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Thursday 25 July 2013

Cristo, o Anticristo e o Papado


O “anticristo” é um concorrente de Jesus Cristo; portanto, o anticristo não é necessariamente contra o conceito do Cristo; ao contrário e mais frequentemente, o anticristo tira proveito do conceito Cristo. Aqueles que têm alguma familiaridade com a Bíblia, as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos sabem que o Cristo é o Salvador ou Redentor prometido por Deus, através dos Profetas do Antigo Testamento, cujo cumprimento e vinda foram testemunhados pelos Apóstolos no Novo Testamento. Portanto, o anticristo é também, em princípio, um conceito que pode ser identificado como um “falso Cristo”.

O Cristo é alguém que foi anunciado como vindo para exercer, de fato, o que três ofícios tão preeminentes no Antigo Testamento simbolizavam ou limitadamente realizavam:

§  O Profeta que comunicava ao homem a mensagem ou palavra de Deus;

§  O Sacerdote que apresentava a Deus animais sacrificados como simbólica expiação pelos pecados dos homens;

§  O Rei que, com justiça e bondade, devia governar a comunidade do povo ou filhos de Deus.

Estes ofícios foram exercidos por muitos diferentes servos de Deus. Em Israel, Moisés e Samuel  aparentemente exerceram os três ofícios; eles foram profetas e sacerdotes; embora jamais tenham sido reis, eles inegavelmente exerceram governo em Israel, antes que houvesse rei. Além de Moisés, temos no Antigo Testamento uma longa lista de profetas, como Elias, Elizeu, Isaías, Jeremias e muitos outros; Arão e Samuel são os mais conhecidos sacerdotes; assim como Daví e Salomãosão os mais notáveis reis. Todos os profetas, sacerdotes e reis, além do limitado serviço que prestaram, são meros tipos de uma figura infinitamente superior, o Cristo; porque é este unicamente quem, real e perfeitamente, cumpre os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei, na relação entre Deus e a humanidade.

O Antigo Testamento criou e difundiu, não só em Israel, mas, entre muitas outras nações, a expectativa da manifestação ou vinda do Cristo, a “expectativa Messiânica”. “Messias” é o correspondente hebraico à palavra grega “Cristo” que literalmente significa “ungido”, alguém escolhido, apontado e habilitado por Deus para o exercício de um ofício. Os profetas, sacerdotes e reis foram vários e provisórios; O Cristo é único e eterno.

O Novo Testamento é o testemunho escrito do cumprimento da promessa (também escriturada) do Antigo Testamento. O Novo Testamento é o testemunho de que o Cristo é Jesus, o (eterno) Filho de Deus, mas também descendente de Daví, “segundo a carne” (Romanos 1.1-6), e por isso, filho de uma virgem chamada Maria (Mateus 1.18-23; Lucas 1.26-35), nascido em Belém da Judéia (Mateus 2.1), também conhecido como Jesus de Nazaré (Mateus 2.19-23).

Jesus Cristo é o Profeta; porque Ele, não somente trouxe aos homens a Palavra de Deus (como os outros profetas); mas, sendo o Eterno e Unigênito Filho de Deus Ele é, em pessoa, a final e completa revelação de Deus aos homens (João 1.1-8). Jesus é o Sacerdote; porque, pelos pecados dos homens, Ele ofereceu, não repetitivos sacrifícios simbólicos de animais, mas ofereceu, uma só vez e definitivamente a si próprio como o único sacrifício real eficaz pelos pecados dos homens. Isto foi realizado porque Jesus Cristo é o Eterno Filho de Deus encarnado (em natureza humana); portanto, legítimo representante do homem, mas absoloutamente Santo, por isso o seu sacerdócio (intercessão) é irrecusável perante a justiça divina (Hebreus 7.20-28). Jesus Cristo é o Rei; porque Ele, como já indicava o Antigo Testamento (Isaías 9.6-7; Malaquias 3.1), é mais que qualquer mero homem, é Deus encarnado (João 1.1-3,14); e, após morrer “pelos nossos pecados”, Ele “ressuscitou ao terceiro dia” (1 Coríntios 15.3-4), tornando-se o vitorioso Redentor dos filhos de Deus, com e sobre os quais reina eternamente (Filipenses 2.5-11).

O anticristo não é, como muitos pensam, algo ou alguém que vai aparecer somente no derradeiro final de uma era. O anticristo tem estado presente em toda esta última era que já dura aproximadamente 2000 anos, que podemos chamar a “Era da Igreja da Nova Aliança” (1 João 2.18).

O anticristo é a personificação de uma força ou movimento que habilita muitos “anticristos”. Ambos, o anticristo e os anticristos, são principalmente desertores da fiel Igreja de Cristo Jesus, por haverem abandonado a “verdade”, ou seja, o fiel testemunho de Jesus Cristo, como o encobtramos nas Escrituras Sagradas do Antigo e Novo Testamentos (1 João 2.18-26). O anticristo e os anticristos têm por propósito e meta afastar ou impedir que homens conheçam plenamente e confiem absolutamente em Jesus, o Cristo, para sua salvação, a vida eterna, ou reconciliação e eterna comunhão com Deus (1 João 2.22-26).

Como já indicamos, o anticristo (e igualmente os anticristos) não se opõe diretamente ao conceito de Cristo. O anticristo pode negar que Jesus é o Cristo, que Jesus Cristo é verdadeiro homem (nascido da virgem Maria) e verdadeiro Deus (o Eterno Filho de Deus). O anticristo pode não se opor direta ou claramente a Jesus Cristo, mas, nega o fiel ou completo Cristo das Escrituras Sagradas, nega a  sua importância e suficiência absolutas; esta é a mais sutil e eficaz abordagem e estratégia do anticristo.

As Escrituras também mencionam “falsos profetas” (Mateus 7.15-23; 24.11; Atos 13.6-12), “falsos mestres” (2 Pedro 2.1-3) e “falsos apóstolos” ( 1 Coríntios 11.13); todos estes nomes são diferentes designações para os anticristos, que distraem ou desviam a atenção dos homens do único Cristo, Jesus, o Cristo das Escrituras (João 5.39), para o anticristo, um falso cristo (Mateus 24.23-26; 1 João 4.1-4).

Entretanto, o anticristo propriamente também é identificado nas Escrituras Sagradas com o “falso profeta” (Apocalipse 16.13; 19.20; 20.10). Este é certamente algo ou alguém que se destaca dentre ou acima de todos os falsos profetas. Este falso profeta é mencionado no contexto de uma poderosa tríade: o “dragão”, a “besta” e finalmente o “falso profeta”. O dragão é Satanás (Apocalipse 20.2); a besta, com certeza significa um poder imperial, um rei que tem domínio sobre nações (Apocalipse 13.1-10; 17.11); o falso profeta inegavelmete personifica um poder religioso, como o próprio nome indica. Com a decisiva ajuda do falso profeta, a besta age, conquista e prospera, ao ponto de se tornar alvo de adoração entre os povos, mas odeia e persegue ferozmente a fiel Igreja de Jesus Cristo (Apocalipse 13.1-18). O falso profeta, também é identificado como a “besta que emerge da terra” (Apocalipse 13.11), em distinção da que “emerge do mar” (Apocalipse 13.1); para muitos, esta segunda besta parece um manso cordeiro, em contraste com o verdadeiro Cordeiro, Jesus Cristo (Apocalipse 13.8), que “tira o pecado do mundo” (João 1.29); mas, de fato, a besta que emerge da terra fala em nome do dragão.

Como as Escrituras identificam o anticristo com as duas bestas, já mencionadas; e, conforme já visto, a besta e o falso profeta (segunda besta) operam conjuntamente, sob o poder do dragão (Apoc alipse 13); assim, a besta e o falso profeta podem ser entendidos como a duas faces do anticristo, uma face civil e uma face religiosa, que constituem uma única força ou poder que se opõe a Jesus Cristo.

No livro de Apocalipse também tomamos conhecimento de uma cidade, simbolicamente chamada de “Babilônia”, tipificada por uma mulher adúltera (Apocalipse 17.1-5), “embriagada com o sangue dos santos..., das testemunhas de Jesus Cristo” (Apocalipse 17.6). Esta cidade é um lugar ou centro onde o anticristo (a besta e o falso profeta) exerce o seu poder no mundo (Apocalipse 17.1-18).

As Escrituras também mencionam o anticristo como o “homem da iniquidade”  ou o “iníquo (2 Tessalonicenses 2.1-10). Este homem da iniquidade nos remete ao “abominável da desolação” (Mateus. 24.15), que tem relação com um inimigo, feroz contra o povo de Deus, e atrevido diante de Deus (Daniel 9.27; 11.31; 12.11). Embora a História da Redenção já tenha testemunhado outros cruéis e arrogantes inimigos de Deus e seu povo, como Faraó e Nabucodonosor, a profecia de Daniel parece ter um cumprimento parcial e antecipativo no rei Sírio, Antioco IV, que invadiu invadiu Jerusalém e profanou o Templo, em 168 aC. Faraó, Nabucodonosor e Antíoco VI, são protótipos do anticristo. Quanto às menções da presença do “abominável da desolação” no “lugar santo” (Mateus. 24.15), e do “homem da iniquidade”  assentado no “santuário de Deus” (2 Tessalonicenses 2.4), isto significa o atrevimento  do anticristo contra Deus, a sedução, engano e poder que exerce sobre uma significativa parcela da Igreja que, assim, perde o seu foco em Jesus Cristo. A influência e poder do anticristo, que têm perdurado durante toda esta era da Igreja da Nova Aliança, somente serão eliminados completamente na gloriosa volta de Jesus Cristo (Mateus 24.29-31; 2 Tessalonicenses 2.7-8; Apocalipse 19).

Portanto, o anticristo é um concorrente de Jesus Cristo e, como tal, ele pode se manifestar de diversas formas: como um Cristo que não é o Jesus, como um substituto de Jesus Cristo, ou simplesmente como um complemento de Jesus Cristo. Contudo, será sempre um falso Cristo, um adversário do único, verdadeiro e onipotente Salvador, Jesus Cristo, fora do qual não há salvação para os homens.

E o chamado Papa, que relação pode haver entre ele o anticristo? Com a ajuda da História, veremos que o Papado é a mais notável continuação do Império Romano, é a forma religiosa em que o Imperador Romano sobrevive até o presente. O próprio título papal de “Sumo Pontífice” é herança do título do Imperador Romano como supremo chefe político e religioso do Antigo Império Romano, e que, como tal, recebia honras divinas.

A partir do início do Século II, aparece na Igreja a idéia (estranha ao Novo Testamento) do “bispo monárquico”, nas principais cidades do Império, conquistadas pela fé cristã; e, já no final deste século, surge a idéia da preeminência do bispo de Roma sobre os demais bispos das demais cidades.

Em 313, o Imperador Romano Constantino se declarou Cristão e depois disso os cristãos ganharam libertdade de culto, e outros privilégios. Quando, em 330, Constantino transferiu a sede do Império para Constantinopla, o bispo de Roma ganhou maior e progressiva preeminência. Em 380, o Imperador Teodósio I tornou o Cristianismo a religião oficial do Estado. Quando finalmente a parte ocidental do Império Romano caiu sob o poder dos invasores “barbaros” (476), sobreviveu a forma ou face religiosa e “cristianizada” do Império no Bispo de Roma, que gradualmente cresceu em influência e poder.

A partir de 590, Gregório I (o Grande), bispo de Roma, que fêz prosperar a riqueza da Igreja, exerceu decisiva liderança na contenção do avanço dos invasores lolardos sobre a cidade. Enviando missionários, ele também expandiu e consolidou o poder do episcopado de Roma no ocidente.

Depois disso, no ano 800, o Papa Leão III coroou o rei franco, Carlos Magno, Imperador do proto “Sacro Império Romano”; e, em 962, o Papa João XII coroou o rei germânico, Otto I, como o Imperador do idealizado “Sacro Império Romano”. Em 1302, o Papa Bonifácio VIII promulgou a “bula papal” conhecida como “Unam Sanctum” que declara o Papa como supremo poder, acima dos reinos; e que, afim de que seja salvo, cada ser humano, precisa necessariamente submeter-se ao Pontífice Romano.

Sucessivos Papas continuaram reivindicando, além do poder espiritual, o poder temporal (civil); enquanto alguns reis afirmavam a sua autonomia; até que, em 1798 tropas francesas invadiram territórios papais e fizeram preso o Papa Pio VI, que logo morreu. Em 1801, o Papa Pio VII entra em acordo com a França, e, em 1804, coroa Napoleão como Imperador. Entretanto, em 1870, o rei da Itália, Victor Emanuel II, tomou Roma e os territórios papais. Em 1929, o Papa Pio XI, aceitou a perda imposta, mediante um acordo com o primeiro ministro da Itália, Benito Mussolini; quando também foi reconhecida a cidade-estado do Vaticano, como território Papal, também chamada a “Santa Sé”.

Embora a influência e poder do Bispo de Roma, atual chefe de estado do Vaticano, tenha variado no decurso da História, o Papa é de fato um rei, cuja cidade-estado é o Vaticano; de onde ele exerce sua influência e poder no mundo; e onde a face religiosa do antigo Império Romano sobrevive até hoje.

No passado, os Papas, além de enviar missionários e encampar igrejas regionais que nunca estiveram sob o seu poder, já comadaram exércitos conquistadores (as Cruzadas), coroaram e humilharam reis, e até ordenaram a perseguição e extermínio de adversários. Curiosamente, em nossa presente era secular, a influência do Papa está ganhando força; e a sua influência sobre as nações depende, em parte, da presença, organização e força do Catolicismo Romano em cada nação, e, também em parte, das aspirações e empreeendimentos com vistas à expansão dos poderes espiritual e temporal (civil ou político) de cada Papa. Certamente, criação do Estado do Vaticano, tornou-se decisiva para a permanência e futuros posíveis desenvolvimentos do Papado.

Existem influentes e poderosas religiões e organizações religiosas; porém, o Papado é a única instituição religiosa que, de fato se qualifica como um Império Religioso. É, no mínimo, intrigante a detalhada semelhança entre o anticristo mencionado nas Escrituras Sagradas e a milenar instituição do Papado. Até o presente momento parece impossível identificar outra manifestação do poder do anticristo mais persistente e bem sucedida que o Papado:

§   Ele assume a posição de Deus quando adota o título de Papa (Pai), título somente atribuído no Novo Testamento a uma das pessoas da Trindade: Deus, o Pai (Mateus 23.8-12).

§   Ele se intitula e é reconhecido como o representante de Cristo na terra, posição que conforme o próprio Senhor Jesus Cristo é ocupada somente pelo Espírito Santo (João 14.16-20).

§   Com as doutrinas estabelecidas pelo poder e alegada “infalibilidade papal” (especialmente o culto a Maria e a outros santos, salvação pelas obras), ele nega a absoluta suficiência de Cristo (Gálatas 1.6-9).

§   Ele mantém enganados, cativos e subordinados muitos que se consideram seguidores de Cristo (2 Pedro 2.1-3).

§   Ele pretensamente reina na Igreja e quer reinar sobre as nações, como somente Jesus Cristo reina (Efésios 1.15-23).

A Reforma do século XVI foi o maior golpe e perda do Papado, em toda a sua história; pois libertou e tem contribuído para o nascimento de igrejas e milhares de crentes livres do domínio papal. Porém, a Reforma não conseguiu neutralizar a multiplicação de anticristos, nem o fortalecimento do anticristo; somente a volta de Jesus Cristo o fará. Entretanto, quando herdeiros da Reforma, protestantes ou evangélicos, negligenciam ou rejeitam a fiel e sitemática Pregação da Palavra de Deus, e, consequentemente, se deixam levar por crenças ou doutrinas de homens, que tiram o do foco de Jesus Cristo, de Sua exclusiva e absoluta glória como o único e suficiente Salvador, ainda que nunca declarem lealdade ao papado, estão se subordinando e fortalecendo o poder do anticristo.


“Amados, enquanto eu empregava toda a diligência para escrever-vos acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos. Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.” (Judas 3-4)

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