O grande desafio à Igreja hoje não é preservar ou recuperar a originalidade das Escrituras Sagradas. O grande desafio é interpretá-la corretamente, compreendê-la, para não fazer proposições falaciosas, já provadas pelas próprias Escrituras como ineficazes.
No Antigo Testamento, isto é, da
perspectiva autor e leitor (ouvinte), a Igreja está restrita à descendência física
de Israel (Jacó). Durante o Cativeiro Egípcio, vivendo à sombra de uma poderosa
monarquia, a Igreja de Israel cresceu e ultrapassou a condição de uma única família,
tornando-se uma grande nação. Durante séculos, constituida de doze tribos,
Israel sobreviveu como uma nação de “governo patriarcal e tribal”.
A partir de Moisés e Josué, esta Igreja de
Israel é organizada como uma nação de Governo (Estado) Civil e Religioso, e se
estabelece em um território. A Lei de Moisés é a Lei deste Estado ou Governo
Civil e Religioso.
A Lei de Moisés é um Regulamento/Estatuto
Moral-Penal-Cerimonial (Civil-Penal-Religioso). Este regulamento foi “adotado”
por Israel em uma Aliança com Deus, tendo Moisés como o mediador (intermediário)
entre Deus e a nação de Israel. Note-se que este estatuto somente foi dado a
Israel varios séculos depois do chamado da descendência de Abraão-Isaque-Israel
para ser uma benção para todas as nações (Gênesis 12.1-3). A descendência de
Abraão-Isaque-Israel foi chamada, não por méritos morais, mas pela graça de
Deus que não se limita a Israel. Abraão e sua “descendência espiritual”, seja
ela israelita ou não, são justificados somente pela fé (Gênesis 15.1-6; Romanos
4.1-5; Gálatas 3.6-9).
Abraão e sua descendência física não possuía
um pedigree moral superior ao de seus contemporâneos. E isto fica patente nas páginas
do Antigo Testamento. Desde Abraão, os pecados desta geração, em certo sentido,
eram impedimentos para que ela fosse luz e bênção para as nações. As trapaças
de Jacó parecem inocentes, comparadas à
maldade e violência de seus filhos.
É neste contexto provido pelo Pentateuco
(os cinco livros da Lei de Moisés) que a Lei foi estabelecida em Israel. O que
parece ser o último recurso para santificar Israel para a grande missão a que
foi chamada por Deus, ficará inequivocamente provado ser completo fracasso. A
Lei não santificou Israel, ao contrário, “avultou a ofensa” e “abundou o pecado”
(Romanos 5.20-21)
A Lei de Moisés, especialmente em seus
aspectos Civil e Penal tinha semelhanças e diferenças com outros Códigos Legais
da antiguidade, como o conhecido Código de Hamurabe. Porém, é geralmente
admitido que a Lei Civil e Penal de Moisés era melhor, comparada às de alguns
outros povos.
Contudo, a Lei de Moisés é limitada, e
tornou-se obsoleta, não somente em seu aspecto Cerimonial (Religioso), mas também
em seus aspectos Civil e Penal. Por exemplo, no aspecto Civil ela admite e
regulamenta a escravatura. Além disso, há mais de dois mil anos, Jesus
demonstrou a caducidade da Lei Penal de Moisés no dia em que lhe apresentaram
uma mulher surpreendida em adultério (João 8.1-11).
Entretanto, o Antigo Testamento não é
somente Lei, é também História, e História também em Salmos e Profecias. A História
de Israel é testemunho do fracasso de toda e qualquer regulamentação moral,
penal e religiosa. O Antigo Testamento é o registro histórico do fracasso do
homem, tanto no Governo Civil quanto no Governo Religioso, do fracasso do
Estado e da Religião. Milênios se passaram, o conhecimento multiplicou-se
extraordinariamente; e o Estado e a Religião continuam fracassando, e frustrando
a humanidade.
Felizmente, o Antigo Testamento não é
somente história do fracasso do homem. A História de Israel aponta para o
futuro, e firma uma grande esperança, o Reino de Deus na vinda do
Messias/Cristo.
No Novo Testamento a Igreja nasce separada
do falido Estado/Governo Civil e Religioso de Israel. Diferentemente de Israel,
a Igreja da Nova Aliança:
§ Não tem qualquer relação formal com o Governo Civil e Religioso de
Israel (Judeu)
§ Não recebeu um Regulamento Moral-Penal-Cerimonial (escrito)
A Igreja recebeu as Escrituras Sagradas,
que contém o Regulamento Moral-Penal-Cerimonial de Israel. Porém, as Escrituras
Sagradas não são essencialmente um regulamento Moral-Penal-Cerimonial. Elas estão
muito acima disto. Elas são a História e o Conhecimento da Redenção, escrita
por profetas escolhidos por Deus, e inspirados pelo Espírito Santo (2 Timóteo
3.14-17; 2 Pedro 1.16-21).
A Igreja da Nova Aliança tem a Lei de Deus
escrita/gravada na mente e coração dos homens e mulheres regenerados (Hebreus
8.6-13).
A Igreja da Nova Aliança não tem um território,
como Abraão, seu pai na fé, ela tem uma promessa: Novos Céus e Nova Terra.
Enquanto espera, ela se reúne em diversas congregações entre as nações.
A Igreja da Nova Aliança nasceu separada
do Reino dos Judeus e separada do Império Romano, e assim deve permanecer em
relação a qualquer Governo humano.
A Igreja da Nova Aliança foi enviada às nações
para anunciar o Evangelho do Reino (de Deus/dos Céus). Em qualquer nação, os
que ouvindo o Evangelho, se arrependem de seus pecados e creem em Jesus como o
Salvador e Senhor, tornam-se membros da Igreja e cidadãos do Reino de Deus. É
na Igreja da Nova Aliança que a promessa de Deus em fazer da descendência de
Abraão uma benção para todas as famílias e nações têm o seu pleno cumprimento.
A Igreja da Nova Aliança é o Reino de
Deus, e sua missão é conquistar as nações, por meio da pregação do Evangelho,
expandindo e construindo o Reino de Deus.
O Reino de Deus não declara guerra
governos das nações, e nem se alia a eles. A Igreja da Nova Aliança não pode perder
o foco nos interesses do Reino de Deus, desviando-o para o Governo do Homem.
Desde o começo da História, o Governo do Homem constrói Babel, Babilônias, e
assim será até o final, até a última e Grande Babilônia. Porém, a Igreja está
envolvida, de corpo e alma, na expansão e construção do Reino de Deus.
O Reino de Deus (dos Céus), inaugurado na
vinda de Cristo, co-existirá com os reinos das nações, até a volta de Cristo. O
Reino dos Céus não competirá, nem sabotará os reinos das nações. Entretanto, o
Reino de Deus será continuamente uma antítese aos reinos deste mundo (dos
homens); e, somente assim será o “sal da terra” e “luz do mundo” (Mateus
5.14-16).
A Igreja da Nova Aliança/Igreja de Cristo
não pode se iludir com a ideia de uma “monarquia cristã” ou de uma “democracia
cristã”. A Igreja tem, nas Escrituras Sagradas, o testemunho escrito da falência
da Igreja provisória da Antiga Aliança.
O Reino de Deus não tem aparência visível.
Isto é, ele não tem aparência visível de Reino. Ele é a Igreja da Nova Aliança,
e ela:
§ não tem território (posses materiais, poder financeiro)
§ seu Cabeça/Governante é Jesus Cristo (que agora governa do Céu),
§ Seu poder de persuasão, convencimento e congregação é o Espírito Santo
(que nela habita invisivelmente),
§ sua Lei é a Lei do Amor (Mateus 22.34-40; Romanos 13.8-10)
É assim que a Igreja tem conquistado o
mundo, e transformado indivíduos, famílias e nações. E isto acontece, “não por
força ou violência, mas pelo Espírito” (Zacarias 4.6), não pela espada, exceto
a espada do Espírito, a Palavra de Deus, o Evangelho (Hebreus 4.12). A Igreja
avança, não pelo poder da “lei do pecado e da morte”, exceto pela “lei do Espírito
da vida, em Cristo Jesus (Romanos 8.1-11).
Não é função da Igreja da Nova Aliança
propor ou sugerir às nações que adotem a Lei de Moisés, no todo ou em partes,
mas simplesmente anunciar o Evangelho da Graça.
Voltando à pergunta inicial, a Bíblia
precisa ser atualizada ou devidamente interpretada? A palavra atualização é ambígua,
pode significar correção, e até censura. Graças a Deus, o Texto Original está
muito bem preservado. Porém, o que parece estar faltando em muitos púlpitos e
escolas é a fiel e inteligente interpretação das Escrituras Sagradas, sob a
iluminação do Espírito Santo.