O Evangelho Segundo
Mateus é basicamente identificado como o “Evangelho do Reino”. De fato, uma de
suas mais carcterísticas expressões é o “reino dos céus”, equivalente a “reino
de Deus” nos demais Evangelhos.
Mateus apresenta
Jesus como o herdeiro do reino de Daví (Mateus 1.1). Este herdeiro do trono de
Daví não é um rei comum; Ele salva o seu povo dos seus pecados (Mateus 1.21).
Ele é certamente o Rei prometido por meio do profeta Isaías (Isaías 9.6-7).
Com Jesus veio o
reino dos céus (Mateus 4.17), não com forma ou aparência opulenta, como
profetizou Zacarias (Zacarias 9.9); e logo, Jesus começou a escolher homens com
o propósito de fazer deles “pescadores de homens” (Mateus 4.19) para o reino
dos céus. Os seguidores próximos de Jesus são chamados de “discípulos” (Mateus
5.1).
Aos seus discípulos,
Jesus apresenta os “estatutos” do reino dos céus (Mateus 5-7). Estes são tão
justos quanto a Lei trazida pelo profeta Moisés, mas têm uma especial ênfase na
“misericórdia” (Mateus 5.7; 9.13; 12.7).
Ao chamar o
publicano Mateus para juntar-se aos seus discípulos (Mateus 9.9), Jesus se vê
rodeado de “publicanos e pecadores”; ao ser questionado por tal associação,
Jesus respondeu que veio chamar pecadores (Mateus 9.13), isto é, salvar
pecadores (1.21), chamando-os ao arrependimento e ao reino dos céus (4.17) – o
reino dos céus não deve estar socialmente separado do mundo, mas se distingue
por seus “estatutos” justos e misericordiosos.
Quando pregava o
“evangelho do reino” ao povo, Jesus falou aos seus discípulos da grande seara
que são as multidões (“ovelhas que não têm pastor”) e os estimulou a orar por
mais trabalhadores (Mateus 9.35-38).
Jesus separa “doze
discípulos” que são chamados “apóstolos”, e lhes dá autoridade semelhante à sua,
para pregarem o “reino dos céus” (a princípio, dando preferência à “ovelhas
perdidas da casa de Israel), exortando e encorajando em relação às dificuldades
que terão a enfrentar, requerendo que sejam simples, humildes, mansos, mas
corajosos (Mateus 10).
Jesus chama os
“cansados e sobrecarregados” (“multidões... aflitas e exaustas” 9.36) para o
seu governo (“jugo”) e ensino; pois Ele é o prometido Rei, “manso e humilde de
coração”; embora Ele seja o soberano Senhor, do templo e do sábado (Mateus
11.28-12.8).
Em meio a controvérsias,
graves ofensas (blasfêmias) e conspirações da parte dos líderes religiosos,
chamados “pastores” das “ovelhas da casa de Israel” (Mateus 12), Jesus proferiu
várias parábolas que revelavam aos seus discípulos os “mistérios do reinos dos
céus” (Mateus 13, [11]).
Então, Jesus, em
resposta ao reconhecimento de que Ele é “o Cristo, o Filho do Deus vivo”
(Mateus 16.16) se refere ao seu reino como a sua “igreja”, contra a qual “as
portas do inferno não prevalecerão” (Mateus16.18).
No fracassado “reino
de Israel” cresce a rejeição ao Salvador,
Jesus (1.21) Cristo, o Filho do Deus vivo” (16.16); mas, Jesus anuncia que “será
pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as
nações” (Mateus 23.37-24.14; [24.14]), antes do fim (24.14), a consumação do
estabelecimento do “reino dos céus” na gloriosa volta de Jesus Cristo (Mateus
24.15-25-46).
Jesus Cristo foi
morto, em parte pela conspiração dos homens, mas principalmente para cumprir o
propósito de Deus, segundo o qual Jesus morreu em lugar dos pecadores a quem
veio salvar, e receber em seu reino (Mateus 26.26-29; Atos 2.22-24, 36-39).
Sim, Ele ressurgiu ao terceiro dia, como havia prometido (Mateus 28.6), e
ascendeu aos céus (Marcos 16.19), de onde governa todos os poderes, visíveis e
invisíveis (Efésios 1.19-23). Antes, porém, ordenou aos seus discípulos: “Ide,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século
(Mateus 28.19-20).
Fazer “discípulos de todas as nações”, esta é a
“grande comissão” de Jesus aos seus discípulos, e isto significa ou compreende:
§ Pregar “o evangelho do reino” a todas as nações
(Mateus 24.14);
§ Pelo batizmo, sinalizar, o ingresso no reino dos céus
(a Igreja de Jesus Cristo) daqueles que crêem no evangelho – Jesus, o Salvador
(1.21), o Cristo, o Filho de Deus (16.16).
§ Ensinar toda a revelação de Deus que faz dos
discípulos de Cristo (os cidadãos do reino dos céus ou membros da Igreja)
adoradores do Deus Triúno e obedientes servos de Jesus Cristo.
Não podemos levar a
Igreja ao mesmo fracasso de Israel; não podemos, mas, tentamos; não podemos,
entretanto, Jesus Cristo não permitirá que isto aconteça.
Precisamos tomar
todo o cuidado em não tentar usurpar a Igreja (ou uma igreja) de seu único
Senhor, Jesus Cristo. A igreja não é nosso negócio, hobby, associação ou clube.
Israel era igreja de Deus; porém, quando Deus, cumprindo sua promessa, veio em
Cristo, Israel o rejeitou; e, assim foi, porque Israel, apesar de haver sido
instrumentalizado por Deus para dar ao mundo as Escrituras Sagradas (Antigo
Testamento), havia substituído as Escrituras pelas doutrinas e tradições
criadas através de séculos de intensa atividade religiosa, e transformada a
nação santa em um negócio dos homens.
A Igreja está
destinada a ser a progressiva manifestação do reino dos céus até a sua
consumação na volta de Jesus Cristo. A Igreja é a manifestação progressiva do
reino dos céus de modo muito mais pleno do que poderia ter sido Israel, mesmo
que fosse fiel à Palavra de Deus (as Escrituras). Israel era Igreja e Estado; a
Igreja é o reino dos céus independentemente do Estado. A Lei (ou estatutos) de
Israel (Lei de Moisés) é a lei de uma igreja-estado.
Entretanto, a lei da
Igreja (reino dos céus) é a regra do “Sermão do Monte”, mais rigorosa quanto às
intenções do coração que qualquer lei poderia ser (Mateus 5.17-37), e mais
cheia de compaixão pelos trangressores e de perdão (Mateus 5.38-48).
A lei da
igreja-estado prescrevia diversas penalidades e até condenava à morte os
homicidas, adulteros e falsos profetas; mas a Igreja (o reino dos céus) chama a
todos e quaisquer pecadores ao arrependimento dos pecados e reconciliação com
Deus, por meio da fé em Jesus, o único Mediador entre o Deus justo, santo e
misericordioso e nós, os pecadores (1 Coríntios 6.9-11).
No contexto em que
Jesus Cristo falou da edificação de sua Igreja, Ele mencionou a autoridade da
Igreja em abrir as portas do reino dos céus (Mateus 16.19). A missão da Igreja
é, pelo Evangelho, derrubar as “portas do inferno” (Mateus 16.18) e libertar os
cativos, cansados e oprimidos, acolhendo-os em seu seio, no reino dos céus.
As Escrituras não devem ser utilizadas para criar
regras humanas de censura e exclusão de cidadãos do reino dos céus:
§ As Escrituras são o veículo de comunicação de Jesus
Cristo e sua obra redentiva (João 5.39).
§ Como consequência de seu principal propósito, as
Escrituras são também instrumento de formação do caráter de Jesus Cristo nos
crentes, e visam dar o conhecimento necessário e útil aos cidadãos do reino dos
céus, até à consumação do reino (2 Timóteo 3.14-17).
Portanto, a Igreja somente
deve censurar ou excluir (Mateus 18.15-20) os que, negando a própria fé, se
recusam a abandonar o erro (seja doutrinal ou prático), que é indubitavelmente
definido nas Escrituras, como passível de censura ou exclusão.
Como um último
recurso, visando a recuperação do próprio membro que insiste no erro, e para evitar
a corrupção dos demais membros, Igreja de Cristo deve, censurar e, por fim, até
excluir quem, por exemplo, nega a exclusividade de Jesus Cristo como o Salvador
dos homens (Mateus 1.21), sua plena divindade e humanidade (Mateus 16.16), e o
ser Triúno de Deus (Mateus 28.19). A igreja deve censurar e até excluir os que
insistem em adorar a Deus por modo contrário à Sua vontade expressa, tratam
levianamente ou desprezam o culto a Deus (Êxodo 20.1-11), e os que insistem em violar
o devido respeito à vida humana (Êxodo 20.12-17).
Entretanto, a Igreja
não deve censurar ou excluir por causa de “comida e bebida, ou dia de festa, ou
lua nova, ou sábados...” (Colosenses 2.16). A Igreja não deve ter uma
mentalidade excluidora, mas inclusiva (Romanos 14.1-15.13); a Igreja deve amar
e acolher, instruir e aconselhar o fraco,
o “débil na fé” (Romanos 14.1). Há um limite na competência julgadora da
Igreja, que visa a correção do faltoso e guardar a Igreja da contaminação pelo
erro relativo ao culto a Deus e o respeito à vida humana. Há questões que estão
fora do escopo disciplinar da Igreja; e, estas, a Igreja deve deixar exclusivamente
aos cuidados da soberania divina (Romanos 14.10-12), para não incorrer no
pecado causar “tropeço ou escândalo” ao irmão (Romanos 14.13), e confusão ao
reino dos céus.
Também, não é papel
da Igreja exigir que o Estado execute a pena de morte, mas seguindo o exemplo
de Jesus (João 8.1-11), deve sugerir ou pedir a misericórdia para com os
pecadores arrependidos. Embora existam semelhanças entre os profetas do Antigo
Testamento e o apóstolos do Novo Testamento; não podemos ignorar o fato de que
aqueles exerceram seu ofício no contexto da Igreja-Estado de Israel; mas, os
apóstolos exerceram seu ofício no contexto da Igreja da Nova Aliança que é mais
plena ou completa, como manifestação do reino dos céus, como jamais Israel
poderia ter sido. Um profeta poderia requerer ou até executar a pena de morte (1
Samuel 15.33), um apóstolo reconhecia o poder da vara e da espada do Estado
(Romanos 13.1-7), mas sempre apelava para a compaixão, o perdão e a
reconciliação (Filemon 8-18); assim deve fazer a Igreja hoje.
Se a Igreja deve
mostrar compaixão para com os que estão fora dela, não poderia ser diferente
para com os que lhe pertencem e a formam. Sem ignorar o fato de que nela se
introduzem “inimigos de de Cristo” ou “lobos vestidos como ovelhas” que devem
ser identificados e excluídos (1 Coríntios 5.9-13); a Igreja não pode ignorar
que o Senhor Jesus Cristo com sua Igreja (que é seu corpo, seus ramos e seu
edifício) é o abrigo e fortaleza para todos os pecadores, cansados e oprimidos,
arrependidos e crentes (2 Coríntios 2.5-11), e que os “débeis na fé” não estão
excluídos.
A Igreja da Nova
Aliança é a mais plena e progressiva manifestação do reino dos céus, e jamais
fracassará. Ela perseverará até a consumação do reino dos céus; porque Jesus
Cristo já veio, e, havendo cumprido seu prometido “sacrifício redentivo” tornou
possível o também prometido “derramamento do Espírito Santo”, e,
consequentemente, a “inscrição da lei nos corações” (Jeremias 31.33; Ezequiel
36.24-28) dos filhos do reino dos céus, de modo que a lei da Igreja seja
apropriadamente chamada “a Lei do amor” que se resume em dois mandamentos:
“amarás o Senhor, teu Deus, de todo coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento... Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.36-40).
Que sabendo estas
coisas, nós, crentes individualmente e igrejas consciente, ativa e
devotadamente busquemos o progresso do reino dos céus durante o precioso tempo
que Deus nos dá agora, e não sejamos encontrados trazendo confusão e divisão ou
promovendo obstáculos ao progresso da Igreja de Cristo, o reino dos céus, já
presente na terra.
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