A infinitude do
Criador e a limitação da criatura não eram impedimentos à comunicação, desde
que Deus falasse ao homem; pois Deus conhece o pensamento do homem; mas o homem
não pode conhecer o pensamento de Deus, a menos que Deus o comunique em Palavra.
Entretanto, o pecado do homem que tornou legalmente (de acordo com a justiça de
Deus) impossível a comunicação entre Deus e o homem.
Porém, o homem foi criado
para a comunicação com Deus; e, não obstante os possíveis impedimentos (diferença
essencial entre o Criador e a criatura) e o efetivo impedimento (pecado do
homem) já mencionados, é através da Palavra de Deus que o Infinito Criador se
comunica com a finita criatura, que o Deus Santo encontra o homem pecador. Fora
as obras da Criação e Providência que são
formas indiretas e não verbais de comunicação, Deus se comunica com o homem
através de três Palavras, e estas são a Escrita, a Falada e a Viva.
A Palavra Viva é eterna, mais não foi a primeira a mediar (mídia,
média) a comunicação de Deus com o homem. A primeira usada por Deus foi a
Palavra Falada, tanto imediatamente após a Criação quanto imediatamente após a
Queda. Logo apos a Criação a Palavra Falada por Deus foi um meio de se referir
simbolicamente ou falar (comunicar o conhecimento) de Cristo como a fonte da
vida eterna, com a qual o homem ainda não havia sido dotado (Gênesis 2.7-9,
3.22); logo após a Queda, a Palavra Falada por Deus tambem falou de Cristo como
o vencedor da morte que agora, após o pecado, era uma dura realidade para o
homem (Gênesis 3.15).
A Palavra de Deus
foi falada primeiramente por Ele mesmo, mas também por anjos e profetas. Depois
de muito usar a Palavra Falada (durante
alguns milênios), aprouve a Deus começar a Palavra Escrita. A Palavra Escrita, tanto
quanto a Palavra Falada tem um principal objetivo comum: elas são meios de Deus
para a comunicação do conhecimento Cristo (João 5.39), que é a Palavra Viva (Hebreus
1.1-2).
A Palavra Viva de
Deus, não é um simples meio de comunicação, mas o próprio fim da comunicação
(falada ou escrita). A Palavra Viva não é como as outras um meio de comunicação
de Deus com o homem, meio de comunicação do conhecimento de Deus; ela é a
propria comunhão com Deus, ela é o Cristo (o Doador da vida eterna e Salvador
da morte), ela é Deus encarnado – Jesus Cristo. Depois de se comunicar com os
homens pela Palavra Falada e pela Palavra Escrita, Deus finalmente se comunicou
pela Palavra Viva; esta é o clímax e a perfeição da comunicação de Deus com o
homem (Hebreus 1.1-3). É a Palavra Viva que comunica mais do que conhecimento ,
ela comunica ou dota o homem com a própria vida eterna, intermediando
perfeitamente as diferenças essenciais entre Deus e o homem, e destruindo completamente
a barreira do pecado (Hebreus 1.1-3). Isto
está em pleno acordo com o que vimos anteriormente, a primeira comunicação da
Palavra Falada, logo após a Criação foi a comunicação de Cristo como a fonte da
vida eterna, e, após a queda, a comunicação de Cristo como o vencedor da morte,
introduzida pelo pecado (Gênesis 2.16-17).
A Palavra Escrita
A Palavra Escrita
(a Palavra indelevelmente preservada) é a nossa única fonte segura do redentivo
conhecimento de Deus, ou do conhecimento de Cristo que é a fonte da vida eterna
e o vencencedor da morte.
As primeiras
porções da Palavra Escrita nos foram dadas nos dias do Profeta Moisés, e pelo
próprio Moisés. A Palavra Escrita nos foi dada cumulativamente em um longo
período de tempo. Este tempo pode ser aproximadamente definido como um milênio
e meio.
Não temos uma regra
infalível (uma lista dos escritos ou livros que constituem a Palavra Escrita,
uma lista recebida mediante uma revelação divina). Entretanto temos um cânon
constituído de 66 livros (escritos) que, por sua finalidade, afinidade e
qualidade, por si mesmo passou a exercer autoridade sobre o povo ou Igreja de
Deus. Este cânon é conhecido no próprio cânon pelo nome de as Escrituras ou
Escrituras Sagradas; também o chamamos de Bíblia.
É importante notar
que a Palavra Escrita (assim como a Palavra Falada, antes de assumir a forma
escrita, desde a redenção de Adão e dos primeiros descendentes) cumpria sua
função de comunicar o conhecimento de Cristo, que é o conhecimento da Salvação,
em todo o tempo, desde o seu começo, nos dias de Moisés, muito antes de estar
completa. Portanto, não precisamos da Bíblia
toda para que tenhamos o salvador conhecimento de Jesus Cristo; um livro pode ser
suficiente para isto, ou até mesmo um capítulo ou um só versículo. Entretanto,
o grande conjunto em que e a Bíblia se constitui é um harmonioso, consistente,
convincente e rico complexo que nos conduz a uma inabalável fé em Jesus Cristo,
como o Redentor da Criação.
Isoladamente,
alguns dos livros da Bíblia já tiveram sua canoncidade questionada, como
Cantares no AT e a Epístola de Tiago no NT; algumas passagens bíblicas,
isoladamente, apresentam um maior grau de dificuldade para interpretação. Sabemos
que a qualidade ou erudição do grego com que foram compostos os livros do NT é
variável. Isto significa que devemos abandonar a confiança na autoridade e infalibilidade
da Palavra de Deus Escrita, as Escrituras Sagradas? É claro que não, em seu
conteúdo e mensagem, elas correspondem exatamente à Palavra de Deus Falada que,
na forma escrita está preservada para sempre (2 Pedro 1.16-21). É verdade que o
Hebraico e Grego de hoje não são os mesmos em que foram escritos os livros da
Bíblia, nem o Inglês e Portugues de hoje são exatamente iguais aos das primeiras
traduções Inglesa e Portuguesa. A mutabilidade da língua e os possíveis erros
de cópia ou tradução não são obstáculos intransponíveis para quem tenhamos hoje,
e por tanto tempo quanto for necessário, fiéis versões das Escrituras Sagradas.
A infalibilidade dos autógrafos (o manuscrito original do autor) está quase
100% preservada em nossos dias; e não precisaríamos tanto para que hoje
saibamos a respeito de Jesus Cristo e sua Igreja o que precisamos saber para
glorificar e gozar a Deus, já e para sempre (Catecismos de Westminster Maior e
Breve – pergunta 1).
Se realmente cremos
que Deus algum dia se comunicou com o homem por meio da Palavra Falada, e que também
Deus tornou esta na Palavra Escrita, não há a menor razão para duvidar que
temos até hoje a Palavra de Deus – a Bíblia. Isto não significa que podemos
fazer uma doutrina fundamentada em um único substantivo, um único tempo verbal
ou preposição. Aprouve a Deus nos dar a sua Palavra Escrita, não em um único
verso ou parágrafo, não em somente um livro, mas em um riquíssimo acervo. Assim,
não obstante as limitações da linguagem e da língua, mediante o diligente
estudo das Escrituras podemos com grande segurança extrair delas a sã doutrina,
indispensável ao nosso relacionamento com Deus.
A Palavra Escrita
está pronta, acabada; como o propósito da Palavra Escrita é comunicar o
conhecimento de Cristo, ela que começou antes da vinda do Cristo, termina com a
vinda do Cristo, que é Jesus. As Escrituras são compostas de volumes
principais: O Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Antigo Testamento é, em
suma, “o registro escrito da promessa da vinda de Cristo”; e o Novo Testamento
é “o registro escrito do testemunho da vinda de Cristo”. A Palavra foi escrita
para que a Palavra Falada nunca fosse perdida, até a vinda do Cristo e até a
segunda vinda de Jesus Cristo. A Palavra
de Deus Escrita é a única fonte e autoridade da Palavra de Deus Falada. E, isto
em dois sentidos: primeiro – nós hoje somente podemos saber o que Deus falou no
passado, diretamente ou através de anjos e profetas, mediante o que Deus
providenciou que fosse escrito nas Escrituras Sagradas; segundo – o que Deus
fala hoje aos homens através da pregação ou ensino é fundamentado no que Deus
providenciou que fosse escrito nas Escrituras Sagradas.
A Palavra Falada
Como já adiantamos
no parágrafo anterior, a Palavra de Deus Falada tem dois significados: um é o
sentido mais estrito, inerrante ou infalível, quando o Espírito Santo usou
alguém para comunicar uma mensagem de Deus, messagem única, identificada em um
tempo e lugar. Esta mensagem podia ter elementos de uma mensagem anterior e
podia conter uma revelação jamais feita antes; mas é uma mensagem particular,
única, extraordinária.
Foi o conteúdo
geral destas mensagens infalíveis ou inerrantes transmitidas pelos profetas do
Antigo Testamento e do Novo Testamento que veio a constituir a Palavra Escrita.
A Palavra Falada no seu sentido estrito, inerrante e infalível também é uma
forma passada de Deus se comunicar com o homem, uma vez que a Palavra Viva (Cristo)
já veio, e a Palavra Escrita está completa.
Contudo, a Palavra
Falada também tem um segundo sentido, mais amplo: a Palavra de Deus que é pregada
ou ensinada. Esta forma da Palavra de Deus não é infalível ou inerrante como
foi a falada e escrita no passado mediante a extraordinária ação do Espírito
Santo que chamamos de “inspiração do Espírito Santo (2 Timóteo 3.16-17; 2
Pedro 1.20-21).
A Palavra de Deus
no sentido de ensino e pregação continuará operante até à “consumação dos
séculos”. Os pais têm o dever de ensinar a Palavra de Deus aos filhos no âmbito
do lar, pastores-mestres autorizados devem ensinar na jurisdição da Igreja,
evangelistas devem ser enviados a pregar ao mundo; todos com base e na
autoridade da Palavra Escrita.
Esta forma da
Palavra de Deus falada, operante até hoje e que não é infalível é o principal
meio pelo qual o Evangelho é anunciado ao mundo e a Igreja de Deus é edificada;
este não é um meio infalível, mas pela graça de Deus e poder do Espírito Santo
é eficaz.
A Igreja contemporânea
tem sido profundamente enfraquecida com a perda da noção de importância da
pregação e ensino da Palavra. A fiel pregação e ensino da Palavra Escrita é
Palavra de Deus, ela não é infalível (como foi a que pronunciaram os profetas),
ela precisa ser supervisionada (quanto a fidelidade à Palavra Escrita, mas é o
essencial e principal meio de edificação da igreja.
Se algum crente
individualmente ou uma família se privam da pregação da Palavra no contexto da
vida congregacional (se isolam de uma fiel igreja de Cristo) em que a
administração do batismo e santa ceia são as respostas sacramentais à pregação,
e o discipulado e disciplina constituem no exercício da Palavra pregada, estes
(o crente e a família) sofrerão todas as consequências da desnutrição e falta do exercício espiritual.
A Palavra Viva
Embora a Palavra
Escrita seja verdadeira e esteja preservada, ela é limitada; ela tem começo
(Gênesis) e fim (Apocalipse); ela é limitada pelo poder de comunicação da
linguagem e das línguas, como já foi indicado. Como também já vimos, a Palavra
Escrita absorveu e preservou para sempre a infalível Palavra de Falada de Deus
(principalmente por meio dos profetas), e é a base e autoridade da Palavra de
Deus pregada e ensinada hoje. Embora tão vital e importante para a Igreja de
Deus, a Palavra Escrita não é um fim em si mesma; ela é o meio para o
conhecimento de Jesus Cristo, a Palavra Viva de Deus.
O Evangelho de João
começa apresentando Jesus Cristo como a Palavra de Deus (João 1.1-18). A
Palavra Viva é a manifestação de Deus acessível à criatura, porém não limitada;
pois Jesus Cristo é “o explendor da glória, e a expressão exata” (Hebreus 1.3)
do Ser Divino, “nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”
(Colossenses 2.9).
Nós estimamos ou
amamos a Palavra de Deus, a Escritura; e a temos como nosso maior tesouro neste
mundo, mas não a adoramos. Buscamos com fome e sede a fiel pregação e ensino da
Palavra de Deus; entretanto, é a Palavra Viva, Jesus Cristo, o alvo da nossa
adoração
Alguém pode ouvir a
fiel pregação e ensino das Sagradas Escrituras, ler e estudar sistematicamente
as Escrituras e portanto obter conhecimento de Deus. Porém, é somente quando o
ouvir ou estudar as Escrituras nos levam à fé em Jesus Cristo que entramos em
comunhão com Deus. Alguém pode ler e estudar as Escrituras Sagradas e jamais
ser salvo, exceto se, através das Escrituras ele conheça e creia em Jesus
Cristo.
Não é o simples conhecimento
da Palavra Escrita que nos salva e santifica, mas o crer, receber e, consequentemente, ser unido a Jesus Cristo,
a Palavra Viva. Para que alguém creia em Jesus Cristo, é necessário que leia ou
ouça a pregação da Palavra Escrita (Romanos 10.17), e seja, ao mesmo tempo, “ensinado
pelo Espírito Santo” (João 16.7-13). Havendo recebido, pela soberana graça de
Deus e mediação de Jesus Cristo, o inicial derramamento do Espírito Santo que
nos habilita a ouvir com fé a pregação da Palavra de Deus e crer em Jesus
Cristo (Atos 16.14; Tito 3.4-7), efetivamente recebemos pela fé Jesus Cristo;
então o derramamento inicial se completa com o pleno derramamento do Espírito
Santo (Atos 2.38;), também chamado de o Espírito de Cristo (Romanos 8.9); por
isso, quando cheios do Espírito Santo, somos cheios de Cristo Jesus. Jesus
Cristo é chamado a Palavra Viva de Deus; porque conhecê-lo e crer nÊle é mais
do que simplemente obter um conhecimento, é recebê-lo em nós, no Espirito Santo
que em nós passa a fazer morada, e isto é comunhão, união com Deus, isto é
também a vida eterna (João 17.3).
Havendo chegado ao
conhecimento e fé em Jesus Cristo, alcançamos o alvo ou meta das Escrituras.
Agora, entretanto, ao invés das Escrituras perderam o valor, podemos
compreender muito melhor o inestimável valor das Escrituras para um crescente
conhecimento da glória de Deus, da grandeza da salvação, e da prefeição da
vontade de Deus.
Agora, o Espírito
de Cristo habita em nós, “temos a mente de Cristo” (1 Coríntios 2); neste
sentido, estamos preparados para receber a Palavra Escrita com entendimento, e
a Palavra falada hoje (pregação e ensino) com juízo (critério). Enfim, pela
habitação do Espirito de Cristo em nós, estamos preparados para ouvir, ler e
estudar as Escrituras com entendimento (1 Coríntios 2), e todo o proveito para
nossas vidas, e também para o auxílio de outros no entendimento das Escrituras
Sagradas.
Então devemos
desejar e buscar o mais completo e acurado conhecimento das Escrituras
Sagradas. Havendo recebido o Espírito Santo ou Espírito de Cristo, quanto mais
as Escrituras ocupam nossa mente e coração, mais cheios do Espírito nos somos (Efésios
4.18-21; Colossenses 3.16-17).
Quanto mais
conhecemos as Escrituras, tanto mais conhecemos a Jesus Cristo; quanto mais
apreciamos as Escrituras, mais amamos a Cristo, quanto mais alimentados das
Escrituras, mais plena e poderosa a
presença Jesus se faz em nós.O conhecimento das línguas originais é muito útil, mas não indispensável; pois qualquer fiel (bem intencionada e bem feita) tradução é capaz de comunicar o conteúdo das Escrituras. A Biblia foi intentada para todos os povos, isto é, para ser traduzida para todas as línguas. Erudição geral e conhecimento dos mundos hebraico e grego-romano são úteis, mas não essenciais para o conhecimento das Escrituras, especialmente o salvador conhecimento de Cristo que é centro das Escrituras. Até uma criança pode, pelas Escrituras, ser conduzida ser “ao conhecimento para a salvação pela fé em Cristo Jesus (2 Timóteo 3.15). Portanto, não aceite a mentira de que a Bíblia somente pode ser entendida pelos “doutores” da Igreja (Lucas 10.21; 1 Coríntios 1.18-24). Alguns doutores jamais chegam ao conhecimento de uma criança; porém, algumas crianças, guiadas pelo Espírito Santo, através das Escrituras conhecem a Cristo Jesus, o Salvador.
A Palavra Falada
que é infalível já não acontece em nossos dias; a Palavra Falada pregada e
ensinada em nossos dias não é infalível. Contudo, temos a Palavra Escrita; ela
é única fiel e completa preservação de tudo o Deus realmente já falou sobre a
nossa salvação (João 5.39; 10.35), e o único critério pelo qual julgamos a pregação
e ensino da Palavra de Deus (Atos 17.11).
Estejamos atentos a
toda tentativa de subestima ou menosprezo à Palavra de Deus Escrita. Apesar das
limitações da língua e das diferenças culturais que com estudo cuidadoso e
perseverante são remediadas, as Sagradas Escrituras, além de nos guardar tudo o
que Deus já falou e nos habilitarem a julgar tudo o que temsido pregado e
ensinado, livrando-nos da subjetividade, elas são o único meio de conhecimento
de Jesus Cristo (João 5.39; Apocalipse 19.10), a única porta (João 10.9),
caminho, verdade e a vida (14.6), o conhecimento e a comunhão com Deus (João
14.7-9,16-20).
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