Podemos dizer que a Igreja é uma comunhão de pessoas, caracterizada por um centralizador relacionamento com Deus; relacionamento este que se manifesta especialmente através da comunhão, dedicação, serviço e adoração a Deus, enfim, no culto a Deus.
Neste relacionamento, Deus fala à igreja; e a igreja responde, ou corresponde (em palavra e ou atitude); e isto é a essência do culto a Deus. Daí a importância da Palavra de Deus, pois o Deus invisível fala, inicia e mantém o relacionamento com o ser humano.
Através do tempo, parte desta comunicação verbal de Deus com a humanidade tomou uma forma estável e autoritativa, a forma escrita. Esta forma escrita da Palavra de Deus também ficou conhecida como a Escritura Sagrada. Através da Escritura Sagrada, quando lida e fielmente pregada, Deus continua falando com os homens, que respondem em oração.
A oração, portanto, não simplesmente brota do nosso coração, exceto quando a Palavra de Deus for ali semeada. A oração não é mera expressão dos nossos desejos, mas a santificação destes, o oferecimento dos nossos desejos que agradam e honram a Deus. A oração, conforme o Catecismo Maior da Confissão de Fé de Westminster, pergunta 178, é “um oferecimento (consagração) dos nossos desejos a Deus, em nome de Cristo...”.
O resultado desejável da comunicação ou diálogo entre Deus e o homem é o estabelecimento e manutenção do culto, o santo oferecimento ou total consagração de nossas vidas a Deus.
O assunto dominante da Escritura Sagrada (ou Escrituras Sagradas) o seu grande tema é o relacionamento do homem com Deus, ou seja como o homem glorifica, e é plenamente satisfeito em Deus; e isto é o culto a Deus.
Embora as Escrituras Sagradas comecem com o relato da Criação, e a ela façam frequentes referências, não é da perspectiva da Criação que as Escrituras tratam o tema do relacionamento do homem com Deus, mas principalmente da perspectiva da Redenção.
Ao afirmarem que o homem e a mulher foram feitos à “imagem e semelhança de Deus” (Gênesis 1.27); as Escrituras Sagradas revelam que o homem foi criado para viver em comunhão ou relacionamento com Deus.
Como a criatura poderia se relacionar com o incompreensível e invisível Criador, eterno e todo-poderoso? Contudo, Deus se manifestava e falava regularmente com o homem (Gênesis 1.28,29; 2.16-17).
Entre outras coisas, Deus revelou ao homem que o relacionamento que tinham poderia ser quebrado, preservado ou garantido eternamente (Gênesis 2.16-17). Aquele relacionamento em que Deus é glorificado e o homem é plenamente satisfeito poderia ser:
- Quebrado, mediante o ingresso do homem em uma área de conhecimento que então lhe fora proibida por Deus, o “conhecimento do bem e do mal”.
- Preservado, enquanto o homem não se tornasse “conhecedor do bem e do mal”; isto é se o homem não abandonasse o estado de retidão e santidade em que fora criado por Deus, ou não se tornasse um pecador, transgressor da justiça (Eclesiastes 7.29; 1 João 3.4).
- Garantido eternamente, se o homem homem escolhesse a vida, a vida eterna, o conhecimento de Deus (João 17.3).
Este mistério parcial e inicialmente introduzido pela Palavra de Deus, antes da possível e efetiva quebra do relacionamento do homem com Deus (a Queda), é gradualmente revelado em todo o processo seguinte da revelação redentiva, e finalizado quando as Escrituras Sagradas ficaram completas.
A revelação redentiva visa a restauração da comunhão (relacionamento) do homem com Deus. Como já mencionado, a perspectiva da qual as Escrituras tratam do relacionamento do homem com Deus é a perspectiva da redenção. Portanto o objetivo do conjunto das Escrituras Sagradas é tratar da restauração do relacionamento do homem com Deus, e ao nível de um relacionamento inquebrável, eterno.
Conforme as Escrituras Sagradas, é somente em Jesus Cristo, o “Deus unigênito” (João 1.18), que Deus e o homem se encontram (João 1.14-18). O nome “Jesus” lhe foi dado porque é Ele que nos salva (da condenação) dos nossos pecados (Mateus 1.21), mas era também chamado “Emanuel” que significa “Deus conosco” (Mateus 1.23).
Como já vimos, as diferenças essenciais entre o Criador e a criatura (humana) não foram impedimentos à comunicação entre Deus e o homem. Entretanto, após a Queda ou ruptura do relacionamento do homem com Deus, havendo o homem se tornado um pecador (transgressor da justiça), é impossível que haja relacionamento entre Deus e o homem; pois Deus é Santo.
Entretanto, o Verbo, o Unigenito de Deus, se fez carne (João 1.14), isto é assumiu a natureza humana, para reconciliar o homem (agora um pecador) com Deus, e reestabelecer o relacionamento do homem com Deus, conforme o desígnio da Criação.
A vida absolutamente justa de Jesus e seu sacrifício (morte) são aceitos por Deus, em favor e benefício dos pecadores (Romanos 4.23-5.1; 1 Coríntios 1.22-31); ou seja, os que creem neste modo único como Deus justifica pecadores (Efésios 2.4-8). A morte de Jesus quita o débito dos pecadores em relação à justiça divina. A vida justa de Jesus é o crédito, impossível de ser adquirido por pecadores.
É também somente por esta mesma via que nossa oferta (culto) torna-se agradável a Deus, acompanhando a oferta perfeita de Jesus Cristo, em sua vida, e em sua morte (1 Pedro 2.4-5).
Em seu Unigênito, Jesus Cristo, Deus, fez mais do que simplesmente se revelar; Ele se deu ao homem redentiva ou salvadoramente. É também em Jesus Cristo (seu méritos intercessórios) que o homem se oferece, entrega ou consagra-se a Deus. É somente em Jesus Cristo que Deus e homem se encontram, e firmam um eterno relacionamento, em que Deus é glorificado, e o homem é plenamente satisfeito.
Adão (o homem) falhou em preservar o alvo para o qual fora criado, glorificar e satisfazer-se em Deus, para sempre (Catecismo Maior da Confissão de Fé de Westminster, pergunta 1). Jesus Cristo não falhou, foi o perfeito culto a Deus, tanto em sua vida quanto em sua morte. Assim, os que se unem a Jesus, mediante a fé, encontram-se com Deus, entram em um permanente relacionamento com Ele, passando a glorificar e a ter plena satisfação em Deus, para sempre. E este é culto a Deus, para o qual fomos originalmente criados, e agora redimidos.
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