidos com Deus, especialmente no relacionamento com o próximo.

Quis Deus que, mesmo após nos tornarmos pecadores, víssemos sua face nos famintos, sedentos,forasteiros, nús, enfermos e presos (Mateus 25.31-46) para que, enquanto peregrinamos neste mundo transtornado pelo pecado, sejamos movidos pela divina compaixão e socorressemos uns aos outros.

Jacó viu a face de seu irmão Esaú como se fosse a face de Deus (Gênesis 33.10), para que não somente temesse as consequências de seus pecados contra Esaú, mas para que se arrependesse de seus pecados contra Esaú, para confiar no poder de Deus para mudar o coração do homem, e, enfim, para que confiasse no perdão divino (Gênesis 33.1-11).

Ver a face de Deus no próximo ou reconhecer o próximo como criado à imagem e semelhança de Deus deveria nos levar diretamente a admitir nossos pecados (contra o próximo e contra Deus), e à busca do perdão. Qual será o futuro próximo desta geração que nega o divino Criador, e assemelha o homem ao macado ao invés de reconhecê-lo como a semelhança de Deus?

Podemos ver a Deus na face de Jesus Cristo; e somente na face de Jesus Cristo podemos ver a verdadeira face de Deus, não entretanto, na face física de Jesus, senão nas suas expressões, infalivelmente em todas as expressões de Jesus, isto é, suas atitudes, palavras e obras.  As Escrituras Sagradas, nos dão um completo e perfeito retrato de Jesus Cristo. É através das Escrituras que vemos a face de Jesus Cristo, e, na face de Jesus Cristo, a face Deus (2 Coríntios 4.3-6).

O que é impossível aos nossos olhos foi feito possível em Jesus Cristo. Em Jesus Cristo nós vemos a glória da face Deus de um modo que nem o primeiro homem e a primeira mulher chegaram a ver, antes que houvessem  pecado.

Jacó (que significa trapaceiro), após o encontro com Deus em uma aparência humana (uma alusão profética Jesus Cristo) teve o seu nome mudado para Israel (que significa príncipe com Deus). Após este encontro (Gênesis 32.22-32) Jacó disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva (Gênesis 33.30).

Se vemos a face de Deus no próximo, mediante a lei de Deus gravada em nossa alma e sob influência do Espírito Santo, reconhecemos que somos pecadores e que precisamos de perdão; quando vemos a face de Deus na face de Jesus Cristo somos salvos.

Alguns viram um pouquinho da glória de Deus. Entretanto, “ninguém jamais viu a Deus; (contudo) o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (João 1.18).

Quem vê a face de Deus em Jesus Cristo é salvo porque, além de ver a absoluta justiça de Deus, vê o infinito amor de Deus, a incompreensível misericórdia de Deus.

Precisamos de Jesus Cristo para ver Deus como Ele realmente é, e para que sejamos salvos. Somente em Cristo Jesus podemos ver e entender como se relacionam a justiça e o amor de Deus em relação a nós pecadores, trangressores da ;ei de Deus.

Jesus Cristo é o unigênito e eterno Filho de Deus que se encarnou (João 1.1-3,14), para ser levantado ou entregue na cruz por causa dos nossos pecados, perante a justiça de Deus, para que, nÊle crendo, sejamos salvos, recebendo o dom da vida eterna  (João 1.29; 3.13-17). Crer em Jesus Cristo é ver nÊle a face de Deus.

Sem Jesus Cristo, sem uma crescente apreciação por Jesus Cristo, somos seduzidos pelas mais diversas idolatrias. Crendo em Jesus Cristo, vendo nÊle a face de Deus, somos plena e continuamente satisfeitos no conhecimento, e crescemos na comunhão com Deus.

Conclusão, por que não vemos a face de Deus? Em parte porque não podemos, em parte porque não queremos. Queremos ser independentes e iguais a Deus; o que não podemos; e não queremos ser  a imagem e semelhança de Deus; o que, e para o que fomos criados; e esta é a essência do pecado.

Por que queremos ver a Deus com os olhos que não podem contemplar o sol? Por que queremos compreender Deus com a mente que não compreende o universo? Por que permitimos que a limitada, mutável e contraditória ciência humana defina Deus para nós, negando-lhe o atributo de Criador?

Não podemos ver a face de Deus como somente Deus pode ver, como Jesus Cristo, o Filho, vê a face do Pai. Mas podemos ver Deus revelado em Jesus Cristo. Jesus Cristo é a única revelação de Deus que é, ao mesmo tempo, exata para com Deus e compreensível para conosco. Em Jesus Cristo, e somente nÊle, conhecemos a Deus verdadeiramente, e somos imediatamente salvos, entrando em uma eterna relação de amor com Deus.

Conheça a Jesus Cristo, e você conhecerá a Deus, e saberá que está salvo.