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Friday 20 April 2012

Quem Está Conquistando Quem: A Igreja ou o Mundo?

Se quisermos uma boa definição de “mundo”, conforme o uso que fazemos da palavra neste ensaio, basta contrastar a palavra “mundo” com a palavra “igreja”. Então, “mundo” aquí não significa o universo físico, nem o planeta Terra. Mundo significa a humanidade sem Deus, sem o conhecimento e aliança com Deus, o Criador. Mundo é um grande sistema alheio a Deus, à sua revelação em Jesus Cristo, e oposto ao propósito divino, tanto na Criação quanto na Redenção.
Por outro lado, a Igreja é a parcela reconciliada com Deus dentre a humanidade, mediante o conhecimento e acolhimento da revelação redentiva de Deus em Cristo. A Igreja é a porção da humanidade que está em aliança com Deus, reconhece a soberania de Deus em toda a Criação, e está compromissada e empenhada em conhecer e viver de acordo com a vontade e propósito de Deus, viver para a glória de Deus.
Mundo é o oposto da Igreja, tudo o que está separado ou fora da Igreja. É importante que se diga que não estamos nos referindo a uma grande hierarquia cristã (Romana, Grega ou Anglicana), nem a uma denominação ou conjunto de denominações cristãs; estamos nos referindo à Igreja de Jesus Cristo na Terra, que é um único corpo cuja cabeça é Jesus Cristo, o único Templo em que o Espírito Santo habita.
Por causa dos que morrem e vão para a Igreja que está no céu (até a volta Jesus) e dos que dia a dia ingressam na Igreja em decorrência da pregação do Evangelho de Jesus Cristo, a totalidade da Igreja na Terra é variável;  porém, a Igreja é a totalidade dos homens e mulheres que professaram sua fé em Jesus Cristo e foram batizados (acompanhados de seus filhos); estas famílias constituem inúmeras congregações (igrejas). Estas igrejas ou congregações reconhecem que as Escrituras Sagradas (as quais preservam e comunicam o Evangelho de Jesus Cristo) são em sua totalidade a Palavra de Deus e, por isso, se reunem regularmente para ouvir a sua pregação ou ensino. Estas congregações também se submetem à direção e governo desta fiel pregação ou ensino da Palavra de Deus e mantêm esta comunhão através da criteriosa celebração da Ceia do Senhor (Santa Ceia), o que demanda o amoroso e fiel exercício da disciplina cristã.
Estas igrejas e seus membros estão na terra, nas cidades ou no campo, entre todas as nações, junto com a humanidade rebelada contra Deus; entretanto, a Igreja (a porção da humanidade reconciliada com Deus) e o mundo (humanidade rebeleda contra Deus) estão separados.    É verdade, a Igreja (ou as igrejas que a constituem na Terra) e o mundo competem. A Igreja quer conquistar o mundo, isto é, subordinar o mundo à soberania de Deus e à liberdade dos filhos de Deus (Romanos 8.20-21ç Colossenses 1.13). Porém, o mundo também quer conquistar a Igreja para a rebelião contra Deus e escravidão ao pecado (Efésios 2.1-3).
A Igreja tem basicamente dois meios de conquista: a demonstração (seu modo de viver ordenado conforme a Palavra de Deus), e a proclamação (a pregação da Palavra de Deus, o Evangelho, ao mundo). A Igreja não pode optar por usar um ou outro meio; ela tem que usar ambos para conquistar o mundo. O mundo tem basicamente três meios gerais de conquista: a perseguição (principalmente pelo controle de instituições como o estado e a religião), a sedução (através do uso do progresso econômico e científico) e a sistematização ou conformação (através da influência na educação e legislação).
Agora podemos responder a nossa pergunta e tema: Quem conquista e quem está sendo conquistando: A Igreja ou o Mundo? É a Igreja que conquista os que estão no mundo para a reconciliação com Deus e a liberdade dos filhos de Deus? Ou é o mundo que conquista a Igreja para a rebelião contra Deus e da escravidão ao pecado?
Para responder esta pergunta, consideremos primeiro como o mundo tem usado os seus meios de conquista. A perseguição já foi muito usada na História da Igreja, Missões, Reforma e Missões Modernas; porém, nos lugares onde a Igreja logrou estabelecer-se, a perseguição é velada e rara. Contudo, nestes lugares onde a Igreja está estabelecida, o mundo tem usado com grande eficiência os outros meios de conquista, a sedução e a sistematização.
Um bom exemplo do uso desses meios de conquista é o grande sucesso com que mundo vem usando a sedução e a sistematização para substituir o relacionamento conjugal (casamento) pela atração (paixão) sexual. O relacionamento conjugal criado por Deus na obra da Criação e redimido por Deus na obra da Redenção (a redundância é proposital), une sexualmente um homem e uma mulher (até que, com tristeza, a morte os separe). O relacionamento conjugal (casamento) consiste, é baseado e iniciado em uma aliança de amor entre um homem e uma mulher, perante Deus, o Soberano Criador. Esta aliança proporciona e proteje mais do que simplesmente o relacionamento sexual, mas também a integridade física, mental, social e espiritual dos cônjuges, e não somente dos cônjuges, mas também de seus filhos (que são o mais importante fruto e alegria provenientes de seu relacionamento sexual).
A atração ou paixão sexual é um acordo temporário que pode ser unilateralmente desfeito, em qualquer momento. A atração sexual não é baseada no amor que, entre outras magníficas qualidades, “não procura os seus próprios interesses” (1 Coríntios 13.5) e “jamais acaba” (1 Coríntios 13.8). É importante observar que o mundo se recusa a chamar a atração sexual pelo seu próprio nome ou algum verdadeiro sinônimo (paixão ou desejo); ele insiste em chamar a atração sexual de amor. Para enganar os incautos, o mundo tira até o adjetivo “sexual”, e faz da palavra amor um sinônimo da relação sexual, como acontece na expressão “fazer amor”.
O mundo usa todos os recursos possíveis de sedução e sistematização para conquistar a Igreja pelo poder da atração sexual. Ele implanta um modelo de progresso econômico que ignora a natural e histórica importância da família (que começa no casamento) no estável e contínuo desenvolvimento econônico de um povo por outro modelo, baseado principalmente no estímulo ao consumo egoísta e desenfreado; ou seja, ele tira o foco dos interesses da família para o estímulo individual ao consumismo.
O mundo usa a música, teatro, cinema e televisão (em algumas situações, até esportes) para promover a nudez, culto do corpo e estilos de vida sexualmente orientados. O mundo usa a moda para inflamar a sensualidade, e usa os recursos da ciência para evitar ou curar as doenças decorrentes da promiscuidade sexual, e contornar as dificuldades surgidas em um relacionamento sexual não protegido pelo casamento, como os “filhos indesejaveis”.
Se não bastassem estes variados recursos financiados pela prosperidade econômica e viabilizados pelo avanço científico, o mundo também vem usado habilmente os meios de sistematização, ou seja, a educação e legislação. Através da educação, que não está restrita à escola, mas se utiliza dos diversos meios de comunicação como Televisão e Internet, o mundo vai solidificando padrões de vida (especialmente em matéria de sexo) que são contrários aos propósitos de Deus, estabelecidos na Criação e reiterados em sua Palavra, as Escrituras Sagradas.
Quanto mais civilizado o mundo estiver ou parecer, mais eficaz ele será nas suas tentativas de resistir àconquista da Igreja e de conquistar a Igreja. O mundo, quando consegue obter e passar a imagem de civilizado, é contra o roubo de propriedade, contra a violência e o homicídio que também são contrários à Lei de Deus. Entretanto, em matéria de sexo, casamento e família, o mundo consegue, ao mesmo tempo, contrariar profundamente os desígnios de Deus e agradar amplamente o homem, de modo que possa manter satisfeita a humanidade rebelada contra Deus e atrair e seduzir a própria Igreja de Deus.
Ao final, todo sistema rebelado contra Deus reencontra o caos; o roubo, a violência e o homicídio crescem, até que dominem. Os ocultos poderes espirituais do mal que controlam o mundo (Efésios 6.11-12), por algum tempo, para consolidar seus alvos de sedução e sistematização, tambem controlam ou mascaram a manifestação do roubo, violência e homicídio; uma vez consolidada essa conquista, essas pragas começam a operar em grande escala.
Todo sistema rebelado contra Deus é auto-destrutivo, o mundo é auto-destrutivo. Todos os valores, conceitos, e regras contrários aos princípios de Deus, estabelecidos na Criação e confirmados na sua Palavra, são auto-destrutivos. Sexo dissociado ou desvinculado do casamento (casamento conforme a Palavra de Deus) subestima e destrói a família que, sendo redimida em Cristo Jesus, se torna geradora de indivíduos que amam a justiça, e, por isso, odeiam o roubo, a violência e o homicídio.
Quando o processo de educação que contraria os princípios e propósitos de Deus já está suficientemente consolidado, o mundo começa a estabelecer leis contrarias à natureza, razão bom senso e à Palavra de Deus. É neste ponto que o meio de conquista pela perseguição da Igreja (antes abandonado por causa da conquista e estabelecimento da Igreja) pode voltar; como já temos visto acontecer nos últimos anos, cada vez mais frequentemente.
E a igreja, como ela está realizando a sua conquista do mundo? Quando a Igreja fielmente usa seus meios de conquista, a demonstração (obediência à Palavra de Deus) e proclamação (pregação da Palavra de Deus), estes próprios meios contribuem para o sucesso da conquista da Igreja; porque:
§   Atraem, apelam e convencem todos aqueles em quem o Espírito Santo remove o ódio e a rebeldia contra Deus;
§   Mantêm fora da igreja os que em seus corações se permanecem rebelados contra Deus.
Entretanto, se ou quando a Igreja, em algum tempo ou lugar, perde o amor (a Deus e ao próximo), deixando de ser obediente à Palavra de Deus e abandonando a fiel pregação da Palavra de Deus (Apocalipse 2.1-7), o mundo seduz essa igreja, nela se infiltra e cresce dentro dela. Por fim, o mundo, crescendo dentro daquela Igreja, rompe sua última e fina camada (casca); e, pelo menos naquele tempo ou lugar, o mundo completa sua conquista; e a Igreja pode desaparecer.
Considerando, o evangelho que a Igreja contemporânea está pregando (diluído da doutrina bíblica da salvação, descentralizado do Cristo revelado na Bíblia ou apresentando um Cristo desfigurado de sua glória) e o estilo de vida da Igreja (contrário aos valores do Reino de Deus expressos por Jesus Cristo no Sermão do Monte) em geral parece que é o mundo quem está conquistando, especialmente no mundo ocidental, em que ainda vê vestígios de uma “cultura cristã”.
A Igreja pode retomar a posição de conquistadora; porém, para isto, ela precisa voltar a usar os seus meios de conquista: a demonstração e a proclamação; contudo, isto somente acontecerá se a Palavra de Deus de voltar ao seu lugar único e absoluto na vida da Igreja.
Quando a Igreja ama a pregação ou ensino da Palavra de Deus, ela resiste às armas de conquista do mundo (perseguição, sedução e sistematização). Restaurada a pregação da Palavra de Deus ao seu lugar primordial, a Igreja hoje precisa ter especial cuidado com sedução e a sistematição, e especialmente em matéria de sexo, casamento e família, áreas em que a Igreja tem se mostrado mais vulnerável. A Igreja (e cada crente) precisa ter muito cuidado com a música que ouve, ao que vê e ouve no cinema, teatro, televisão, e internet. A Igreja ter cuidado com tudo o que ouve ou lê (venha do jornalismo ou da universidade).
A igreja e suas famílias precisam recuperar a santidade do processo de preparação para o casamento dos seus filhos; pois muitos jovens, ao invés de conquistadores, têm sido conquistados e feitos escravos pela imoralidade sexual.
A Igreja ocidental contemporênea está seduzida pelas promessas de saúde perfeita e riqueza (que partem da maioria de seus próprios pregadores), e seduzida pela expectativa de ser grande e aprovada pelo poderosos do mundo. Muitos na Igreja pensam que a Igreja está conquistando o mundo; mas é o mundo que está conquistando a Igreja. A Igreja somente voltará a conquistar o mundo, se ela mesma for novamente conquistada pelo amor, apreço, desejo, fome e sede da Palavra de Deus.

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